Para tentar conter a escalada dos casos do novo coronavírus, o governo da Itália anunciou a expansão para todo o território nacional das medidas que antes haviam sido aplicadas, majoritariamente, a regiões do norte.
Nesta segunda-feira (09/03), o primeiro-ministro italiano, Giuseppe Conte, comunicou que as providências — como proibição de reuniões públicas e restrições à movimentação de pessoas — passarão a valer para todo o país.
Desde o fim de semana, toda a região da Lombardia, que inclui Milão e abriga mais de 16 milhões de pessoas, passou a ser considerada “zona vermelha”.
Rígidas restrições de movimento estão em vigor até 3 de abril — medida não vista no país desde a 2ª Guerra Mundial.
“O bloqueio foi uma surpresa. Ontem ainda havia muita confusão sobre o que significava, onde podíamos ir, onde não. O Duomo (principal ponto turístico de Milão), por exemplo, estava aberto, mas hoje já fecharam junto com todos os outros museus”, relata Carolina Martins.
Brasileira, ela vive em Milão há três anos com o marido. “Até a semana passada as pessoas estavam saindo, mas nos últimos dois dias mudou bastante. Nós estamos ficando mais em casa também e mantendo a família informada no Brasil todos os dias para evitar sustos e fake news”, conta.
Segundo ela, em Milão, restaurantes e bares estão abertos só até às 18h. Do lado de fora dos supermercados as pessoas fazem filas, permanecendo a um metro de distância umas das outras, e entram em pequenos grupos.
A maioria dos estabelecimentos comerciais disponibiliza álcool gel para os clientes limparem as mãos.
Escolas, universidades, casas noturnas, cinemas, teatros e academias de ginástica estão de portas fechadas. Cruzeiros turísticos suspenderam escalas em cidades do norte da Itália, como Veneza, e viajantes só podem desembarcar se estiverem voltando para casa.
Viagens suspensas
O mineiro Fabiano Bortoni está entre um dos muitos brasileiros que já tiveram de rever planos de viagens para a Itália. “Há meses estava planejando ir para Milão para finalizar meu pedido de cidadania italiana, mas agora mudou tudo e tive de prorrogar a viagem”, conta ele.
Embora os transportes públicos continuem a funcionar normalmente, a drástica redução na circulação de passageiros já é sentida por taxistas e companhias aéreas.
“Desde o fim de semana aqui em Milão vi uma queda de quase 80% das corridas. A Itália está amedrontada”, conta o ítalo-brasileiro motorista de Uber Wenderson Massasso. “Um cliente meu que voa sempre para Londres pegou um avião com 12 pessoas ontem”, continuou ele.
Controles policiais entraram em vigor em estradas, aeroportos, pedágios e estações de trem do norte da Itália.
Só pode se movimentar entre uma cidade e outra quem tem sérios motivos de trabalho, saúde ou estiver voltando para casa. Quem é autorizado precisa preencher uma autodeclaração de saúde junto à polícia.
Multas de 200 euros e penas de prisão são previstas em caso de desobediência.
Entre sábado e domingo, assim que a notícia do fechamento ganhou as manchetes, centenas de pessoas em desespero lotaram trens na estação de Milão rumo ao sul da Itália, com receio de ficarem bloqueadas na zona de alto contágio.
Segundo a Defesa Civil, o número total de contaminados em toda a Itália já soma 7.985 pessoas, e as mortes aumentaram cerca de 50% em um dia, saltando para 463 nesta segunda-feira (09/03). Dos 650 pacientes em terapia intensiva, 399 estão na Lombardia.
Consulado pede calma
Desde o fim de semana, o serviço de plantão do Consulado do Brasil em Milão não registrou nenhum caso de brasileiros em emergência relacionada ao bloqueio.
“Peço a todos os brasileiros residentes no norte da Itália que mantenham a calma neste momento difícil”, afirmou o cônsul brasileiro Eduardo dos Santos, em nota oficial no domingo.
Informações sobre o coronavírus estão sendo publicadas no site e redes sociais do Consulado. O atendimento ao público segue aberto diariamente, mas recomenda-se uso dos correios para casos não urgentes.
Itália declara quarentena em todo o território
Governo impõe restrições ao deslocamento de todos os 60 milhões de cidadãos do país e proíbe aglomerações públicas para tentar conter coronavírus. Habitantes só poderão deixar área em que vivem com justificativa.
Em um esforço para conter a epidemia do novo coronavírus no país, o governo da Itália anunciou na noite desta segunda-feira (09/03) uma série de medidas draconianas que incluem restringir o deslocamento de pessoas em todo o território nacional.
Todas as aglomerações públicas foram proibidas e o governo do primeiro-ministro Giuseppe Conte ainda pediu que os italianos tentem ficar em casa. As pessoas só poderão viajar para uma região diferente daquela em que vivem a trabalho ou em caso de emergência. Para poder se deslocar de uma cidade a outra, os italianos terão que apresentar um formulário que está disponível na internet.
O país ainda suspendeu competições esportivas, inclusive jogos do campeonato italiano de futebol, e determinou que todas as escolas e universidades do país fiquem fechadas até pelo menos 3 de abril.
As medidas atingem ainda cinemas, teatros, museus, casas noturnas e até mesmo eventos como casamentos e funerais. Bares e restaurantes em toda a Itália terão que fechar após as 18h.
O transporte público deve permanecer em operação. O decreto também prevê que as pessoas fiquem a pelo menos um metro de distância das outras em mercados e restaurantes.
As medidas anunciadas hoje estendem a todo o território nacional um decreto já imposto no domingo com restrições similares ao norte do país – incluindo a região da Lombardia e mais 14 províncias. A quarentena nacional vai entrar em vigor na terça-feira, segundo o governo.
Antes da Itália, apenas a China havia colocado em prática um plano tão ambicioso para conter o vírus, impondo em janeiro uma quarentena na província chinesa em Hubei, onde fica a cidade de Wuhan, considerada o epicentro do surto de covid-19. Já a medida tomada hoje pela Itália vai além de qualquer medida executada pelos chineses, colocando efetivamente todo um país em quarentena.
A Itália é o país europeu mais atingido pela epidemia de covid-19 e a segunda nação a registrar mais mortes depois da China, onde a doença se originou. Nesta segunda-feira à noite, o último balanço divulgado pelo governo italiano apontava que pelo menos 9.000 pessoas contraíram a doença. O número de mortes já totaliza 463 – 97 foram registradas apenas nesta segunda-feira.
“Estamos tendo um crescimento importante na infecção e nas mortes”, disse o premiê Conte.
“Todos devemos desistir de algo pelo bem da Itália. Temos que fazer isso agora, e só poderemos se colaborarmos e nos adaptarmos a essas medidas mais rigorosas “Foi por isso que decidi adotar medidas ainda mais fortes e severas para conter o avanço e proteger a saúde de todos os cidadãos”, completou, num anúncio transmitido em rede nacional nesta noite. “Fiquem em casa”, disse Conte.
No sábado à noite, o anúncio da imposição de uma quarentena no norte do país já havia provocado casos no país. Informações sobre o plano vazaram um dia antes do anúncio oficial, levando milhares de pessoas a deixar a região antes da imposição de controles. No domingo, a região Norte ainda estava recebendo voos de outros locais da Europa e os trens ainda partiam normalmente.
Outras medidas geraram reacções violentas. Pelo menos seis detentos morreram em cadeias italianas após o anúncio da quarentena do norte. Prisioneiros protestaram em pelo menos 23 prisões em todo o país após serem informados de que as visitas estavam suspensas como parte do esforço para conter a doença. Em alguns casos, os presos chegaram a manter guardas como reféns.
Na prisão de San Vittore, em Milão, detentos atearam fogo em um bloco de celas e depois subiram no telhado. Num presídio na cidade de Foggia, no sul, cerca de 20 detentos conseguiram fugir durante o motim. A maior parte foi rapidamente recapturada.
Crédito: Deutsche Welle Brasil – disponível na internet 10q03/2020