“O seu coronavírus”

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 Nestes tempos de pandemia, tenho lido muitas letras a respeito. Por vezes alarmantes, com ideias conspiratórias ou tranquilizadoras, com espírito humanitário. Memes engraçados e declarações preocupantes. Notícias planetárias, escalada, avanço e rapidez do vírus, sua letalidade e a caracterização da sua presença em diversas regiões.   
 

Dizem sempre como sujeito indeterminado que vacinas rapidamente surgirão, pois laboratórios já estariam em ação, uma vez que o vírus “corona” e suas derivações, apesar da preferência por idade de vulneráveis, não faz distinção entre camadas sociais e economicamente distintas, ou seja, atinge também os ricos. O vírus é um fato.

Talvez sua principal função (do vírus) seja a da reflexão, um “freio de arrumação” na civilização que, em tempos de polarizações, guerras comerciais, lutas hegemônicas, com desprezo pelas migrações, descaso com a fome mundial, desdém pelos menos afortunados, abandono de órfãos da cidadania entregues a campos de refugiados, desamparo dos anciões e o abandono de crianças, enjeitamento às regras sociais de convivência harmônica, da diversidade de gênero, étnica e religiosa, culpabilização de ideologias e regimes políticos e a prática da responsabilização de outrem, em plena ebulição, o vírus veio para frear, esfriar, amainar a mediocridade, a falta de valores e ética que assola o mundo.  

Achei um texto interessante para ilustrar essa minha reflexão, não importando aqueles que discordam, pois no fundo nem todos têm a “clareza de entendimento, agudeza de engenho e sagacidade de memória” (Estalo do Pe. Antônio Vieira).

“Corona vírus é o cara mais comunista do planeta: assombra governantes, atores de Hollywood; ‘pega’ rico, pobre, branco, negro, oriental, nativo, imigrante sem distinção; faz todo brasileiro depender do SUS; mostra que o sistema de saúde americano é uma meleca (mesmo o dólar valendo tanto); diminui valor de ações; ensina que não há necessidade de ficar no serviço sentado 8h por dia se você pode trabalhar em casa; mostra o valor dos feriados e fins de semana com a família; faz Cia. aérea que cobrava valor da bagagem baixar preço de passagem; faz todo mundo comprar o mesmo sabão em pó porque não tem outro no mercado; faz a gente dar valor ao pequeno produtor rural de perto de casa; faz o México tomar medidas contra entrada de americanos infectados. Sinceramente, eu nunca pensei que o comunismo viesse em forma de vírus.

Tá todo mundo no mesmo barco, galera! Vamos nos ajudando”. (Mariana Mirault – bióloga e veterinária).

Bem exemplificado, um resumo claro, preciso e espirituoso sobre o vírus, comparando-o ao termo que ainda assusta medíocres em pleno século 21, pois este aqui não se refere à ideologia, esta que se atem apenas como princípio o fim da propriedade privada, mas sua razão social (harmonia e equilíbrio entre os interesses do Estado e os privados), promovendo a justiça em busca da igualdade econômica e social. Uma reflexão sobre as diferenças naturais das classes sociais que procura permitir e estender as oportunidades democraticamente para todos, e sempre tendo em mente que os conceitos e ideais de uma sociedade igualitária provem da antiguidade (Platão) e da concepção originária dos votos de pobreza de adeptos no cristianismo primitivo sobre a vida em comunidade e a convivência igualitária – isto é, bem antes da historia recente (Marx & Engels), abominada pelos reacionários de plantão.

O texto ilustra que perante o vírus, todos a ele estão sujeitos, independentemente inclusive da classe econômica, pois se servirão dos hospitais públicos (aqueles onde servidores “parasitas” mostram sua eficiência), mesmo que sucateados, com orçamentos contingenciados, que agora diante do caos procura-se dotar emergencialmente de meios para conter o avanço da pandemia.

Luiz Fernando Mirault Pinto: Físico e administrador – pesquisador aposentado do Inmetro. [email protected]

Mostra o revertério na economia mundial, em que os financistas se obrigam a redirecionar suas aplicações (equipamentos de segurança epidemiológica e vacinas) e os especuladores surfam a onda da demanda econômica.

Também abre a verdade das mazelas dos sistemas de saúde mundial e suas deficiências hospitalares justo nos países desenvolvidos economicamente, até então camuflada.

Todos nós, sem exceções, temos um vírus de estimação à disposição e pronto para nos infectar; portanto, que cada um cuide do seu, evite contraí-lo a todo custo e, caso aconteça, guarde-o para si, pois aqui a solidariedade é justamente o inverso: não dividi-lo com ninguém.

Crédito: Luiz Fernando Mirault Pinto/Correio do Estado – disponível na internet 07/04/2020

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