Policia Federal, Bolsonaro e Moro

0
105

Em nenhum momento Moro disse que cometi crime, diz Bolsonaro sobre depoimento de ex-ministro.

Moro diz que Bolsonaro pediu chefia da PF no Rio: “Você tem 27 superintendências, quero apenas uma”.

Moro x Bolsonaro: a cronologia de tensões desde 2019, segundo depoimento à PF


Em nenhum momento Moro disse que cometi crime, diz Bolsonaro sobre depoimento de ex-ministro

O presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta segunda-feira que “em nenhum momento” Sergio Moro disse que ele cometeu crime em entrevista à imprensa pouco após ter sido tornado público o depoimento do ex-ministro da Justiça e Segurança Pública realizado no sábado.

“Eu não interfiro em nada”, disse Bolsonaro, na porta do Palácio da Alvorada.

Ao anunciar sua demissão do cargo, no mês passado, Moro acusou o presidente de tentar interferir politicamente na Polícia Federal.

Nesta terça-feira, o presidente disse que não pediu a Moro relatório com informações de “inquérito nenhum”. Em sua fala, Bolsonaro mostrou mensagem de celular trocada com Sergio Moro na qual mencionava uma reportagem que narrava uma suposta investigação no Supremo Tribunal Federal de cerca de 10 deputados bolsonaristas.

 

Segundo o presidente, foi o próprio Moro quem disse que a noticia era “fofoca”. Ao fazer essa declaração, ele insinuou que o ex-ministro é quem tinha acesso a investigações da Polícia Federal.

Bolsonaro disse que ainda não leu a íntegra do depoimento de Moro e que vai se reunir com o advogado-geral da União, José Levi, para avaliar o caso.

O STF abriu inquérito para apurar as declarações de Moro de que Bolsonaro tentou interferir na Polícia Federal

Crédito: Ricardo Brito/Reuters Brasil – disponível na internet 06/05/2020


Moro diz que Bolsonaro pediu chefia da PF no Rio: “Você tem 27 superintendências, quero apenas uma”

 

O ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Sergio Moro informou ter recebido uma mensagem do presidente Jair Bolsonaro em que ele cobrava a substituição do superintendente da Polícia Federal no Rio de Janeiro, Carlos Henrique de Oliveira, segundo íntegra do depoimento prestado por Moro e obtido pela Reuters nesta terça-feira.

 
“Moro você tem 27 Superintendências, eu quero apenas uma, a do Rio de Janeiro”, disse Moro no depoimento prestado no sábado em Curitiba, dizendo que a mensagem enviada por Bolsonaro por WhatsApp tinha “mais ou menos” este teor.

O depoimento de Moro foi dado no âmbito da investigação sobre pronunciamento em que o ex-ministro, ao apresentar sua demissão do cargo, acusou Bolsonaro de tentar interferir na Polícia Federal. O inquérito tramita perante o Supremo Tribunal Federal (STF).

O ex-ministro esclareceu no depoimento que não nomeou e não era consultado sobre as escolhas dos superintendentes da PF. Disse que essa escolha cabia exclusivamente ao então diretor-geral da PF, Maurício Valeixo, e destacou que nem sequer indicou o superintendente da PF do Paraná, Estado de origem dele.

A Procuradoria-Geral da República informou nesta terça-feira que vai investigar, no âmbito do STF, a troca do comando da PF no Rio. Nesta manhã, em entrevista a jornalistas, Bolsonaro confirmou a troca do superintendente da PF naquele Estado.

PRESSÃO

No depoimento, Moro disse que os motivos para a troca do superintendente da PF no Rio deveriam ser questionados ao presidente da República. Ele afirmou ter conversado com Valeixo sobre a solicitação de Bolsonaro e que o então diretor-geral ameaçou se demitir, mas foi demovido.

O ex-ministro afirmou que, “principalmente” após a tentativa frustrada de Bolsonaro de trocar o comando da PF no Rio, o “presidente passou a insistir na substituição do diretor da PF, Maurício Valeixo”.

Moro disse que Valeixo declarou a ele que “estava cansado” da pressão para a sua substituição e para trocar o superintendente da corporação no Rio. Afirmou que, por esse motivo e também para evitar conflito com o presidente, Valeixo disse que concordaria em sair.

“Nesse momento, não havia nenhuma solicitação sobre interferência ou informação de inquéritos que tramitavam no Rio de Janeiro”, declarou.

Moro chegou a admitir no depoimento que, apesar da resistência, cogitou aceitar as trocas, desde que o novo diretor-geral da PF fosse “de sua escolha técnica e pessoa não tão próxima ao presidente”.

“Depois, porém, entendeu que também não poderia aceitar a troca do SR/RJ (superintendente do Rio de Janeiro) sem causa”, complementou o ex-ministro.

Crédito: Ricardo Brito e Lisandra Paraguassu/Reuters Brasil – disponível na internet 06/05/2020


Moro x Bolsonaro: a cronologia de tensões desde 2019, segundo depoimento à PF

No depoimento que prestou à Polícia Federal em 2 de maio, o ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Sergio Moro detalhou as tensões com Jair Bolsonaro (sem partido) desde janeiro de 2019, quando os dois tomaram posse.

Entre os fatos citados pelo ex-juiz, constam a substituição do superintendente da PF (Polícia Federal) no Rio de Janeiro em agosto de 2019 e uma pressão pela substituição do então diretor-geral da corporação, Maurício Valeixo, desde janeiro deste ano.

Confira os embates com o Planalto contados por Moro em depoimento:  
 

Janeiro de 2019: Ilona Szabó

Moro conta que foi Bolsonaro quem solicitou a revogação da nomeação da cientista política Ilona Szabó para uma suplência no Conselho Nacional de Política Criminal do Ministério da Justiça.

A indicação repercutiu negativamente entre parte de apoiadores de Bolsonaro porque Szabó é abertamente contra a flexibilização da posse de armas. Na nota divulgada após a suspensão, Moro pede desculpas à especialista. 

Agosto de 2019: A primeira troca na PF

O ex-juiz diz que o presidente teria solicitado a troca do superintendente da Polícia Federal no Rio de Janeiro, Ricardo Saad. Moro teria concordado com a troca, pois o delegado já havia manifestado interesse em sair. O escolhido da PF para substituí-lo foi Carlos Henrique Oliveira Sousa.

No entanto, Moro conta que, no dia seguinte, o presidente afirmou que era ele quem mandava e que o novo chefe do Rio seria Alexandre Saraiva, da PF em Manaus.

O ex-ministro disse ainda que, diante dessa interferência, o então diretor do órgão, Maurício Valeixo, teria ameaçado deixar o cargo. Moro narra que conseguiu convencer os dois e Carlos Henrique assumiu o posto fluminense, do qual foi exonerado nesta segunda (5).

Janeiro de 2020: O primeiro anúncio da substituição de Valeixo

Moro conta que Bolsonaro pediu novamente a substituição do então superintendente da PF no Rio, Carlos Henrique de Oliveira.

O presidente também anunciou que colocaria Alexandre Ramagem, diretor da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), na direção-geral da PF e que Valeixo iria para uma adidância (representação da PF em outro país).

O então ministro teria respondido que a mudança seria um baque para a credibilidade da Polícia, do governo e do próprio presidente, visto a proximidade de Ramagem à família Bolsonaro. Ele concordou com a troca, desde que o novo escolhido fosse uma escolha menos parcial.

O presidente teria sugerido outros dois nomes, Alexandre Torres e Carrijo —Moro disse que ambos não teriam qualificação para assumir o posto e são igualmente próximos de Bolsonaro.

O assunto só voltaria à baila dois meses depois. 

Março de 2020: “Eu quero apenas uma, a do Rio de Janeiro”

O ex-ministro declarou que estava em missão oficial em Washington, nos EUA, com Valeixo, quando recebeu uma mensagem do presidente, pedindo novamente a substituição na PF do Rio.

“Moro, você tem 27 superintendências, eu quero apenas uma, a do Rio de Janeiro”, diria o texto. Pessoalmente, o presidente teria dito que precisava de pessoas de sua confiança na PF, com quem pudesse interagir, telefonar e obter relatórios de inteligência.

Valeixo teria dito que estava cansado das tentativas de interferência e que deixaria o cargo se tivesse outra troca sem motivo no braço fluminense da corporação.

Moro diz que Bolsonaro também estaria insatisfeito com a condução da superintendência do órgão em Pernambuco —que era chefiada por Carlos Henrique.

22 de abril de 2020: Conselho de ministros

Segundo Moro, durante a reunião de ministros que apresentou o Plano Pró-Brasil, o presidente teria dito que interferiria em “todos os ministérios” e que, se não pudesse trocar a superintendência do Rio, trocaria o diretor-geral e o próprio ministro da Justiça.

23 de abril: As reuniões

Moro relata ter recebido uma mensagem de Bolsonaro com um link de um texto do site O Antagonista, que dizia que a PF estaria “na cola de 10 a 12 deputados do entorno do presidente”. Bolsonaro teria completado: “Mais um motivo para a troca”. As mensagens foram divulgadas por Moro à imprensa.

No mesmo dia, eles se encontraram pela manhã e Moro pediu que o presidente reconsiderasse. Bolsonaro teria lamentado e dito que a decisão já estava tomada.

O ex-juiz conta que se reuniu com os ministros Eduardo Ramos (Secretaria de Governo), Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional) e Braga Netto (Casa Civil) e anunciou que deixaria o governo se a substituição na direção-geral da PF realmente acontecesse. Os generais teriam dito a ele que tentariam convencer o presidente.

À tarde, Ramos teria ligado para Moro perguntando se haveria uma solução intermediária. Moro verificou com Valeixo e os dois concordaram com a nomeação de Disney Rossetti, então o número dois da PF. Ramos disse que veria com o presidente e retornaria a ligação, o que, segundo Moro, não aconteceu.

À noite, Moro teria recebido de fontes extraoficiais a notícia de que Valeixo seria exonerado. Ele teria tentado confirmar as informações com Braga Netto e Ramos. O primeiro teria lhe dito que não sabia, o segundo, que iria verificar e retornar, o que, outra vez, não aconteceu.

24 de abril: A exoneração no Diário Oficial

De madrugada, foi publicada no Diário Oficial a exoneração de Maurício Valeixo com a assinatura de Sergio Moro. No depoimento, ele conta que era ele quem assinava os atos de nomeação e exoneração do Ministério da Justiça e Segurança Pública e que jamais delegou a função a um subordinado.

O ato foi republicado horas depois sem a assinatura de Moro.

Maurício Valeixo teria contado para Moro que recebeu uma ligação do presidente, que perguntou e a demissão poderia constar como “a pedido”. Ele teria dito que já que a decisão já estava tomada, não poderia impedir, mas que jamais requisitou ser exonerado.

Moro, então, deixa o cargo. Segundo ele, o pronunciamento que fez foi para “esclarecer as circunstâncias de sua saída”.

Mais tarde naquele dia, o presidente também discursou, dizendo que Moro teria condicionado sua permanência a uma indicação ao STF, que Valeixo não lhe repassava relatórios da PF e que não houve empenho do órgão para investigar a tentativa de assassinato ao presidente.

No depoimento, Moro diz o mesmo que publicou em suas redes sociais naquele dia, que se esse fosse o caso, teria aceitado a substituição.

Ele conta que os relatórios eram disponibilizados pela Abin em um sistema específico, que poderia ser consultado pelo presidente quando quisesse e que, no primeiro semestre de 2019, se reuniu com a PF de Minas Gerais, que apresentou as conclusões do caso. Moro diz que, na época, o presidente não fez qualquer objeção ao caso.

Ele contou também que havia repassado ao presidente, guardado o devido sigilo, informações sobre as investigações que envolvem o ministro do Turismo Marcelo Álvaro Antônio, suspeito de organizar um esquema de candidaturas laranjas do PSL na eleição de 2018, e o senador Fernando Bezerra (MDB-PE), investigado por supostamente receber propinas de empreiteiras.

02 de maio: O depoimento à PF

O ex-ministro depôs na sede da Polícia Federal em Curitiba neste sábado (2), após a Procuradoria-Geral da República (PGR) instaurar inquérito para apurar suas falas durante o pronunciamento de despedida.

Moro reitera que não acusou o presidente de nenhum crime e que disponibilizaria seu celular para a investigação. Ele avisa, porém, que apenas algumas mensagens estarão disponíveis — ele adotou o hábito de apagá-las periodicamente após ter mensagens capturadas por hackers em 2019.

Crédito: Anna Satie/ CNN Brasil – disponível na internet 06/05/2020

DEIXE SEU COMENTÁRIO

Por favor, insira seu comentário!
Por favor, digite seu nome!