Decotelli pede demissão do MEC após polêmicas sobre currículo

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Cinco dias após ser nomeado para substituir Weintraub, ministro da Educação entrega o cargo em meio a revelações de falsidades em sua experiência acadêmica e acusação de plágio em dissertação de mestrado.

O novo ministro da Educação, Carlos Alberto Decotelli, entregou sua carta de demissão ao presidente Jair Bolsonaro na tarde desta terça-feira (30/06), cinco dias após ser nomeado para o cargo.

Ele deixa o MEC depois de uma série de polêmicas sobre títulos acadêmicos que dizia possuir, mas que acabaram sendo desmentidos por instituições de ensino mencionadas em seu currículo. O ministro também foi acusado de plágio em sua dissertação de mestrado na Fundação Getúlio Vargas (FGV).

Após as revelações, o Planalto passou a avaliar como insustentável a permanência dele no cargo. Mesmo assim, Bolsonaro teceu elogios a Decotelli na segunda-feira, após se reunir com seu terceiro ministro da Educação em um ano e meio de governo.

O pedido de demissão é visto como a saída encontrada pelo presidente para a crise gerada pelas contestações das credenciais acadêmicas do substituto de Abraham Weintraub.

Na última sexta-feira, o reitor da Universidade de Rosário, na Argentina, rebateu uma mensagem de Bolsonaro que apresentava Decotelli como doutor pela instituição.

“Precisamos esclarecer que Carlos Alberto Decotelli da Silva não obteve na @unroficial o título de doutor mencionado nesta comunicação”, escreveu no Twitter o reitor Franco Bartolacci, em resposta ao tuíte de Bolsonaro que mencionava o currículo do novo ministro.

“Ele [Decotelli] cursou o doutorado, mas não finalizou, portanto não completou os requisitos exigidos para obter a titulação de doutor na Universidade Nacional de Rosário”, disse posteriormente o reitor, acrescentando que a tese apresentada por Decotelli foi reprovada antes mesmo de chegar à banca avaliadora. “Ela foi avaliada negativamente pelo jurado constituído para tal efeito [avaliar o trabalho]”, disse.

Depois da publicação do reitor argentino, o MEC chegou a encaminhar para diversos veículos um certificado para atestar que “o ministro Carlos Alberto Decotelli da Silva concluiu, em fevereiro de 2009, todos os créditos do doutorado em Administração pela Faculdade de Ciências Econômicas e Estatística da Universidade Nacional de Rosário, na Argentina”.

No entanto, o documento só aponta que ele concluiu as disciplinas do programa, e não esclarece se o ministro apresentou uma tese e obteve a titulação de doutor. Apenas quando a imprensa apontou que o documento em si não constituía uma prova do título de doutor é que Decotelli admitiu nunca ter concluído seu doutorado. Depois, disso ele alterou seu currículo Lattes, excluindo informações como o título da tese e o nome do orientador. Também incluiu a informação “sem defesa de tese”.

No sábado, foi a vez de aparecerem indícios de plágio na dissertação de mestrado de Decotelli. Eles foram encontrados pelo professor universitário Thomas Conti, do Insper, que afirma que a dissertação contém passagens inteiras de um relatório administrativo do Banrisul na Comissão de Valores Mobiliários (CVM), sem qualquer tipo de citação ou referência bibliográfica.

Conti divulgou o achado em sua conta no Twitter, onde publicou trechos comparando a dissertação e o relatório da CVM.

Em resposta, o Ministério da Educação disse, em comunicado, que “o ministro refuta as alegações de dolo, informa que o trabalho foi aprovado pela instituição de ensino e que procurou creditar todos os pesquisadores e autores que serviram de referência”. “Caso tenha cometido quaisquer omissões, estas se deveram a falhas técnicas ou metodológicas”, acrescenta a nota.

Bolsonaro também havia informado que Decotelli era “pós-doutor (sic) pela Univerisdade de Wuppertal”, na Alemanha, informação que estava estampada no currículo Lattes do ministro até segunda-feira.

Questionada sobre a experiência de Decotelli na instituição, a Bergische Universität Wuppertal confirmou que o ministro passou apenas três meses ali, a partir de janeiro de 2016, realizando uma pesquisa sob a orientação de uma professora responsável pela cadeira de teoria do design.

O período apontado pela universidade é significativamente menor do que aquele que era apontado pelo ministro no seu currículo Lattes. A plataforma concentra dados de acadêmicos no Brasil, e a responsabilidade pelo preenchimento é dos próprios autores.

Após a controvérsia envolvendo seu doutorado, o ministro apagou vários dados, mas antes havia atestado uma ligação com a universidade entre 2015 e 2017 – período bem superior aos três meses –, afirmando que a experiência constituía um “pós-doutorado”.

Nesta segunda-feira, o ministro eliminou todas as frases que falavam de um pós-doutorado e removeu menções que especificavam seu período em Wuppertal. Ele substituiu, por exemplo, a frase “realizou seu pós-doutorado em Wuppertal” por “construiu um projeto de pesquisa que foi submetido à Universidade de Wuppertal”.

Segundo apurou o jornal Folha de S. Paulo, o nome mais cotado para substituir Decotelli à frente do MEC é o do atual reitor do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), Anderson Correia.

Também seriam possíveis candidatos o secretário de Educação do Paraná, Renato Feder, o assessor do MEC Sérgio Sant’Ana e Antônio Freitas, que integra o Conselho Nacional de Educação (CNE) e é pró-reitor da FGV. O nome de Freitas é relacionado como orientador do doutorado não concluído por Decotelli.

Crédito: Deutsche Welle Brasil – disponível na internet 01/07/2020

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