Dia da proteção às florestas: A importância do médico veterinário e do zootecnista

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No dia 17/07 foi comemorado o Dia da Floresta

Ao ser chamada para escrever um artigo sobre o Dia da Proteção às Florestas, senti uma mistura de entusiasmo e tristeza. Entusiasmo porque minha formação e minha natureza sempre me instigaram a, de uma forma ou de outra, falar sobre este tema. Mas a tristeza vem quando vejo que a maioria dos brasileiros prefere ir à Disney a conhecer a Amazônia.

É sério! Quantas pessoas vocês conhecem que foram passar férias no meio de uma floresta tropical? Quantos brasileiros realmente conhecem as florestas que ainda restam no país? Quantos se importam com a destruição que está sendo feita nesses biomas?

Penso que falar em proteção da floresta sem conhecê-la, sem se encantar com a sua majestosa biodiversidade, soa como um amontoado de palavras soltas e números vazios. Porque, sinceramente, nós só defendemos aquilo que conhecemos e amamos.

Imagem disponível na internet

O Dia da Proteção às Florestas, comemorado em 17 de julho, tem o objetivo de conscientizar sobre a importância da preservação das florestas. Também é o dia do Protetor das Florestas presente em nosso folclore, o Curupira. Figura lendária de cabelos vermelhos e pés virados para trás, que protege a floresta contra constantes agressões do homem. Segundo a lenda, os caçadores eram atraídos pelo Curupira e se perdiam na mata, nunca mais causando problemas. Ele também teria o poder (maravilhoso) de ressuscitar animais mortos pelo homem. Infelizmente, o Curupira é apenas uma lenda que ajudou a preservar a floresta anos atrás, quando as pressões para sua destruição não eram tão fortes. Na realidade, os verdadeiros protetores da floresta têm sido mortos há décadas por garimpeiros e proprietários de terra, tais como Chico Mendes e Dorothy Stang. Sendo o Brasil o país mais perigosos para defensores da terra e do meio ambiente, de acordo com relatório da organização internacional Global Witness divulgado em matéria do jornal O Globo em 2018.

As florestas, muito mais do que áreas verdes de contemplação e lazer, são espaços de importância ímpar para todos os seres que habitam o planeta. Elas cobrem cerca de 30% da superfície terrestre, desempenhando um papel crucial no equilíbrio ecológico. São elas as responsáveis pela regulação da temperatura global e do regime de chuvas. Através dos rios aéreos formados em grandes extensões de florestas, conseguimos ter chuvas regulares para a atividade agropecuária em outras regiões. Além disso, as florestas guardam em si uma variedade imensa de seres de importância ainda nem estudada. Dentro de uma floresta, pode estar a cura para uma doença que afeta a toda a humanidade, como o Covid-19.

Infelizmente, o ritmo de estudos que demonstrariam a importância de nossas matas é lento quando comparado ao ritmo de sua destruição.

De acordo com o Portal G1, matéria de 2 de julho de 2020 (por Elida Oliveira), “em 33 anos, Amazônia perdeu 724 mil km² de floresta e vegetação em região que abrange nove países “. De acordo com o relatório do Map Biomas, divulgado no dia 2 de julho de 2020, o Brasil que concentra a maior parte do bioma amazônico (61,8%), foi também o país que mais perdeu cobertura florestal: são 624mil km² a menos. De acordo com a reportagem, no mesmo período, a área voltada para a agricultura e pecuária teve aumento de 172% no bioma, sendo que a maior parte deste crescimento também veio do Brasil. “O desmatamento, nesse período, aumentou sobre as unidades de conservação e territórios indígenas, que funcionam como barreiras de proteção à floresta”.

Junto a isso, tivemos o recorde de focos de queimadas na Amazônia no mês de junho deste ano. Foram 2248 focos, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). E vemos também, no início desse mês, o fogo devastando grandes áreas no Pantanal de Mato Grosso do Sul.

Mas como disse de início, são números e dados vazios para quem não entende a importância das florestas. De acordo com a ex-Ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, “O Brasil é uma potência agrícola porque é uma potência hídrica, e só é uma potência hídrica porque é uma potência florestal. Sem a floresta vamos entrar num processo dramático, não só em relação à agricultura, mas da própria indústria”. Essa citação explica de forma sucinta porque a questão da proteção às florestas é muito mais que um tema de ambientalistas, mas também um tema importantíssimo para a economia brasileira. E é aí que Médicos Veterinários e Zootecnistas podem e devem fazer a diferença.

Quem sabe se entendêssemos a nossa responsabilidade como profissionais do campo e, ao mesmo tempo, da área da saúde poderíamos mudar a forma como a floresta é vista pelo setor agrário do país. Sim! Médicos Veterinários e Zootecnistas são os profissionais que podem fazer essa ponte entre a exploração agropecuária e a proteção ambiental. Nós temos a responsabilidade de salientar que a produção agropecuária não pode e não deve ser contrária à proteção das florestas. Isso porque o setor agrário depende da floresta.

Mas isso só será possível no momento em que nós mesmos entendermos que a floresta em pé tem um valor imensurável, tanto na proteção ambiental, quanto na balança comercial. Enquanto isso, dependemos de investidores estrangeiros a nos ensinarem, através de pressões comerciais, a preservarmos as nossas matas. Até quando?

Somos nós, Médicos Veterinários e Zootecnistas, os profissionais que podem ajudar nesse processo. Principalmente, no momento em que assistimos de mãos atadas o surgimento de uma grande pandemia causada por um vírus que, ao que tudo indica, veio da floresta. O Coronavírus (Sars-CoV-2), segundo pesquisas, chegou até nossa espécie devido à exploração e desmatamento desordenados que aumentaram o contato entre o ser humano e os animais silvestres. Algo comum na China, mas também no interior desse nosso Brasil, não é mesmo? Então, o vírus poderia ter surgido aqui? Nós sabemos que sim! E sabendo disso, nós podemos mudar esse cenário! Podemos ajudar na melhoria das técnicas pecuárias para que haja melhor proveito do solo e da criação de animais, garantindo tanto a preservação das matas quanto o bem-estar deles. Também somos nós que podemos atuar em políticas públicas de proteção ambiental e de vigilância sanitária, coibindo o consumo e o tráfico de animais silvestres, regulando fronteiras e prevenindo novos surtos.

Mariana Coelho Mirault Pinto -Médica Veterinária e Bióloga. Mestre em Ecologia e Conservação. Membro da Comissão Estadual de Meio Ambiente do CRMV-MS

Sim colegas! Nós temos o conhecimento e a paixão para ajudarmos a resolver esses problemas. Nós somos imprescindíveis nesse momento! E está na hora de buscarmos uma economia verdadeiramente sustentável. Só precisamos entender a nossa responsabilidade, seja protegendo uma grande floresta tropical ou uma pequena área urbana dentro da nossa cidade; seja lutando pela criação de um parque nacional ou pela preservação de uma pequena reserva na fazenda onde trabalhamos.

Que voltemos a ser crianças, porque as crianças têm olhos que se encantam! Que a floresta nos encante novamente, para mudarmos a forma como essa “gente grande” a enxerga. Porque juntando o nosso encantamento à bagagem de conhecimento que adquirimos, seremos os novos Curupiras!

Feliz Dia da Proteção das Florestas.

Crédito: Mariana Coelho Mirault Pinto/CRMV/MS – disponível na internet 20/07/2020

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