Baloeiros invadem o Galeão e trocam tiros com policiais atrás de artefato que poderia ter causado ‘acidente aéreo de proporções gigantescas’

0
376

Dois homens foram presos; restante do grupo, que disputava prêmio de R$ 5 mil pelo balão, conseguiu fugir da Polícia Federal num barco. Especialista diz que ‘ação estapafúrdia’ poderia ter causado ‘consequências imprevisíveis’

 Um grupo de baloeiros armados invadiu o Aeroporto Internacional do Galeão no fim da noite desta segunda-feira, por volta das 23h, com carros e motos atrás de um balão de cerca de 18 metros que caiu na pista e, de acordo com as polícias Federal e Civil, poderia ter causado um acidente aéreo “de proporções gigantescas”. Além do risco de uma tragédia, os crimonosos, que buscavam o artefato que entre as quadrilhas valia um prêmio de R$ 5 mil, ainda trocaram tiros com os policiais. Dois foram presos e o restante do grupo conseguiu fugir num barco.

A ação, contam a PF e a Civil, foi notada quando policiais de plantão no Galeão receberam a informação da invasão e detectaram a movimentação dos bandidos nas câmeras de segurança do aeroporto. Os baloeiros chegaram a trocar tiros com os policiais, antes de dois deles serem presos. De acordo com a dupla, o bando estava em busca do artefato chamado entre eles de “balão painel”. Segundo os investigadores, tratava-se de um balão disputado entre grupos de baloeiros, sob a recompensa de R$ 5 mil e até um troféu para quem conseguisse resgatá-lo “a qualquer custo”. Fotos divulgadas pela PF mostram o artefato caído sob a pista do aeroporto.

“A ousadia destas pessoas foi tamanha que além dos vários veículos que invadiram o Aeroporto Internacional, os marginais utilizaram na fuga, inclusive uma embarcação marítima que conseguiu, após trocar tiros com os policiais civis e federais, escapar pela Baía de Guanabara”, conta trecho da nota divulgada pela Polícia Federal.

Em nota, a concessionária RIOGaleão afirmou que as atividades não foram afetadas, e que colabora com as autoridades sobre o incidente. O comunicado, ao contrário das versões das polícias Civil e Federal, diz que a invasão foi impedida:

“O RIOGaleão esclarece que, ontem à noite (20/07), uma ação coordenada entre a segurança da concessionária e os órgãos públicos de segurança impediu a invasão de um grupo de pessoas ao sítio aeroportuário. Duas pessoas foram presas ao tentar entrar em área restrita sem autorização. O RIOgaleão ressalta que colabora com as investigações da Polícia e que já forneceu imagens das câmeras de segurança para apuração do caso. A operação do Aeroporto Internacional Tom Jobim não foi afetada”.

Horas depois da divulgação da dinâmica da ação ter sido divulgada pela Polícia Federal e no site da Polícia Civil, com as mesmas informações, a PF, no entanto, mudou a versão à noite, por volta das 20h, através de uma nota de esclarecimento, onde diz que não houve invasão nem uso de veículos:

“Não houve invasão de carros e motos nas áreas restritas do aeroporto internacional, durante tentativa de resgate de balão que caiu em área de mata do Galeão, as margens da Baía de Guanabara na noite do dia 20/07/2020. Parte das pessoas que tentavam o resgate do balão conseguiram adentrar nesta área após pularem o conjunto de cercas do seu entorno, mas foram repelidas pelas Polícias Federal e Civil, após troca de tiros. Nesta ação duas pessoas foram presas e o balão apreendido”.

‘Consequências imprevisíveis’

Para Moacyr Duarte, especialista em análise e gerenciamento de riscos, os riscos eram grandes e com consequências imprevisíveis, e houve atraso na resposta da polícia, que, a partir desta ação, deve passar atentar-se melhor para este tipo de situação, principalmente neste momento, temporada em que estas gangues mais atuam.

– O balão é proibido, entre outros motivos, porque ele afeta o tráfego aéreo. Isso todos nós já sabemos. O que não sabíamos é que os baloeiros conseguiriam invadir pistas de aeroporto. Todas as instalações ou indústrias localizadas em áreas grandes devem também pôr as barbas de molho agora: com esse cenário, se eles invadiram um aeroporto, qual área não invadirão atrás de um balão? – questionou.

O pesquisador surpreendeu-se com a ousadia dos criminosos, que entraram com carro e morto e conseguiram fugir ainda numa embarcação.

– Os baloeiros entraram de carro e moto, ostensivamente, então o sistema de identificação via câmera e o sincronismo de resposta efetivamente foi algo que tardou. Segundo a polícia, eles já tinham entrado quando foram notados, então eles arrombaram alguma entrada ou entraram por algum ponto descoberto, o que eu acho difícil num ambiente tão controlado. Eles tiveram tempo para efetivar a ação – disse. – Me chamou muita atenção também eles fugindo de barco. A área de proteção marítima ali do Galeão é enorme, e não ter uma resposta com meio prático… é tudo muito estranho.

Duarte falou também sobre os riscos da invasão: grandes e de consequência imprevisíveis.

– Quanto à intervenção deles naquele ambiente, poderia fazer, dependendo da posição deles ou do balão, com que um avião arremetesse, por exemplo, ou que até mesmo transformasse um pouso tranquilo num pouso de emergência com consequências imprevisíveis. Naquela troca de tiros, pilotos estrangeiros poderiam achar até que tratava-se de uma ação terrorista.

– A impressão que eu tenho é que o estado de alerta da defesa não era proporcional ao que de fato aconteceu: e proporcional ao que eles acham que pode acontecer. Como esse cenário dessa invasão é completamente estapafúrdio, isso não devia estar no radar deles. Espero que daqui para frente, principalmente nesta época do ano, temporada de baloeiros, eles façam agora um plano de emergência, contingência: monitorem de fato quando um balão tem potencial de chegar à área. Caso aconteça, que já cerquem-se as entradas, para evitar invasões – concluiu.

Após as formalidades na Delegacia do Aeroporto Internacional, os presos foram autuados no artigo 42, da Lei de Crimes Ambientais, Artigo 261 (expor a perigo embarcação ou aeronave, própria ou alheia, ou praticar qualquer ato tendente a impedir ou dificultar navegação marítima, fluvial ou aérea) e associação criminosa. Não há fiança. Eles foram encaminhados à Seap, onde ficarão à disposição da Justiça

Crédito: Arthur Leal /O Globo – disponível na internet 22/07/2020

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui