De Bem com a Vida: Entenda como pessoas que não tiveram Covid-19 podem ter imunidade ao vírus

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O sistema imunológico de algumas pessoas que não foram expostas ao novo coronavírus podem ter familiaridade com o patógeno — fato que possivelmente ajuda a reduzir a severidade da Covid-19 no organismo que contraia a doença, um novo estudo sugere.

Publicado pela revista Nature na quarta-feira (29), o estudo encontrou, entre 68 amostras de adultos saudáveis na Alemanha que não haviam sido expostos ao coronavírus, que 35% deles possuíam células T no sangue que eram reativas ao vírus.

As células T, também conhecidas como linfócitos T, são uma parte do sistema imunológico que ajuda o organismo a se defender de infecções. A reatividade delas sugere que o sistema provavelmente teve uma experiência prévia combatendo alguma infecção similar e pode usar a memória para reagir à uma nova ocorrência. 

Então como o sistema imune dos pesquisados possui células T reativas se eles nunca tiveram Covid-19? Eles “provavelmente as adquiriram em infecções prévias de outros tipos endêmicos de coronavírus”, escrevem os pesquisadores, de diversos institutos na Alemanha e no Reino Unido, no novo estudo. Usar a memória dessas células T de outras ocorrências similares para responder a uma nova infecção é um processo chamado “reatividade cruzada”.

O papel das células T

A nova pesquisa analisou amostras de sangue de 18 pacientes infectados com a Covid-19, entre as idades de 21 a 81 anos, e doadores saudáveis, todos na Alemanha. O estudo descobriu que células T reativas ao coronavírus foram detectadas em 83% dos pacientes doentes.

Mesmo que os pesquisadores tenham encontrado células T pré-existentes com reatividade cruzada nos doadores saudáveis, eles também mencionam no estudo que o impacto possível das células na progressão de um adoecimento por Covid-19 ainda é desconhecido.

“As descobertas da pesquisa instigam o prosseguimento dos estudos”, afirmou o dr. Amesh Adalja, docente no Centro de Segurança na Saúde da Universidade Johns Hopkins, que não está envolvido no novo estudo.

“Nós sabemos, por exemplo, que crianças e jovens adultos estão relativamente mais protegidos de consequências severas dessa doença, e eu acho que uma hipótese relevante é de que as células T pré-existentes podem ser muito mais numerosas ou mais ativas em pessoas jovens”, diz Adalja.

“Se pudéssemos comparar versões mais severas e mais leves da doença, observar as células T nesses indivíduos e dizer ‘Pessoas com formas mais graves do coronavírus são menos prováveis de possuir linfócitos T reativos versus pessoas que desenvolvem versões mais leves talvez tenham mais?’, eu acredito que essa é uma hipótese biologicamente plausível”, diz. “É claro também que a presença dessas células não previne pessoas de serem infectadas, mas elas podem modular a severidade da infecção? Esse parece ser o caso.”

Até então, durante a pandemia do coronavírus, o foco tem sido em anticorpos contra a Covid-19 e o papel que desempenham construindo imunidade contra a doença.

Mas o dr. William Schaffner, professor de medicina preventiva e doenças infecciosas na Escola de Medicina da Universidade de Vanderbilt em Nashville, que não está envolvido no novo estudo, diz que as células T não podem ser esquecidas.

“Aqui está uma pesquisa que sugere que pode realmente existir uma reatividade cruzada nos coronavírus que causam resfriados em seres humanos e no vírus da Covid, que está causando tanto estrago. Isso é muito intrigante, pois nós pensávamos que na perspectiva dos anticorpos não havia cruzamentos relevantes”, Schaffner declarou.

“Não é totalmente surpreendente, porque são todos membros de uma mesma família. É como se fossem primos”, ele disse. “Agora temos que observar se há algum impacto disso na prática… Isso torna mais ou menos provável que a pessoa que é infectada pela Covid realmente desenvolva a doença? E tem algum impacto no desenvolvimento de uma vacina?”

Encontro com um coronavírus

Adalja disse também que não estava surpreso por encontrar reatividade cruzada nas células T em participantes do estudo que não foram expostas ao recente coronavírus, nomeado SARS-CoV-2.

“O SARS-CoV-2 é o sétimo coronavírus que infecta humanos descoberto, e quatro desses são o que chamamos de coronavírus ‘coletivamente adquiridos’. Juntos, eles são responsáveis por 25% dos resfriados comuns”, Adalja informou. “Quase todas as pessoas no mundo tiveram algum encontro com um coronavírus, e sendo eles parte da mesma família, alguma reatividade cruzada é desenvolvida”.

O novo estudo da Nature não é o único a sugerir um certo nível de imunidade pré-existente entre algumas pessoas ao novo coronavírus.

Alessandro Sette e Shane Crotty, ambos da Universidade da Califórnia em San Diego, escreveram em um comentário publicado na revista no começo desse mês que “entre 20 e 50% dos participantes do estudo não infectados previamente demonstram significativa reatividade aos antígenos peptídicos da SARS-CoV-2”, baseados em uma outra pesquisa – mas destacam que a fonte e a relevância clínica da reatividade permanecem desconhecidas.

Sette e Crotty escreveram que “está estabelecido que a imunidade pré-existente ao SARS-CoV-2 existe em algum grau na população. É hipotético, e ainda precisa ser provado, que isso se deve à imunidade a coronavírus mais comuns, que causam resfriados.”

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Crédito: Jacqueline Howard, da CNN – disponível na internet 31/07/2020

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