Após a conclusão, essa instalação poderá começar a gerar o “plasma” superaquecido necessário para a produção de energia.
A instalação, de £18,2 bilhões (R$ 121 bilhões), está em construção em Saint-Paul-lez-Durance, no sul da França.
Defensores dizem que a fusão pode ser uma fonte de energia limpa e ilimitada que ajudaria a enfrentar a crise climática.
O Iter é uma colaboração entre vários países: China, União Europeia, Índia, Japão, Coreia do Sul, Rússia e Estados Unidos. Todos esses membros compartilham o custo da construção.
A atual energia nuclear depende da fissão, em que um elemento químico pesado é dividido para produzir elementos mais leves.
A fusão nuclear, em contrapartida, funciona combinando dois elementos leves para criar um mais pesado. Isso libera grandes quantidades de energia com muito pouca radioatividade.
A ideia básica é pegar um tipo de gás hidrogênio, aquecê-lo a uma temperatura superior a 100 milhões de graus até que ela forme uma fina e frágil nuvem chamada plasma, para então controlá-la com ímãs poderosos, de modo que os átomos se fundam e gerem energia.
O Iter deixará o plasma quente confinado em uma estrutura chamada Tokamak, para controlar as reações da fusão.
O projeto tem como objetivo ajudar a demonstrar se a fusão pode ser comercialmente viável. O presidente da França, Emmanuel Macron, disse que o esforço unirá os países em torno de um bem comum.
A instalação poderá ter o plasma ser gerado na máquina (uma noção de início das operações) logo após o término da fase de montagem, em 2025.
“O Iter é claramente um ato de confiança no futuro. Os maiores avanços da história sempre decorreram de apostas ousadas, de jornadas repletas de dificuldades”, disse Macron.
“No início, parece sempre que os obstáculos serão maiores que a vontade de criar e progredir. O Iter pertence a esse espírito de descoberta, de ambição, com a ideia de que, graças à ciência, amanhã pode ser realmente melhor que ontem.”
Ian Chapman, executivo-chefe da Autoridade de Energia Atômica do Reino Unido (UKAEA, na sigla em inglês), disse à BBC News: “É uma fase extremamente empolgante do projeto. A maioria de nós acredita que a fusão pode mudar o mundo, fazendo uma enorme diferença em como gerar energia limpa às gerações futuras. Todos sabemos que precisamos da Iter para ter sucesso”.
“Esperamos ver o primeiro plasma em cinco anos. Isso será apenas um plasma curto, com duração de alguns milissegundos, demonstrando que todos os ímãs funcionam. Então haverá uma nova etapa de montagem de alguns dos outros componentes… No entanto, é o caminho para demonstrar a fusão em escala comercial.”
Chapman lidera o programa de pesquisa de fusão por confinamento magnético da Grã-Bretanha no Centro Culham de Energia de Fusão (CCFE), que opera o Joint European Torus, ou Jet. A máquina de fusão da Iter é, em muitos aspectos, uma versão em escala do Jet.
A fusão, no entanto, também tem seus céticos. Torná-la comercialmente viável tem sido difícil porque os cientistas têm lutado para obter energia suficiente nessas reações.
Os defensores acreditam que o Iter pode superar os obstáculos técnicos e que, dados os desafios planetários que estão sendo enfrentados, a fusão vale a despesa e o esforço.
O Reino Unido é membro do projeto Iter, mas isso pode mudar porque o governo britânico retirou-se do tratado Euratom como parte do Brexit, o processo de saída britanica da União Europeia. O Reino Unido só poderia ficar se fosse encontrada uma nova maneira de manter seu envolvimento até o final da transição do Brexit.
Mas o Jet continuará operando por enquanto. “Assinamos um contrato com a Comissão Europeia para continuar a operação do Jet no ano passado.”
O contrato abrange experimentos em 2021 com deutério e combustível de trítio, as mesmas variantes de hidrogênio que acabarão alimentando as reações de fusão de Iter. Além disso, Chapman e seus colegas estão discutindo uma extensão que manterá o Jet em operação até 2024.