A crise do coronavírus foi tão impactante que um microscópico vírus conseguiu levar todo mundo para um outro mundo: online, imediato e sem barreira.
Especialistas ouvidos pelo CNN Séries Originais são unânimes: em alguns setores da economia, a pandemia e o isolamento social adiantaram em dez anos um processo que já estava em curso: a digitalização. Seja o encontro com os amigos, as aulas da escola, as compras e principalmente o trabalho, tudo agora passa pelo digital.
Silveira foi um dos milhares de brasileiros que tiveram sua rotina alterada. Em home office, o publicitário decidiu que era hora de tentar algo novo: viver perto da natureza.
Largou o conforto e a comodidade da Zona Oeste de São Paulo e agora mora no meio do mato em Florianópolis. Esse movimento só foi possível porque a empresa digitalizou todos os processos de trabalho.
Foi assim com boa parte das pequenas e médias empresas no Brasil. Sete em cada dez passaram adotar o home office durante a pandemia.
Economizaram com luz, aluguel e outros gastos e, de quebra, motivaram parte dos trabalhadores. Um terço daqueles que estão em casa trabalhando gostaria de se manter assim para sempre, mostram os dados divulgados pela Capterra e Gartner.
Segundo o professor André Miceli da FGV-RJ, a digitalização do trabalho sempre foi uma discussão não prioritária e que, na cabeça de muitos executivos, seria algo viável apenas no futuro.
A pandemia obrigou a revisão deste assunto e graças à tecnologia, que já estava disponível, cada vez mais os profissionais poderão trabalhar da onde bem entender.
“O home office veio pra ficar, na verdade ele já estava a caminho de ficar, só que enfrentava barreiras culturais, que eram muito relevantes. As empresas tinham resistência por ter mais dificuldade de controlar parte da sua produção, e algumas pessoas tinham resistência sobre se sentiriam parte do time, ou por medo de que esse afastamento acabasse significando uma demissão”, afirma Miceli.
Estudo feito pela empresa especializada em análise de clima corporativo Pulses, mostra que “alguns preditores do engajamento cresceram” no meio da crise.
“Aqueles [indicadores] que estão relacionados a propósito, ou seja, o quanto eu me sinto alinhado com a empresa, aumentaram mais de 10% com os funcionários dentro de casa”, explica o responsável pela pesquisa, Cesar Nanci.
O estudo, disponibilizado online em um sistema dedicado às empresas, reuniu informações de mais de 220 mil pessoas.
As descobertas feitas mostraram inclusive a necessidade de criação de cargos que sequer existiam. Antes da pandemia ter um chefe de trabalho remoto não estava nem no horizonte de muitas empresas.
Angela Mansim assumiu este papel logo após a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarar situação de pandemia pelo novo coronavírus, em março. De Bali, na Indonésia, ela comanda um time de designers no Brasil e dá uma dica:
“A comunicação no remoto tem que se intensificar mais ainda porque a gente precisa comunicar coisas que, no presencial, a gente deixa passar, mas no remoto é super importante. Com o meu cargo, tento criar ambientes para que consiga falar sobre o dia a dia e ter essa troca”, explica Mansim.
No entanto, para o doutor em psicologia comportamental, Luiz Hanns, o trabalho remoto não é para todo mundo.
“As pessoas que estão de home office têm até intensificado o trabalho, aumentou na exigência de prazos, relatórios, produtividade. As pessoas se sentem até mais estressadas, têm reuniões em horários mais difíceis e têm que ainda administrar a própria casa. Então, para a maioria das pessoas que eu tenho escutado, o home office não significou uma liberdade maior”, diz.
Apesar da revolução digital ter sido acelerada com a pandemia e ter mudado formas, processos e estruturas, há algo que a tecnologia não pretende substituir: o que há de mais humano em cada um de nós.
Crédito: César Rosati da DOC. Films, especial para a CNN – disponível na internet 31/08/2020