O Grupo de Conjuntura do Ipea revisou a taxa de inflação de 3,5% para 4,4% em 2020. A expectativa é de que os preços dos serviços encerrem este ano com uma variação positiva de 2,0%. Já os preços monitorados devem apresentar alta de 2,5%, e os bens livres (exceto alimentos) de 2,6%. Em relação a 2021, a projeção de inflação passou de 3,3% para 3,4%.
As estimativas para a atividade da economia em novembro indicam crescimento da produção industrial de 1,8% na série sem efeitos sazonais, enquanto as vendas no comércio e o volume de serviços teriam registrado altas de 1,7% e 2,5%, respectivamente.
O desequilíbrio fiscal continua sendo um grande desafio para a economia brasileira. O aumento de gastos para reduzir os efeitos da pandemia de Covid-19 deve produzir um déficit primário da ordem de 12% do PIB em 2020, levando a dívida pública para mais de 90% do PIB. Os gastos autorizados pela União no enfrentamento à pandemia foram de R$ 508,38 bilhões no acumulado de março a dezembro – sendo R$ 328,70 bilhões de investimentos em assistência social. O cumprimento do teto de gastos em 2021 exigirá um grande esforço de articulação para viabilizar as políticas públicas num contexto de forte compressão das despesas discricionárias.
Nessa edição, a análise da conjuntura incluiu indicadores relacionados à dinâmica epidemiológica da Covid-19 no Brasil. A partir de novembro, a pandemia entrou em uma nova fase de aumento dos números de casos confirmados e de óbitos por Covid-19 no país. O aumento recente dos casos e óbitos ocorreu na maior parte das regiões, mas afetou de forma particularmente relevante as regiões Sul e Sudeste. No caso da região Sul, os números de casos novos e de óbitos por 100 mil habitantes atingiram em dezembro seus maiores valores desde o início da pandemia. No Sudeste, a taxa de novos casos por 100 mil habitantes vem crescendo e atingiu 17,4 no período de sete dias encerrado em 17 de dezembro, já próxima do pico anterior observado em agosto (19,6).
O texto menciona que é possível que a evolução da crise sanitária leve alguns estados ou municípios a retomarem medidas de restrição a certas atividades econômicas e sociais, o que poderia desacelerar a retomada em alguns segmentos, notadamente no setor de serviços. “A dificuldade de se prever a evolução da pandemia e os desafios do processo de consolidação fiscal são as principais fontes de incertezas para as projeções de crescimento da economia brasileira em 2021”, sinalizou o diretor de Estudos e Políticas Macroeconômicas do Ipea, José Ronaldo Souza Júnior.
Íntegra da Visão Geral da Carta de Conjuntura 201221_cc_49_nota_33_visao_geral
ASCOM IPEA 22/12/2020
Ipea: processo de retomada será desigual e dependerá da vacinação e do fiscal
A economia brasileira mostra recuperação da recessão provocada pela pandemia de covid-19 irregular desde setembro, com produção industrial e varejo com reação mais forte. Contudo, o setor de serviços, que é o que mais emprega e tem maior peso na composição do Produto Interno Bruto (PIB), e o mercado de trabalho ainda indicam que haverá um lento e gradual processo de recuperação, de acordo com dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). O órgão aponta dois fatores pelo caminho para que o crescimento daqui para frente seja mais robusto e de forma mais sustentável: a vacinação em massa e o reequilíbrio fiscal.
“A gente está projetando uma retomada da atividade, mas os maiores riscos são dois: a própria dinâmica da epidemia, como essa nova disseminação do vírus e dos programas de vacinação, e o risco econômico interno que é a questão fiscal, que é bastante preocupante”, alertou o diretor de Estudos e Políticas Macroeconômicas do Ipea, José Ronaldo Souza Júnior. Ele reforçou que uma vacinação em massa será fundamental para eliminar os riscos da pandemia. Para ele, o problema fiscal é estrutural e um dos principais fatores para o baixo crescimento da economia e, por conta disso, não pode ser ignorado, porque será necessário controlar o aumento do endividamento público, que está muito acima da média dos países emergentes.
“Achar que apenas aumentar os gastos para ajudar no processo de retomada da atividade é um engano, porque o endividamento está muito elevado e o país poderá ter problemas para recuperar os investimentos, pois empresas privadas não conseguem crédito quando o governo, que é o maior devedor, tem dificuldades para reduzir a dívida pública”, pontuou. Ele lembrou que a vacinação não será instantânea e haverá um delay para o impacto dela na economia, sem contar que será um grande desafio vacinar mais da metade da população do país, que tem uma logística desafiadora. “É uma dificuldade natural, diferente da Inglaterra e da Alemanha, que são países pequenos e não possuem áreas isoladas”, explicou.
Conforme dados do Fundo Monetário Internacional (FMI), a dívida pública bruta do Brasil deve ultrapassar 100% do PIB neste ano, enquanto a média de países emergentes deverá subir 52,1% para 61,4% entre 2019 e 2020.
Novas projeções
Segundo o diretor do Ipea, o instituto atualizou as projeções de setembro e passou a prever queda de 4,3% do PIB deste ano, em vez de 5% Para 2021, as previsões também foram revisadas, inclusive, devido à atualização dos dados do PIB deste ano pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Com isso, o órgão passou a prever crescimento de 4% em 2021, sendo que o carrego estatístico da atividade de 2020 para o ano que vem deverá ser 2,7% em termos de crescimento. Antes, a projeção era de alta de 3,6% “As revisões da série do IBGE mudaram o padrão de crescimento da economia”, explicou Souza Jr..
“No mercado de trabalho, os efeitos da recuperação, apesar de visíveis, ainda são modestos, e a perspectiva é que a taxa de desemprego ainda aumente antes de começar a cair – devido ao provável aumento da procura por trabalho em 2021”, destacou o estudo do Ipea divulgado nesta segunda-feira (21/12), prevendo inflação de 4,4% para este ano, acima do centro da meta determinada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), de 4% ao ano.
O técnico do Ipea lembrou que a estimativa para o PIB do quarto trimestre é de avanço de 2,1% no PIB, em relação ao terceiro trimestre, mas de queda de 2,1% na comparação com o mesmo intervalo de 2019.
Pelas projeções do Ipea, o PIB vai encerrar 2021 sem recuperar totalmente do patamar pré-crise, ou seja, de 2019, com o PIB agropecuário crescendo 3,8%, menos do que o PIB no ano que vem. Ele não descarta uma queda do PIB logo no primeiro trimestre, dependendo do sucesso da vacinação em massa e da intensidade dessa segunda onda de contágio que está provocando lockdowns na Europa.
“É difícil prever um crescimento robusto na economia sem a vacinação em massa. Medidas de isolamento poderão acontecer de novo, como ocorre na Europa, e até mesmo a confiança da população poderá ficar prejudicada para um retorno da atividade mais forte, principalmente, do setor de serviços”, afirmou o diretor do Ipea.
Crédito: Rosana Hessel/ Blog do Vicente – @internet 22/11/2020