Há medicamentos que funcionam contra a covid-19?

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Ivermectina, hidroxicloroquina, remdesivir. Em meio à luta contra a pandemia, diversos remédios têm sido propagandeados como possíveis armas contra o coronavírus. A DW checou o que se sabe sobre sua eficácia.

    

 

A pandemia de covid-19 tem desafiado pesquisadores do mundo inteiro na busca não só por uma vacina, mas também por medicamentos capazes de prevenir, minimizar ou até curar uma infecção pelo coronavírus Sars-Cov-2.

A DW checou o que se sabe sobre a eficácia de alguns dos fármacos que vêm sido associados à covid-19:

Favipiravir (Avigan) – pode encurtar duração da covid-19

O antigripal japonês Avigan, com o ingrediente ativo Favilavir, já havia causado sensação na Ásia antes de virar notícia no restante do mundo. O medicamento é usado contra a gripe e supostamente atua contra vários vírus RNA. Em 2014, por exemplo, foi usado com sucesso contra o ebola, levando o governo japonês a enviar doses de Favilavir à Guiné como ajuda de emergência para combater a epidemia no país africano.

Estudos recentes apontam que o medicamento pode, de fato, encurtar a duração da covid-19. Os efeitos colaterais, no entanto, são muito fortes, e podem incluir choque anafilático ou pneumonia.

Dexametasona – uma questão de timing

medicamento anti-inflamatório dexametasona é apontado como capaz de reduzir a mortalidade em pacientes de covid-19 dependentes de ventilação mecânica e cujo quadro infecioso se estende por mais de sete dias. Embora o Instituto Robert Koch (RKI), a agência alemã de prevenção e controle de doenças, e a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomendem o uso do medicamento nesses casos, a dexametasona não deve ser utilizada em pacientes com sintomas leves e tampouco de maneira precoce.

“Quando utilizada cedo demais, é capaz de amortecer ou bloquear o sistema imunológico, podendo provocar inclusive uma evolução mais grave da doença”, explicou no início de outubro Sandra Ciesek, diretora do Instituto de Virologia Médica do Hospital Universitário de Frankfurt, no podcast da emissora alemã Norddeutscher Rundfunk.

Hidroxicloroquina – sem efeitos positivos

No início da pandemia, o princípio ativo hidroxicloroquina, um antigo medicamento contra a malária, foi visto como uma luz de esperança contra o coronavírus e, inicialmente, até chegou a ser utilizado. Atualmente, o Instituto Federal de Medicamentos e Dispositivos Médicos alemão adverte contra seu uso no tratamento da covid-19.

“Os pacientes de covid-19 tratados com hidroxicloroquina devem ser acompanhados muito de perto devido aos graves efeitos colaterais que podem decorrer de sua utilização”, afirma o instituto em seu website. Mas o mais importante, aponta, é que não foram demonstrados efeitos benéficos no tratamento de pacientes com coronavírus.

Artemisinina – faltam estudos confiáveis

No início da pandemia, uma bebida herbácea de Madagáscar provocou furor: Covid Organics, derivada da artemisinina, um ingrediente ativo da planta Artemísia. Até o momento, porém, não há estudos confiáveis sobre os efeitos da bebida.

Uma equipe liderada pelo professor Peter Seeberger, chefe da Divisão de Sistemas Biomoleculares do Instituto Max Planck de Coloides e Pesquisa de Interfaces, conseguiu estabelecer, pelo menos em estudos de laboratório, que os extratos da planta Artemísia são eficazes contra o novo coronavírus. As conclusões, porém, ainda não foram revisadas por outros cientistas.

Um estudo de fase 2 com 360 pessoas também está em andamento no México para investigar a eficácia da Artemisia em conexão com o coronavírus, mas os resultados ainda não foram publicados.

Numa entrevista à DW, Seeberger disse que existem “indícios suficientes” para analisar cientificamente o efeito da artemisinina em ligação com o coronavírus. No entanto, ele desaconselha fortemente “tomar chás de Artemísia na esperança de que eles irão prevenir ou curar a covid-19”. “Não existe, atualmente, qualquer evidência clínica de eficácia”, diz.

Tocilizumabe e sarilumab (Kevzara) – estudos contraditórios

Os efeitos dos anticorpos tocilizumabe e sarilumab são controversos. Eles costumam ser usados no tratamento de artrite reumatoide, mas um estudo recente – ainda sem revisão – afirmou que eles podem reduzir significativamente a mortalidade em pacientes de covid-19. Embora outro estudo tenha concluído que os medicamentos não reduzem de fato a mortalidade, o governo britânico já anunciou que planeja utilizá-los contra o coronavírus no futuro.

Ivermectina – OMS desaconselha

Controvérsia também gira em torno da ivermectina. Originalmente indicado contra sarna e vermes, o antiparasitário tem sido comercializado na América Latina como um “medicamento milagroso contra o coronavírus”. No entanto, a Organização Mundial da Saúde (OMS) e a agência americana Food and Drug Administration (FDA) desaconselham o uso do medicamento contra a covid-19. Ainda são necessários mais testes para determinar se a ivermectina pode ser utilizada na prevenção ou no tratamento da doença, afirmaram.

Em contraste, a Front Line COVID-19 Critical Care Alliance, uma aliança de médicos de UTIs americanas, concluiu, após avaliar os dados clínicos disponíveis, que o medicamento pode reduzir significativamente a carga viral e acelerar a recuperação em pacientes com quadros infecciosos leves ou moderados. Já nos casos graves, o medicamento reduziria a necessidade de hospitalização, assim como as taxas de mortalidade.

Higienização bucal e sprays nasais – efeitos não comprovados

Como forma de prevenção, a Sociedade Alemã de Higiene Hospitalar recomenda o gargarejo com substâncias apropriadas. Por trás disso, está a ideia de que o gargarejo mataria os vírus presentes na garganta. Caso os pacientes estejam infecciosos, o risco de transmissão seria assim reduzido durante um curto período de tempo.

“Claro que não se chega ao vírus enquanto ele estiver nas células. Não se trata, portanto, de eliminar a infecção, mas apenas de eliminar os vírus livres, que – caso expectorados ou exalados – seriam a base para uma nova infecção”, “, disse o porta-voz do grupo, Peter Walger, em entrevista à DW. 

O mesmo se aplica aos sprays nasais antivirais, com os efeitos do fármaco Algovir como um dos exemplos em discussão.

A recomendação do medicamento decorre de um estudo de pesquisadores de Bochum, entre outros, explica Walger. Em laboratórios, foi possível comprovar que os enxaguamentos bucais reduziam as quantidades de Sars-Cov-2.

Gargarejos com líquidos específicos têm sido recomendados pela OMS e pelas sociedades de odontologia alemãs desde agosto e setembro. No entanto, as sociedades profissionais sublinharam que ainda não há estudos clínicos que comprovem que tais procedimentos também ajudem contra o coronavírus em humanos.

Atualmente, resta saber se as soluções chegam efetivamente ao local do organismo onde se concentra a maioria dos vírus, conforme as investigações de uma equipe do centro de pesquisas alemão Correctiv. Um estudo feito com dez pessoas testadas positivo para Sars-Cov-2 na Alemanha chegou à conclusão de que um enxaguamento bucal com uma solução de peróxido de hidrogênio a 1% não foi capaz de reduzir a carga viral.

Remdesivir – faltam evidências

Embora o presidente americano,Donald Trump, tenha tomado o medicamento após sua infecção pelo coronavírus, o efeito do remdesivir contra covid-19 é altamente controverso. O medicamento é usado nos EUA e também na Alemanha, onde seu uso, porém, é recomendado pelo RKI somente em pacientes que necessitem de oxigênio, mas não de respiração mecânica, idealmente entre o quinto e o sétimo dia após início dos sintomas.

O governo americano se baseia em estudos que indicam que o ingrediente ativo reduz a duração da covid-19. Para a OMS, não há evidências suficientes para recomendar o uso do remdesivir.

Credito: Deutsche Welle  – @internet 20/01/2021

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