“Hoje celebramos a vitória não de um candidato, mas de uma causa: a democracia”, diz democrata, que se tornou o 46º presidente do país. Líder também pediu união. “Sem unidade não há paz, apenas amargura e fúria.”
O democrata Joe Biden assumiu nesta quarta-feira (20/01) a presidência dos Estados Unidos. Ele foi empossado como o 46º presidente americano numa cerimônia realizada em frente ao Capitólio, em Washington.
Kamala Harris também foi oficializada como a 49ª vice-presidente do país, a primeira mulher e a primeira pessoa de ascendência negra e indiana no cargo.
O democrata prestou o juramento de posse perante o presidente da Suprema Corte dos EUA, John Roberts, colocando a mão em um enorme exemplar da Bíblia que está na família Biden há mais de um século.
“Aprendemos novamente que a democracia é preciosa, que a democracia é frágil, e esta é a hora em que a democracia prevaleceu”, disse Biden em seu discurso. Ele relembrou a violenta invasão do Capitólio há duas semanas por uma turba de partidários do seu antecessor, Donald Trump. “Hoje celebramos a vitória não de um candidato, mas de uma causa: a democracia.”
Ao longo de seu discurso, Biden reforçou pedidos para que os americanos deixem as divisões de lado, após uma eleição dramática e caos político estimulado por seu antecessor. “Falar sobre união parece bobagem. Mas sem unidade não há paz, apenas amargura e fúria”, disse.
“Política não tem que ser incêndio que destrói tudo a sua frente, tanta discórdia não precisa levar a guerras. Precisamos rejeitar a cultura em que fatos são manipulados e inventados. Caros americanos, temos que ser diferentes. Os EUA têm que ser melhores do que isso. E creio que os EUA são muito melhores do que isso.”
“Precisamos de união para lutar contra os inimigos que enfrentamos. Raiva, ressentimento e ódio, extremismo, ilegalidade, violência, doença, desemprego e desesperança. Com unidade podemos fazer grandes coisas, coisas importantes, e consertar erros”, acrescentou. “Lutarei tanto pelos que não me apoiaram quanto pelos que me apoiaram.”
Biden também fez uma alusão às mentiras disseminadas nos últimos meses para minar a confiança no processo eleitoral americano, que provocaram uma das piores crises políticas no país em décadas. “Nas últimas semanas e meses, aprendemos uma lição dolorosa. Existe a verdade e existem as mentiras. Mentiras contadas em busca do poder e lucro. E cada um de nós tem o dever e a responsabilidade de defender a verdade e derrotar as mentiras.”
Biden ainda mencionou que pretende colocar os EUA novamente no caminho do multilateralismo, após quatro anos de uma política isolacionista. “Vamos restaurar nossas alianças e nos reunir com o mundo novamente, não para enfrentar os desafios de ontem, mas os de hoje e de amanhã”, disse o presidente.
Ao final de seu discurso, o presidente ainda pediu um minuto de silêncio em memória dos americanos que morreram ao longo da pandemia.
O tom de Biden contrastou com o populista e sombrio discurso de posse de Trump em 2017. Na ocasião, o republicano denunciou as elites políticas do país e o que chamou de “carnificina americana”, além de reclamar de aliados dos EUA.
Posse com público limitado e temor de ataques
A cerimônia de posse teve público limitado, tanto por causa das restrições da pandemia quanto pela forte presença militar para garantir a segurança, diante do temor que apoiadores de Trump inconformados com a vitória democrata cometessem atos de violência ou atentados terroristas. Ao todo, 25 mil soldados da Guarda Nacional foram deslocados para Washington, uma quantidade nunca vista numa transição de governo nos EUA.
Entre os presentes na cerimônia estavam os ex-presidentes democratas Barack Obama e Bill Clinton e o republicano George W. Bush. Lady Gaga cantou o hino do país durante o evento.
Como parte dos eventos de posse, Biden compareceu pela manhã a uma missa na Catedral de São Mateus Apóstolo, na capital americana. Ele estava acompanhado de sua esposa Jill Biden, além da vice-presidente Kamala Harris. Biden é o segundo católico na história dos EUA a assumir a presidência, depois de John F. Kennedy.
Em vez de uma multidão de apoiadores, o parque National Mall, que ladeia os prédios do governo federal, foi coberto por quase 200 mil bandeiras e 56 pilares de luz destinados a representar pessoas dos estados e territórios dos EUA.
Outras etapas tradicionais de posses presidenciais americanas também foram deixadas de lado neste ano. Em vez do desfile pela Avenida Pensilvânia, houve um memorial no Cemitério Nacional de Arlington. Já os bailes da posse deram lugar a festas pelo Zoom. Pouco antes de 17h (horário de Brasília), Biden finalmente caminhou até a Casa Branca com sua esposa. Biden não havia sido recebido na sede do governo por Tump após a sua vitória, como é praxe nas transições de poder nos EUA.
Posse num momento crítico
O democrata de 78 anos assume o governo num momento crítico para os EUA. O país passa por uma combinação sem precedentes de crise sanitária e econômica por causa da pandemia. Os EUA são o país que registraram mais mortes no mundo associadas à covid-19. O número de vítimas ultrapassou a marca de 400 mil na terça-feira.
Além disso, o país ainda lida com os efeitos da invasão do Capitólio por uma turba de apoiadores de Trump, que incluiu neonazistas e supremacistas brancos. Cinco pessoas morreram durante o ataque. O caso rendeu a abertura de um processo de impeachment contra Trump, e a ação deve ter continuidade mesmo com a saída do republicano do poder.
Antes mesmo da posse, Biden já havia prometido reverter políticas de Trump, como a saída do Acordo Climático de Paris, o rompimento com a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o veto à imigração de uma série de países de maioria muçulmana. Ele ainda prometeu reunir famílias de imigrantes ilegais que foram separadas em centros de detenção diferentes na fronteira com o México. Seu governo deve anunciar ainda nesta quarta-feira 17 decretos para reverter medidas de Trump.
Para limitar a propagação do coronavírus, o novo presidente anunciou que vai assinar um decreto para tornar obrigatório o uso de máscaras em prédios federais e para funcionários do governo central.
Trump fora da Casa Branca
Mais cedo, o agora ex-presidente Trump deixou a Casa Branca. Ele não compareceu à posse de Biden. Foi a primeira vez em 150 anos que um presidente dos EUA deliberadamente não compareceu à posse do sucessor. O último foi Andrew Johnson (1865-1869). Na posse de Biden, o governo Trump foi representado pelo agora ex-vice-presidente Mike Pence.
Ao deixar a sede do governo americano, Trump fez um discurso em tom de campanha, sinalizando que pretende permanecer ativo na política. “Eu sempre vou lutar por vocês. Vou estar vendo e ouvindo. Adeus, mas nós vamos voltar de algum jeito”, disse Trump para apoiadores na base aérea de Andrews, em frente ao Air Force One, o avião presidencial, antes de partir para a Flórida.
Sem citar Biden, Trump desejou sorte à nova gestão, mas aproveitou a ocasião para elogiar o seu próprio governo. “Como dizem os atletas, nós demos tudo em campo. Não poderíamos ter feito um trabalho mais duro. Eles [os democratas e Biden] terão uma boa base para fazer coisas. Nos próximos meses, haverá bons números na economia. Lembrem-se de nós”, disse o republicano.
Antes de deixar a presidência, Trump ainda concedeu mais de uma centena de perdões presidenciais. Entre os beneficiados estavam vários antigos aliados, como o seu ex-assessor e ideólogo da extrema direita Steve Bannon e Elliott Broidy, um doador da campanha de Trump que confessou ter conspirado para violar leis que regulam o lobby político.
Uma eleição dramática
A vitória de Biden ficou clara no dia 7 de novembro, quatro dias após o pleito, depois de o democrata conquistar os votos do estado da Pensilvânia. No total, ele recebeu 306 votos no Colégio Eleitoral, contra 232 de Trump.
Com o resultado, Trump se tornou o primeiro presidente americano no cargo a perder a reeleição desde George H. Bush, em 1992. O republicano também se recusou a aceitar a derrota, alegando ter sido vítima de fraude eleitoral, mesmo sem apresentar provas. A atitude de Trump gerou uma crise política nos EUA, que chegou ao ápice duas semanas atrás com a invasão do Capitólio, após um discurso incendiário do republicano.
Meio século na política
Biden, de 78 anos, é de longe o candidato mais velho a tomar posse como presidente dos EUA. Católico de uma família de classe trabalhadora, Joseph Robinette “Joe” Biden Jr. tem uma carreira política que se entende por mais de meio século. Ele passou a disputar cargos em 1969, montando sua base eleitoral em Delaware. Entrou para o Senado em 1973, aos 30 anos, e até hoje detém o recorde de terceiro senador mais jovem da história dos EUA no século 20.
Ele também chegou à Casa Branca mais de três décadas depois de sua primeira tentativa de representar a legenda na disputa presidencial. Ele tentou duas vezes emplacar uma candidatura, em 1988 e 2008, mas em ambas falhou em conquistar a simpatia do eleitorado democrata.
Sem o dom para a oratória e o carisma de outros tantos políticos democratas, como Barack Obama ou John Kennedy, ou seguidores apaixonados como os de Bernie Sanders, Biden jamais foi o tipo de candidato capaz de entusiasmar o eleitorado. Muitos democratas admitiram no início da campanha que ele estava longe de ser o candidato ideal, especialmente para a ala que tenta puxar o partido para a esquerda. Seu carisma e personalidade amigável também costumam se manifestar melhor com pequenas plateias e contato direto – algo que foi bastante dificultado pela pandemia. Para piorar, ele sempre foi dado a gafes.
Nas eleições de 2020, no entanto, essa personalidade moderada e pouco polarizadora acabou se mostrando uma receita vencedora diante do populismo de Trump, um dos presidentes mais divisivos da história americana. Trump, que deve parte de sua ascensão em 2016 aos ataques incendiários que distribuiu contra seus concorrentes, teve dificuldade de pintar “Joe sonolento” (como se referia a ele) como um vilão ou um “comunista”, ao contrário do que ocorreu com Hillary Clinton. O democrata também foi beneficiado por esta eleição ter sido transformada num plebiscito sobre a era Trump, que teve seu último ano marcado pela gestão errática da pandemia e o declínio da economia.
Em agosto, Biden resumiu a disputa como “uma batalha pela alma dos Estados Unidos”. Em março de 2020, Biden parecia liquidado em mais uma disputa pela indicação do Partido Democrata, mais viu sua então pré-candidatura ressurgir das cinzas na chamada primária da “Superterça” no sul do país.
Durante a pré-campanha e a disputa direta com Trump, ele apelou de maneira sistemática para seus oito anos de experiência como vice-presidente ao lado do “amigo” Barack Obama na Casa Branca, uma arma que se revelou determinante para conquistar o eleitorado negro do país.
Sua trajetória pessoal também contou com uma forma de angariar empatia entre o eleitorado. Biden tem uma vida marcada por tragédias. Menos de um mês após sua primeira eleição para o Senado em 1972, sua primeira esposa, Neilia Hunter, e sua filha de 1 ano morreram em um acidente de carro quando saíram para comprar uma árvore de Natal. Seus dois filhos ficaram gravemente feridos, mas sobreviveram ao acidente. O mais velho, Beau, morreu vítima de câncer em 2015.
Crédito: Deutsche Welle – @internet 21/01/2021
Bolsonaro cumprimenta Biden e divulga carta enviada ao novo presidente
O presidente Jair Bolsonaro cumprimentou Joe Biden pela posse como novo presidente dos Estados Unidos (EUA) em publicação postada nas redes sociais na tarde desta quarta-feira (20). Horas mais cedo, Biden foi empossado no cargo em uma cerimônia ocorrida em Washington, capital norte-americana, tornando-se o 46º presidente do país, sucedendo Donald Trump.
“Cumprimento Joe Biden como 46º Presidente dos EUA. A relação Brasil e Estados Unidos é longa, sólida e baseada em valores elevados, como a defesa da democracia e das liberdades individuais. Sigo empenhado e pronto para trabalhar pela prosperidade de nossas nações e o bem-estar de nossos cidadãos”, postou Bolsonaro, que também divulgou, na publicação seguinte, uma carta enviada ao novo presidente dos EUA, na qual o líder brasileiro fala em aprofundar as relações entre os países.“É minha convicção que, juntos, temos todas as condições para seguir aprofundando nossos vínculos e agenda de trabalho, em favor da prosperidade e do bem-estar de nossas nações”, diz Bolsonaro em um trecho da carta. “Ao desejar a vossa excelência pleno êxito no exercício de seu mandato, pelo que aceite, senhor presidente, os votos de minha mais alta estima e admiração”, acrescentou.
Comércio, meio ambiente e segurança
Na carta a Biden, Bolsonaro cita sua admiração pelos Estados Unidos e enumera temas que ele considera prioritários na atual agenda bilateral.
“No campo econômico, o Brasil, assim como empresários de nossos países, tem interesse em um abrangente acordo de livre comércio, que gere mais empregos e investimentos e aumente a competitividade global de nossas empresas. Já temos como base os recentes protocolos de facilitação de comércio, boas práticas regulatórias e combate à corrupção, que certamente contribuirão para a recuperação de nossas economias no contexto pós-pandemia”.
Sobre a questão ambiental, Bolsonaro mencionou, na carta, a renovação das metas do país no Acordo de Paris e pediu diálogo, especialmente na questão energética.
“Estamos prontos, ademais, a continuar nossa parceria em prol do desenvolvimento sustentável e da proteção do meio ambiente, em especial a Amazônia, com base em nosso Diálogo Ambiental, recém-inaugurado. Noto, a propósito, que o Brasil demonstrou seu compromisso com o Acordo de Paris com a apresentação de suas novas metas nacionais. Para o êxito do combate à mudança do clima, será fundamental aprofundar o diálogo na área energética”.
Outro ponto tratado por Bolsonaro no documento enviado a Biden foi sobre segurança e combate ao crime organizado.
“Brasil e Estados Unidos coincidem na defesa da democracia e da segurança em nosso hemisfério, atuando juntos contra ameaças que ponham em risco conquistas democráticas em nossa região. Adicionalmente, temos cooperado para impedir a expansão das redes criminosas e do terrorismo, que tantos males causam a nossos países e aos demais países da América Latina e do Caribe”.
Agência Brasil de Notícias 21/01/2021