Entenda a PEC dos Precatórios e a alternativa em debate no Senado

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PEC dos precatórios: com 40 votos ‘garantidos’ e 13 ‘possíveis’, governo avalia sugestões para texto

Sem votos suficientes para aprovar a PEC dos precatórios no Senado, o governo analisa sugestões dos parlamentares para carimbar recursos para o Auxílio Brasil e tornar o programa permanente, ainda que a mudança signifique uma tramitação mais demorada e retorno do texto à Câmara dos Deputados. Entre senadores governistas, circula uma tabela que aponta apenas 40 votos favoráveis garantidos e outros 13 possíveis – um cenário de indefinição diante da necessidade de apoio de 49 congressistas para a aprovação

.O retrato do placar acendeu o alerta no governo, que agora trabalha para virar votos e sensibilizar senadores sobre a importância da proposta para viabilizar o pagamento de ao menos R$ 400 aos beneficiários do programa social.

Mesmo a emenda apresentada pelos senadores Alessandro Vieira (Cidadania-SE), José Aníbal (PSDB-SP) e Oriovisto Guimarães (Podemos-PR) na quarta-feira, 17, propondo a retirada das despesas com dívidas judiciais do alcance do teto de gastos (que limita o avanço das despesas à inflação), teria um apoio limitado. Nas contas do governo, segundo apurou o Estadão/Broadcast, essa versão tem hoje “49 votos cravados” a favor, o que dá pouco conforto à base aliada para levar o texto à votação sem riscos de derrota.

O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), se reuniu na manhã desta quinta, 18, com o líder do governo na Casa, Fernando Bezerra (MDB-PE), que também é o relator da PEC. Segundo apurou a reportagem, a disposição de Pacheco e da cúpula do Senado é aprovar a PEC, mas não na forma que o governo quer. O presidente do Senado tem defendido a interlocutores que a proposta não se transformará em uma “farra fiscal” com a digital do Senado, com espaço para o uso dos recursos a outras finalidades que não o programa social.

Diante dessas negociações, Bezerra estuda “fatiar” a PEC para incorporar sugestões de senadores e assegurar o pagamento do Auxílio Brasil de R$ 400 ainda em dezembro. Segundo ele, a ideia é fazer mudanças mantendo o texto já aprovado na Câmara dos Deputados. A partir daí, haveria duas opções, sendo a primeira promulgar a parte do texto já avalizada pelas duas Casas e enviar a “PEC paralela”, com as mudanças, para a Câmara dos Deputados, sob compromisso de votação rápida.

Bezerra afirmou, porém, que não descarta um retorno de todo o texto à Câmara, para nova votação em globo. “O fatiamento é uma possibilidade, mas não tem decisão tomada sobre isso”, afirmou o líder o governo.  “Isso dependerá da natureza das alterações que serão inseridas no meu relatório”, acrescentou.

As mudanças que estão em estudo incluem um “carimbo” nos recursos liberados com a mudança no teto de gastos e nos precatórios. Segundo Bezerra, a folga seria destinada apenas ao Auxílio Brasil, a despesas obrigatórias ligadas à assistência social e à Previdência e aos mínimos constitucionais da saúde e educação. Também estão em negociação a previsão de que o novo programa de transferência de renda será permanente, a criação de uma auditoria ou comissão mista para analisar a evolução das dívidas judiciais e algum mecanismo de previsibilidade para o pagamento dos precatórios dos Estados.

A negociação por mudanças, crucial para a aprovação ser viável, desagrada integrantes do governo por diferentes motivos. Uma das preocupações é a necessidade de nova votação na Câmara dos Deputados, já admitida pelo próprio líder do governo no Senado. Isso pode atrasar ainda mais o cronograma de pagamento do Auxílio Brasil de R$ 400.

Além das restrições da lei eleitoral, que obrigam o governo a implementar a mudança até 31 de dezembro, há preocupação com o impacto do atraso sobre a população. Nos primeiros dias de pagamento do novo Auxílio Brasil, beneficiários fazem fila em busca de informações e sacar os recursos, muitos frustrados porque já esperavam que o valor de R$ 400 prometido pelo presidente Jair Bolsonaro fosse pago em novembro.

A promessa do governo é pagar os R$ 400 em dezembro, com um valor retroativo referente à diferença devida em novembro. Embora seja viável rodar uma folha extraordinária para complementar o benefício assim que a PEC for aprovada, há o temor de que isso provoque ainda mais desencontros e confusão entre os beneficiários, muitos dos quais teriam de se deslocar novamente para sacar o dinheiro.

Entre técnicos da área econômica, há também uma preferência pela aprovação do texto como veio da Câmara dos Deputados, não só pela celeridade, mas pelo conteúdo. A equipe econômica entende que, ao criar um subteto para o pagamento dos precatórios (dívidas judiciais), a regra permanente dará previsibilidade a esse gasto daqui para frente.

Além disso, a proposta de carimbar recursos na PEC para bancar o Auxílio Brasil vai contra o mantra da equipe de evitar vinculações de maneira geral. Os técnicos, porém, entendem que esse é um ponto sensível para os senadores (que temem o uso do espaço fiscal para outras finalidades, como reajustes de servidores ou emendas parlamentares). Por isso, não seria um problema acatar esse ponto da proposta.

Há ainda o desejo dos senadores de que a ampliação do Auxílio Brasil para R$ 400, hoje temporária devido à ausência de uma fonte de receitas para financiar o aumento permanente de gastos, seja duradoura. Para isso, uma hipótese possível seria prever na PEC o afastamento da necessidade de fonte permanente de recursos (hoje exigida na Lei de Responsabilidade Fiscal). Esse é um ponto ainda em aberto.

Além de carimbar os recursos e dar um caráter permanente ao Auxílio Brasil, líderes das bancadas do MDB e do PSDB passaram a defender uma auditoria no pagamento de precatórios a partir do próximo ano. O relator da PEC sinalizou simpatia a essa iniciativa, conforme interlocutores, mas o tema pode avançar fora do texto da proposta.

Crédito: Daniel Weterman e Idiana Tomazelli/O Estado de S.Paulo – @ disponível na internet 19/11/2021


Entenda a PEC dos Precatórios e a alternativa em debate no Senado

Nova proposta ampliaria número de beneficiários do Auxílio Brasil para 21 milhões de famílias 

Enquanto o texto da PEC dos Precatórios aprovado na Câmara dos Deputados na última semana enfrenta resistências para ser aprovado no Senado, foi apresentado um texto alternativo por um grupo de senadores que tira as dívidas judiciais do teto de gastos e amplia os pagamentos do Auxílio Brasil. A previsão é que a proposta seja entregue à CCJ do Senado na próxima quarta-feira (24).

A CNN fez um levantamento comparando as duas propostas em discussão no senado para analisar as diferenças entre os textos.

Espaço Fiscal

O espaço fiscal aberto pela PEC aprovada na Câmara, e defendida pelo governo, é de R$ 93 bilhões. A proposta alternativa dos senadores Alessandro Vieira (Cidadania-SE), José Aníbal (PSDB-SP) e Oriovisto Guimarães (Podemos-PR) retira totalmente o pagamento dos precatórios do teto de gastos, garantindo um espaço fiscal extra de R$ 89 bilhões para o orçamento de 2022.

Em ambas as propostas são previstas as correções orçamentárias relacionadas às despesas previdenciárias – o que representaria um custo de R$ 25 bilhões.

Auxílio Brasil

O pagamento do Auxílio Brasil viabilizado pela PEC aprovada na Câmara, teria um custo total de R$ 46,9 bilhões e seria destinado a um total de 17 milhões de famílias. Na proposta alternativa, seria possível ampliar o número de beneficiários para 21 milhões, com um custo total de R$ 64 bilhões.

Gastos extras

Diferente do texto aprovado pela Câmara, a PEC alternativa não abre margem para despesas fora do escopo do Auxílio Brasil e correção previdenciária. O texto destaca que o espaço fiscal proporcionado pela medida deverá ser aplicado somente em despesas de seguridade social.

A PEC dos Precatórios defendida pelo governo abre margem para outros gastos como desoneração da folha, Auxílio Diesel, fundo eleitoral, emendas de relator e reajustes de servidores federais.

Para o senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE), “a solução apresentada garante o pagamento integral dos precatórios, garante o atendimento efetivo e real das necessidades de quase 20 milhões de famílias brasileiras que estão na miséria e que estão deixando de ser atendidas com a extinção do Bolsa [Família] e do Auxílio emergencial. E evita qualquer tipo de penduricalhos, e ainda tenta a extinção das emendas de relator”.

Vieira afirmou ainda, em entrevista à CNN, que “está se tentando alterar uma regra para resolver um problema X, e estão criando 10 outros problemas”. “Qual é o sentido de se manter emenda de relator e orçamento secreto e aumentar esse valor? Qual é o sentido de aumentar o espaço para o fundo eleitoral?”, questiona o senador.

Crédito: Iuri Pitta e Vinicius Murad/CNN – @disponível na internet 19/11/2021

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