A economia foi para a rua: depois de dois anos de pandemia, serviços presenciais voltam com tudo. “Trabalho remoto não é aceitável”

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Após 2 anos de economia aquartelada, o cara sai “Não tem inflação, não tem juros, impacto fiscal, depois de dois anos de uma economia aquartelada, o cara sai de casa e come uma esfiha”. É assim que o analista Fernando Montero, da corretora Tullett Prebon Brasil resume o desempenho do setor de serviços no primeiro trimestre. Para além das variáveis clássicas da economia, como preços, oferta e demanda, o que impulsionou o PIB na reabertura, de janeiro a março, foi o comportamento humano.

Depois de dois anos descobrindo como fazer pão em casa, se deslumbrando com o robô aspirador e fazendo ginástica para concatenar a rotina do trabalho em casa com os cuidados com a família e as tarefas domésticas, o brasileiro voltou às ruas. De volta aos serviços e disposto a consumir.

Inflação dos hortifrutigrajeiros em 2022

Tomate a R$ 15,99 em feira livre na Praça General Osório, em Ipanema. Fruto subiu 48,88% este anoAgência O Globo

Lazer, cultura, viagens, transportes e eventos tiveram um boom neste período e ganharam espaço em um orçamento que tende a ficar ainda mais apertado ao longo do ano com a alta da inflação e dos juros.

O fator comportamental, que foge aos modelos racionais de previsão, se fez presente nos números do PIB. Os serviços presenciais — hotéis, restaurantes, lugares que ficaram meses fechados no pior momento da pandemia — dispararam 12,6% em relação ao primeiro trimestre do ano passado.

— O resultado colocou um viés para cima, mostrou que a abertura é mais importante do que se imaginava. O Brasil e o mundo superaram a pandemia, que foi devastadora nos últimos dois anos — avalia Montero.

A GL Events, empresa de shows e eventos, está com a agenda lotada para as cinco arenas que tem no país, como a Jeunesse no Rio e a São Paulo Expo. Todos os sábados estão reservados até dezembro. Nos últimos quatro meses, mais de um milhão de pessoas passaram pelos espaços da empresa no país. Diretora regional, Sílvia Albuquerque explica que está sendo preciso fazer caber “dois anos em um”.

— Tem o acúmulo dos shows que eram para ter acontecido em 2021, somado aos novos eventos e às novas demandas. As pessoas querem ter a experiência de estar num show. Isso é perceptível na venda dos ingressos — afirma a diretora, lembrando que, frente a 2019, antes da pandemia, as vendas de ingressos cresceram 30% este ano.

Juliana Vicente Teles mora com as duas filhas e a mãe e está tendo dificuldades para fechar o orçamento do mês por conta da alta de preços. Na foto Juliana com a mãe Josefa e uma das filhas Maria Antônia. — Foto: Guito Moreto
Juliana Vicente Teles mora com as duas filhas e a mãe e está tendo dificuldades para fechar o orçamento do mês por conta da alta de preços. Na foto Juliana com a mãe Josefa e uma das filhas Maria Antônia. — Foto: Guito Moreto

Mas apesar do encanto com a volta às ruas, o movimento não passa incólume pelo orçamento. Segundo cálculos do Banco Inter, a taxa de poupança caiu de 20% no primeiro trimestre do ano passado para 17,5% em igual período deste ano.

Na avaliação de Rafaela Vitória, economista-chefe do banco, a estimativa sustenta a ideia de que as famílias usaram parte das reservas para manter algum padrão de consumo diante da inflação alta. Esse movimento ainda pode se espraiar para o segundo trimestre, mas não tem fôlego para persistir até o fim do ano:

— Devemos ter crescimento no segundo trimestre, considerando a liberação do FGTS e a antecipação do 13º salário, mas não no mesmo ritmo.

Freio da inflação

Para Rebeca Palis, coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, o lado B da volta ao consumo, mesmo no primeiro trimestre, foi a inflação, que funcionou como freio:

— O consumo das famílias, que é direcionado pela massa salarial, foi muito afetada pelo crescimento da inflação.

A administradora de ONGs, Juliana Vicente, de 43 anos, mora em Copacabana, com as duas filhas gêmeas, de 13 anos, e vê um cenário adiante de escolhas no orçamento.

— Vi uma melhora em relação ao comércio porque ele voltou a abrir. As pessoas estão tendo acesso a uma renda. Mas, mesmo assim, essa renda não está dando conta. A gente vai ao mercado e toda hora leva um susto. De nada adianta a gente receber o salário e não conseguir fazer mais nada além de pagar as contas.

Crédito: Estagiária, sob a supervisão de Danielle Nogueira / O Globo – @ disponível na internet 03/06/2022


Elon Musk exige volta presencial dos executivos da Tesla: “Trabalho remoto não é aceitável”

Musk, CEO da montadora, enviou um e-mail interno à equipe de executivos da empresa informando que o trabalho remoto na Tesla chegou ao fim e que é hora dos funcionários voltarem aos escritórios
 (Divulgação/Creative Commons)
Elon Musk @Divulgação/Creative Commons

Elon Musk, homem mais rico do mundo e possível novo dono do Twitter, pode ter cansado do trabalho remoto de uma vez por todas. Segundo publicou uma conta no Twitter, Elon Musk enviou um ultimato a seus funcionários da montadora elétrica Tesla por e-mail, no qual exige que os funcionários da montadora retornem ao trabalho presencial. O título da mensagem é “Trabalho remoto não é aceitável”.

No corpo do e-mail, o CEO discorre sobre como não concorda com a tendência do pós-pandemia em manter o trabalho remoto e afirmou que “qualquer um que deseje fazer trabalho remoto deve estar no escritório por um mínimo de tempo (e quero dizer, mínimo) de 40 horas semanais ou deve sair da Tesla. Isso é menos do que pedimos para os trabalhadores das fábricas”. Em outras palavras, o CEO deixou claro que na montadora há dois futuros para o trabalho remoto: ou ele acaba ou o funcionário escolhe outra empresa para trabalhar.

“Além disso, o ‘escritório’ precisa ser a estação principal de trabalho da Tesla, não uma filial remota não relacionada aos deveres do trabalho”, informa o comunicado em outro trecho.

Embora Musk não tenha confirmado diretamente no Twitter se o e-mail realmente foi um memorando oficial enviado por ele a seus funcionários, o bilionário deu a entender que a mensagem é sim verdadeira, já que respondeu ao tuíte original dizendo que as pessoas deveriam “fingir que trabalham em outro lugar”, deixando claro sua opinião sobre o trabalho remoto.

Musk, que também comanda SpaceX, Starlink e pode vir a se tornar dono da rede social Twitter, sempre foi um crítico aberto ao modelo de trabalho remotoEm outras ocasiões, o bilionário defendeu a reabertura de suas fábricas da Tesla em um momento complicado da pandemia nos EUA e chegou a criticar os trabalhadores americanos de forma geral, ao dizer que eles preferem ficar “trancados em casa”, enquanto os chineses ficam trancados nas fábricas.

Essa diferença de pensamento acerca do modelo de trabalho pode ser uma dor de cabeça futura para o possível novo dono do Twitter, já que a rede social recentemente deixou claro que seus funcionários podem trabalhar de onde quiserem. 

Pensamento de Musk é incentivado por executivos — mas não é unanimidade

Os novos modelos de trabalho fomentados nesse pós-pandemia dividem a opinião de diversos executivos. Enquanto alguns empresários e executivos se consideram mais “conservadores e tradicionalistas” e não acham que o trabalho remoto substituti a experiência profissional de trabalhar presencialmente em um escritório, como é o caso do ex-CEO do Google, outros pensam de maneira oposta.

O CEO do Airbnb, por exemplo, já afirmou que seus funcionários podem trabalhar de qualquer lugar do mundo e ainda incentivou seus funcionários a viajarem pelo mundo nas acomodações da plataforma.

Uma recente pesquisa mostrou que funcionários mais jovens, em específico os trabalhadores da geração Z, não estão à vontade para retornar a uma rotina 100% presencial. Os resultados da pesquisa mostram que a maior parte desses trabalhadores, cerca de 70%, prefere procurar outro trabalho a ter de trabalhar presencialmente todos os dias da semana.

Crédito: Allan Gavioli / Exame – @ disponível na internet 03/06/2022
 

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