Petrobras reajusta preço da gasolina e do diesel a partir deste sábado. Empresa tem lucro líquido seis vezes maior que concorrentes

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Petrobras tem lucro seis vezes maior que concorrentes. Enquanto a brasileira fechou o 1º trimestre com margem líquida de 31,6%, concorrentes estrangeiras não passaram de 11,5%, diz jornal 

A Petrobras fechou o primeiro trimestre de 2022 com lucro até seis vezes maior que o de petroleiras estrangeiras concorrentes. É o que aponta um levantamento feito pelo portal Uol divulgado nesta quarta-feira (15/6).

O levantamento, utilizando dados da plataforma de infirmações financeiras Economatica, indica que a margem de lucro líquida (Divisão do lucro pela receita líquida) da petroleira brasileira chegou a 31,6%. A americana Chevron, segunda colocada, tinha a margem de apenas 11,5%. A PetroChina, 5º colocada, lucrou ainda menos: 5,6%.

A mesma tendência se repetiu em 2021, quando a brasileira teve margem líquida de 23,7%, enquanto a Chevron e a BP (2º e 3º lugar) lucraram 9,7% e 9,4%, na ordem.

No primeiro trimestre de 2021, a Petrobras lucrou R$ 44,5 bilhões, ou seja, crescimento de 3,718% com relação ao mesmo período em 2021. Em 2021, o lucro líquido foi recorde entre empresas de capital aberto no Brasil e alcançou a marca de 106,6 bilhões.

Segundo Eduardo Costa Pinto, professor de economia da UFRJ ouvido pelo Uol, nesse primeiro trimestre, a estatal distribuiu US$ 10,2 bilhões aos acionistas. A média entre as concorrentes internacionais foi quaze quatro vezes menor, cerca de US$ 2,5 bilhões.

De acordo com Vitor Polli, analista de Oil & Gaz da Levante Group, os dividendos (frações dos lucros distribuídos aos acionistas) são maiores porque outras petroleiras ainda contabilizam os prejuízos causados pela crise decorrente da saída da Rússia do mercado, devido à guerra na Ucrânia. Algumas também podem ter optado em investir mais na própria companhia.

Costa Pinto opina que a Petrobras erra em distribuir dividendos e não investir em oportunidades que garantam alternativas energéticas que venham prover formas de energia para o futuro. “Hoje, o pré-sal é uma grande vaca leiteira. Mas, se eu não invisto agora, não tenho capacidade de transformar oportunidades em vacas leiteiras”, disse.

A Petroleira foi procurada pela reportagem do Uol e disse que obteve ganhos no trimestre em reflexo à alta do petróleo no mercado global. E afirma que “os resultados alcançados pela Petrobras também retornam à sociedade por meio do pagamento de tributos. No primeiro trimestre de 2022, foram pagos quase R$ 70 bilhões em impostos, royalties e participações governamentais. Esse valor é quase o dobro do total recolhido no mesmo período do ano passado”.


Petrobras reajusta preço da gasolina e do diesel a partir deste sábado Aumento será de 5,2% para a gasolina e de 14,2% para o diesel, considerando o preço dos combustíveis para as distribuidoras

A Petrobras não cedeu às pressões do governo e de autoridades ligadas ao presidente Jair Bolsonaro e aumentou os preços do diesel e da gasolina nesta sexta-feira, 17. A gasolina será reajustada em 5,2%, passando a custar R$ 4,06 o litro nas refinarias da estatal, em um aumento de 20 centavos. Já o diesel será reajustado em 14,2% e passará a custar R$ 5,61 o litro, um aumento de 70 centavos. Os novos preços entram em vigor neste sábado, 18, nas refinarias da Petrobras. A decisão de elevar os preços nas bombas, no entanto, cabe às distribuidoras e aos donos dos postos de combustíveis. 

A gasolina estava congelada há 99 dias, e o diesel passou 39 dias sem aumentos da Petrobras. Em nota enviada à imprensa, a estatal afirmou que “é sensível ao momento que o Brasil e o mundo enfrentam, de alta de preços, rebatendo declarações que vêm sendo feitas nas últimas semanas por Bolsonaro.

O reajuste ocorre em meio a uma queda de braço entre a liderança da estatal e o governo, que pressionava para que a empresa não fizesse um aumento do preço dos combustíveis enquanto o Congresso discute uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) para compensar os Estados que zerarem a alíquota do ICMS sobre o diesel e o gás de cozinha. 

Um pouco antes do anúncio do reajuste da Petrobras, o presidente Jair Bolsonaro afirmou a empresa pode “mergulhar o Brasil num caos e reforçou a posição do governo contrária a qualquer reajuste dos combustíveis.  “A Petrobras pode mergulhar o Brasil num caos. Seus presidente, diretores e conselheiros bem sabem do que aconteceu com a greve dos caminhoneiros em 2018, e as consequências nefastas para a economia do Brasil e a vida do nosso povo”, escreveu o chefe do Executivo no Twitter, pouco antes de a Petrobras anunciar o novo reajuste do diesel e da gasolina. 

Os reajustes anunciados nesta sexta refletem a disparada dos  preços dos derivados no mercado internacional, seguindo a alta do petróleo por causa da maior demanda e do fechamento de refinarias em meio à guerra entre a Rússia e Ucrânia. Nesta sexta-feira, 17, os contratos do petróleo tipo Brent para agosto eram comercializados a US$ 119,5 o barril. O câmbio também não está ajudando e já ultrapassa os R$ 5, com a cautela dos investidores impulsionando a moeda americana.

O aumento, no entanto, ficou abaixo do necessário para zerar a defasagem entre o preço da Petrobras e o praticado no mercado externo. Segundo a Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom), para alinhar o preço interno com o praticado no Golfo do México, de onde sai a maioria das cargas, o aumento deveria ser de R$ 0,57 para a gasolina e R$ 1,37 para o diesel, diante de defasagens de 13% e 21%, respectivamente. 

Em nota, a Petrobras afirmou que busca o equilíbrio de preços com o mercado global, e evita trazer a instabilidade do mercado internacional para o País, tanto que manteve o preços da gasolina congelado por 99 dias e do diesel por 39 dias, prática que não é comum a outros fornecedores no Brasil e nem fora do País. A Acelen, por exemplo, única refinaria de grande porte privada brasileira, reajusta os preços semanalmente. 

O Brasil produz entre 70% e 80% do diesel que consome e 97% da gasolina. Sem as importações complementares, o abastecimento pode correr risco no segundo semestre do ano, quando é previsto aumento da demanda interna, devido ao transporte da safra, combinado com aperto da oferta por conta da guerra entre a Rússia e a Ucrânia.

A Petrobras disse que o mercado de energia passa por um momento desafiador, pelo impacto da recuperação econômica e da guerra entre a Rússia e a Ucrânia, que reduziram a oferta e aumentaram a demanda, principalmente por diesel. 

Em resposta às críticas do governo a empresa explicou também, que apesar de impactar os preços, a conjuntura tem gerado recursos públicos bilionários, destacando que em 2021 pagou R$ 203 bilhões entre impostos, royalties e participações especiais, e que este ano, até julho, vai desembolsar R$ 32 bilhões para os cofres públicos.

Tensão com o governo

A alta dos combustíveis tem sido ponto de tensão entre a Petrobras e o governo. O presidente Jair Bolsonaro critica a companhia pelos altos lucros e distribuição de dividendos bilionários, inclusive para a União, e pedia para que novos reajustes não fossem realizados. 

Pelo estatuto da estatal, um eventual prejuízo provocado pelo seu acionista controlador (União) tem que ser compensado, ou seja, para segurar os preços em relação ao mercado internacional, a União teria que pagar a diferença à Petrobras. 

Nos últimos dias, outras autoridades ligadas a Bolsonaro vieram a público reclamar da estatal, como o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, e o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira.

Ontem, Lira chegou a dizer que a Petrobras “declarou estado de guerra ao povo brasileiro”, e que a empresa age como “inimiga do Brasil”. Já o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, do mesmo partido de Lira, disse que a Petrobras “não é de seus diretores. É do Brasil”.

O presidente Jair Bolsonaro já trocou três presidentes da Petrobras nos três anos e meio de mandato por conta da alta de preços. O atual presidente, José Mauro Coelho, foi a demissão mais recente. Como mostrou o Estadão, Coelho está sendo pressionado a renunciar ao cargo para apressar a troca pelo indicado de Bolsonaro, o secretário de Desburocratização do Ministério da Economia, Caio Paes de Andrade. Com a renúncia, Paes de Andrade não teria que esperar a realização de uma assembleia de acionistas, mas Coelho já afirmou algumas vezes que não vai renunciar.

A decisão do reajuste dos combustíveis é tomada por três membros da diretoria: o presidente da empresa, o diretor de Comercialização (Claudio Mastella), e o diretor Financeiro e de Relações com os Investidores (Rodrigo Araújo). Segundo fontes, os dois diretores também serão demitidos depois que Paes de Andrade tomar posse.

Paridade de preços internacionais

Desde 2016, a empresa pratica a política de preços de paridade de importação (PPI), que significa manter os preços alinhados ao mercado internacional. O PPI leva em conta o preço do petróleo e o câmbio – que dispararam esta semana –, somado aos custos de importação, também elevados na esteira da alta do setor. 

Se a empresa não seguir essa política, outros importadores não conseguem concorrer com os preços mais baixos da Petrobras no mercado interno.

Crédito: Denise Luna / O Estado de S.Paulo – @ disponível na internet 18/06/2022

1 Comentário

  1. A cada dia fico mais convencido de que privatizar a Petrobras e abrir o mercado para outras companhias é a melhor medida. Nada como uma boa concorrência para reduzir preços e colocá-los em patamar justo e aceitável.

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