Tesouro reprova empréstimo de R$ 20 bilhões aos Correios com juros acima de 120% do CDI

0
23
Correios tiveram prejuízo de R$ 6,05 bilhões de janeiro a setembro de 2025 Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Entendimento do Tesouro é de que juros estão acima do limite estabelecido pelo Comitê de Garantias do órgão, negociações continuam; bancos querem taxa de 136% acima do CDI

O Tesouro Nacional informou aos Correios que não dará aval a um empréstimo de R$ 20 bilhões caso as taxas de juros estejam acima de 120% do Certificado de Depósito Interbancário (CDI). A proposta dos bancos, segundo apurou o Estadão, foi de 136% do CDI. Ou seja, com essa taxa, a proposta está recusada e haverá nova rodada de negociação.   
 
Esse teto é estabelecido pelo Comitê de Garantias do Tesouro, que avalia os juros para entes subnacionais (Estados e municípios). Esse mesmo teto será usado agora para uma empresa estatal. Para o casos dos Correios, há limite de 120% do CDI para empréstimos que não podem securitizados (a dívida ser revendida) e com prazos maiores do que 10 anos.
 

Com a Selic a 15%, um empréstimo de 120% do CDI teria taxa de juros de 18% ao ano. Os bancos, ao pediram 136% do CDI, queriam uma taxa de 20,4%. Para um empréstimo no valor de R$ 20 bilhões e prazo de 15 anos, qualquer ponto percentual a mais significa aumento de custo financeiro para a estatal e grande rentabilidade para os bancos.

No entendimento do Tesouro, os juros cobrados foram muito elevados para uma operação que tem garantias da União, o que foi visto como uma espécie de “abuso” por parte dos bancos. A informação já teria sido comunicada aos cinco bancos que fizeram a proposta: Banco do Brasil, Citibank, BTG Pactual, ABC Brasil e Safra.

Apesar de os Correios terem pressa na negociação, o fato de o presidente Emanuel Rondon ter vindo do Banco do Brasil, com carreira no setor bancário, ajudou no entendimento de que a taxa estava elevada, já que se trata de uma operação com garantia da União. A participação do Banco do Brasil na operação com juros altos causou desconforto em integrantes que participaram das negociações. 

Os Correios correm para conseguir a liberação do empréstimo para lidar com uma crise financeira sem precedentes. De janeiro a setembro deste ano, a empresa teve prejuízo de R$ 6,05 bilhões, em uma combinação de queda de receitas com aumento de despesas.

Com o empréstimo, a empresa pretende quitar uma dívida de R$ 1,8 bilhão, pagar fornecedores em atraso, além de financiar um programa de desligamento voluntário (PDV) e fazer investimentos para tentar recuperar espaço no mercado de encomendas e elaborar novas fontes de receitas.

A estatal precisa também precisa regularizar pendências com fornecedores. Isso é visto como crucial pela atual gestão para que a empresa recupere a performance no setor de entregas, a confiança de clientes e tenha aumento de receitas.

Especialistas, contudo, são céticos em relação à operação. Um ex-presidente da estatal chegou a classificar o plano como “morte assistida”, como mostrou o Estadão.

A crise dos Correios provocou a queda de Fabiano Silva da presidência da estatal. Pressionado, ele pediu demissão em julho deste ano. Silva é integrante do Grupo Prerrogativas, que reúne advogados ligados ao PT. Ele atribuiu prejuízo da empresa à taxação de compras internacionais – o imposto de até US$ 50 cobrado para a importação de encomendas – que ficou conhecido como “taxa das blusinhas”.

O atual presidente Emmanoel Schmidt Rondon foi escolhido para assumir os Correios apenas em setembro deste ano. Ele é funcionário de carreira do Banco do Brasil e é ligado ao setor financeiro. O Centrão estava de olho no cargo.

Rondon pretende adiar ao máximo a convocação de aprovados em concurso  realizado em dezembro de 2024.

Mudança da meta

O rombo bilionário nas contas dos Correios deve tornar necessária uma mudança na meta fiscal das empresas estatais do ano que vem, segundo integrantes da equipe econômica. A avaliação é de que o prejuízo contabilizado pela estatal vai continuar pelo menos ao longo de 2026. Se o alvo for mantido, isso vai limitar o espaço para gastos do governo no ano eleitoral.

O debate sobre a mudança do alvo fiscal das empresas ainda não começou na Junta de Execução Orçamentária (JEO), que reúne os ministros da Casa Civil (Rui Costa), da Fazenda (Fernando Haddad) e do Planejamento (Simone Tebet). No entanto, técnicos da equipe econômica consideram certo que a discussão vai ter de acontecer, devido aos riscos para o Orçamento.

A crise dos Correios levou o governo a ampliar a projeção de déficit nas empresas estatais este ano de R$ 5,504 bilhões para R$ 9,208 bilhões.

O secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Dario Durigan, classificou como “graves” e “estruturais” os problemas dos Correios. Ele também disse que o impacto fiscal pode ser maior em 2026 do que o deste ano.

“Eu não tenho o número fechado, nós vamos ter que nos debruçar em cima do plano assim que apresentado pelos Correios; mas a gente tem, sim, uma situação grave que demanda atenção”, disse.

Crédito:  Alvaro Gribel / O Estado de São Paulo – @ disponível na internet 3/12/2025

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui