“Não se resolve os problemas só com as reformas”, afirmou o ex-ministro e professor emérito da Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP), Luiz Carlos Bresser-Pereira, em palestra na segunda edição do “Ciclo Brasil e suas perspectivas”, nesta terça-feira (6). “Eu leio e considero patéticas as afirmações de políticas liberais que dizem que basta que o Brasil faça um ajustamento fiscal através de reformas e dessa forma, o país voltará ao desenvolvimento. Não há duvida que o Brasil está em uma crise fiscal e precisa pôr ordem na sua casa, que foi muito mal plantada no governo Dilma [Rousseff], mas isto absolutamente não é suficiente”, acrescentou o ex-ministro.
Promovido pela Coppe/UFRJ, a palestra tinha o objetivo de falar sobre a crise do país e maneiras de superá-la. Bresser é um dos signatários do Manifesto do Projeto Brasil Nação, publicado no dia 27 de abril, por meio do qual um grupo de personalidades públicas assume o compromisso de pensar o país e unir os brasileiros em torno das ideias de nação e desenvolvimento.
“Nós perdemos a ideia de nação”, afirmou Bresser-Pereira, que frisou durante toda a palestra a necessidade de haver um desenvolvimento econômico, com superávit em conta corrente, o que vai de encontro à proposta neoliberal, “por defenderem altos déficits em conta corrente, que eles dizem que é poupança externa, mas é mais consumo e endividamento, até que o País quebre. Isso aconteceu com [o ex-presidente] FHC muito claramente na crise de 1998”.
O Novo Desenvolvimentismo, defendido por Bresser, nasceu do desenvolvimentismo clássico e concentra a atenção nos cinco preços macroeconômicos, ideia inexistente na macroeconomia keynesiana: as taxas de lucro, juros, câmbio, salários e inflação.
“No Novo Desenvolvimentismo, nós não veremos capital externo. Eu quero que a empresa multinacional traga tecnologia e abra vagas no mercado. O erro da [ex-presidente] Dilma, do [ex-presidente Luiz Inácio] Lula [da Silva] e do Fernando Henrique Cardoso foi acreditar no déficit da conta corrente, e dessa forma, aumentar o consumo ao invés de aumentar o investimento. Em termos práticos, a necessidade de uma taxa de câmbio que torne competitivas as empresas industriais é um aspecto fundamental”, disse.
Advogado, economista, professor emérito da FGV-SP e livre-docente da Universidade de São Paulo (USP), Bresser-Pereira foi ministro por três vezes, duas durante o governo Fernando Henrique Cardoso, no qual ocupou o Ministério da Administração Federal e Reforma do Estado (1995-1998) e o Ministério da Ciência e Tecnologia (1999). Foi ainda ministro da Fazenda (1987), durante o governo Sarney, no qual implementou o Plano Bresser. O economista presidiu o Banco do Estado de São Paulo e foi secretário da Casa Civil, durante o governo de André Franco Montoro.
O palestrante fez duras críticas à gestão de Dilma Roussef (PT), a qual ele aponta como “pior erro” as desonerações fiscais. Em Genebra para participar de debates e seminários em março desse ano, a presidente cassada assumiu o erro: “Eu acreditava que, se diminuísse impostos, teria um aumento de investimentos”, disse. “Eu diminuí. Me arrependo disso. No lugar de investir, eles aumentaram a margem de lucro”.
Bresser voltou mais um pouco no tempo, e disse que o grande mérito de Lula está na questão social. Porém, afirma que “o mal da esquerda é distribuir renda com irresponsabilidade fiscal”. Ele diz ainda que o “PT inventou um novo tipo de capitalismo ‘sem lucro’”.
“A estratégia correta de Lula foi fazer uma coalizão de classes desenvolvimentista com industriais, trabalhadores e burocracia pública. Porém, os juros e o câmbio não foram mexidos da forma certa. Lula queria governar um país capitalista distribuindo um pouco de renda, mas sem garantir lucro para as empresas industriais”, acrescentou.
Um dos fundadores do PSDB, em 1988, desligou-se da legenda em 2011, sob a alegação de que o partido tornara-se “um campeão do liberalismo econômico”. Hoje, aos 83 anos, Bresser, auto declarado social democrata, é autor de vários livros. Sua última obra, “A construção política do Brasil”, analisa o desenvolvimento do país desde a Independência, trata das coalizões de classe que se sucederam no poder, e, por fim, defende a construção de um novo pacto, com empresários, trabalhadores e setores da baixa classe média.
Na palestra desta terça, o economista compara o populista de esquerda ao liberal de direita, chamando os dois de irmãos: “eles são a favor do consumo a todo custo”.
“O Brasil tem um regime de política econômica liberal desde 1990 que só se tentou mudar no governo Dilma, quando ela baixou os juros, e fracassou. E voltamos outra vez a um regime liberal, ou seja, são 27 anos. o resultado qual é? Essa maravilha”, ironizou.
Sobre as reformas, Bresser defendeu a necessidade de uma na Previdência, mas ressaltou que uma reforma trabalhista não só não é necessária como significa precarizar o trabalho. Criticou a Lei do Teto de Gastos, a qual denominou um “escândalo”, em uma “tentativa de reduzir o tamanho do Estado e com isso eliminar a construção do bem-estar social do país”, e defendeu o nome do ex-governador do Ceará, Ciro Gomes (PDT) para candidato a presidência de 2018, como possível solução para os problemas.
“Não basta um ajuste fiscal, porque você precisa superar a armadilha macroeconômica de juros altos e taxa de cambio apreciada, e o atual governo está muito feliz com isso. Durante 12 anos, até 2010, o Brasil estava com as suas contas absolutamente em ordem, com superávits primários perfeitamente de acordo com as demandas do FMI, e, no entanto onde é que estava o crescimento extraordinário do país?”, questionou Bresser, finalizando: “Uma reforma trabalhista quer dizer que a causa dos males no Brasil são as leis trabalhistas que encarecem os custos das empresas. O Brasil se desenvolveu extraordinariamente com essas leis, o que atrapalha não são elas. Só se nós acreditarmos que o Brasil não cresce por causa dos trabalhadores, e não por causa do juros do [presidente Michel] Tem
Crédito: Rebeca Letieri do projeto de estágio do JB – JB Online – disponível na internet 07/06/2017