Especialistas dão dicas de como escolher o plano de saúde

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Cuidar da saúde não é fácil. Imprevistos podem ocorrer a qualquer momento. Com a precariedade do atendimento público, ter um plano de saúde passou a ser uma opção cada vez mais importante para socorrer as pessoas nas horas de dificuldade e evitar um aperto repentino no bolso. Escolher um convênio, contudo, exige cuidados, advertem especialistas.
O principal passo é conhecer o próprio organismo e o histórico familiar de doenças . Desta maneira, é possível definir qual é objetivo ao adquirir o plano de saúde. Há diversas formas de se contratar um seguro e a pessoa precisa ficar atenta para não escolher um que não a atenda direito.
A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), que regula o setor, orienta o consumidor a se informar antes de assinar qualquer contrato. A decisão não deve ser tomada por impulso e, sim, após uma avaliação de necessidade do indivíduo e de seus familiares. No site da instituição, há uma cartilha que ajuda os consumidores a escolher a operadora.
O essencial é que as mensalidades do plano caibam no orçamento. “Não adianta insistir numa situação que esteja fora da realidade ou o consumidor vai acabar perdendo o convênio por falta de condições de arcar com as parcelas”, diz José Vignoli, educador financeiro do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil).

Bárbara Cabral/Esp. CB/D.A Press
Decisão não deve ser tomada por impulso e, sim, após uma avaliação de necessidade do indivíduo e de seus familiares – Imagem de Bárbara Cabral/Esp. CB/D.A Press 
Por isso, o importante é que a pessoa tenha um controle das contas no dia a dia para saber quanto pode pagar pelas mensalidades. “Isso depende de cada situação, mas, de um modo geral, as pessoas podem separar 10% da renda por mês”, afirma Vignoli. “A pessoa precisa analisar os gastos fixos mensais, como escola, contas da residência e outras. Se extrapolar a remuneração mensal, aquele plano não é sustentável para a família”, diz Vignoli.

Reajustes

Nos planos individuais e familiares, existem 10 faixas de reajuste: do nascimento aos 18 anos, de 19 a 23 anos, de 24 a 28 anos, de 29 a 33 anos, de 34 a 38 anos, de 39 a 43 anos, de 44 a 48 anos, de 49 a 53 anos, de 54 a 58 anos e de 59 anos ou mais.
Para evitar que as pessoas mais velhas sofram com correções abusivas, o valor da mensalidade no penúltimo grupo não pode ser seis vezes maior que o da primeira. “Ou seja, se o valor cobrado na faixa até 17 anos for de R$ 100, uma pessoa de 70 anos, no mesmo plano, não pode pagar mais de R$ 600”, exemplifica Ana Carolina Navarrete, pesquisadora em saúde do Instituto de Defesa do Consumidor (Idec).
Nos planos coletivos — empresariais e por adesão —, contudo, o reajuste não é regulado pela ANS, mas definido por acordo entre a operadora e a associação a que o consumidor pertence. Nesses casos, é preciso cuidado, pois os reajustes podem ser bem mais salgados. O problema é que encontrar  plano individuais e familiares tem sido cada vez mais difícil. Para escapar do controle da ANS, a maioria das operadoras só oferta planos coletivos ou empresariais. Assim, fica difícil fugir dos reajustes elevados.
Com aumentos exagerados, porém, muitas pessoas perdem a condição de bancar o plano. “Nesse caso, o consumidor deve verificar se o seguro está atendendo ou se está, eventualmente, acima das necessidades. Há possibilidade de migrar para outro mais simples. Infelizmente, não é possível custear tudo. Às vezes dar um passo para trás é difícil, mas pode ser essencial”, diz Vignoli.
Em alguns casos, o plano mais caro não é aquele que melhor atende o cliente. O empresário Robert Vieira de Landa, 44 anos, por exemplo, conta que a antiga operadora “fez de tudo” para não autorizar uma cirurgia de hérnia de disco, mesmo com ele pagando R$ 5 mil por mês para a cobertura completa de quatro pessoas — média de R$ 1,25 mil para cada uma. “Começaram a tentar protelar o processo, pedindo uma segunda opinião de um médico que ficava em São Paulo. Toda semana eu estava no pronto-socorro para tomar um medicamento que aliviava a dor”, lembra.

Reclamações

O empresário conta que entrou com uma reclamação na ANS, que deu prazo de 20 dias para a empresa se manifestar. “No 19º dia, ela liberou a cirurgia”, relata. “Foi um desgaste muito grande. Eu precisei fazer o procedimento três vezes e eles sempre foram resistentes. Então tomei a iniciativa de fazer a portabilidade para outra operadora que oferecesse a mesma cobertura”, alega. Hoje, Robert paga R$ 2 mil por um plano do mesmo nível. “Cobertura realmente completa”, comemora.
Ana Carolina, do Idec, afirma que negativa de procedimentos está entre as três reclamações mais frequentes feitas ao instituto. “Se o médico solicita um tratamento e a operadora nega, há necessidade de um desempatador, mas normalmente ele faz parte da rede de médicos cadastrados da própria empresa. Então, a gente questiona o conflito de interesses nesses atos, já que eles são vinculados à operadora”, pondera.
A servidora pública Rayane Cristina, 26 anos, teve um problema parecido. Ela precisa de atendimento psicológico constante. Depois de quase um ano frequentando um profissional da área, a operadora avisou que ela só teria o direito de terminar 10 sessões. “Eles não poderiam restringir, porque nem relatório do médico solicitaram”, reclama Rayane. Após a servidora fazer uma queixa no site ReclameAqui, a empresa retomou os atendimentos. “Mas eu tive que reclamar para conseguir. Fui atrás. Qualquer outra pessoa sem instrução teria sido enganada”, diz.
Segundo a especialista do Idec, em casos como esse, o primeiro passo é procurar a própria seguradora. Caso ela não resolva o problema, a ANS, o portal do consumidor do Ministério da Justiça ou as entidades de defesa do consumidor podem ajudar. Em último caso, Ana Carolina indica procurar o Judiciário.
Outro problema recorrente é a mudança da rede de hospitais e clínicas credenciados, o que muitas vezes implica queda na qualidade do atendimento. “ Caso algum hospital, clínica ou centro cirúrgico deixe o plano, a operadora é obrigada a colocar um de igual nível”, afirma Maria Inês Dolci, coordenadora institucional da Proteste.
Em outras situações, não há transparência no serviço prestado. A professora Luiza Moretti, 26 anos, só conseguiu ser bem atendida depois de reclamar. Ela precisava de um exame que foi negado por todos os estabelecimentos credenciados pelo plano. “A operadora dizia que a única coisa que podia me oferecer era a lista que já estava no site”, relata. Depois que fez uma queixa no site de reclamações, o tom da empresa mudou. “Me deram outra lista, alegando que a do site estava desatualizada. Então, percebo que não há uma comunicação entre a rede credenciada e a própria operadora”, diz Luiza.
Crédito: Hamilton Ferrari/Correio Braziliense – disponível na internet 06/11/2017

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