Partidos do centro procuram representante para eleições de 2018

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Com as pesquisas de intenção de voto polarizadas entre Lula e Bolsonaro, dois nomes apresentam-se como mais viáveis numa opção mais moderada: Geraldo Alckmin e Henrique Meirelles, mas ambos têm uma série de arestas para aparar com aliados

O centro precisará marchar unido nas eleições de 2018 para evitar que a corrida eleitoral seja dominada e decidida pelos extremos Luiz Inácio Lula da Silva e Jair Bolsonaro. A pulverização de candidaturas não ajuda em um cenário de descrença na política tradicional e de financiamentos espartanos de campanha, avaliam estrategistas alinhados ao governo. A fórmula parece simples. Mas, até o momento, as duas opções que se apresentam mais viáveis — o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles — têm uma série de arestas a aparar interna e externamente se quiserem sonhar com o Palácio do Planalto a partir de 2019.

 Nem mesmo a sinalização de que a economia começa a retomar o crescimento, com o Produto Interno Bruto (PIB) de 3% no ano que vem, é suficiente para amenizar os obstáculos, que começam com o próprio modelo de financiamento de campanha. Sem arrecadação privada e com a conhecida falta de disposição do brasileiro de doar como pessoa física, os partidos precisarão custear as campanhas com base no fundo eleitoral. “Se o PSDB partir para a radicalização e não se alinhar ao Planalto, não terá dinheiro para bancar a corrida”, prevê um interlocutor do presidente Michel Temer.

Temer vai buscar, até o último momento, manter coesa a atual coalizão governista, que inclui PR-PP-PSD-PMDB-DEM-PRB-PSC, e construir uma candidatura única nesse grupo de partidos. Embora deseje ardorosamente que os tucanos estejam nesse projeto, o presidente sabe que a parceria precisa ser construída a partir do reatamento das relações com o próprio Alckmin, estremecidas desde a apresentação da primeira denúncia contra o peemedebista, em maio deste ano. Por isso, a análise do fundo eleitoral é crucial: quanto maior a coligação, mais dinheiro disponível para garantir uma candidatura presidencial e nomes fortes nos estados.

Com os sinais ainda hostis enviados pelo PSDB, Temer autorizou Henrique Meirelles a se aventurar. Embora seja o nome enxergado pelo mercado como o grande fiador do rearranjo da economia, o ministro da Fazenda tem fantasmas difíceis de exorcizar no atual momento. A falta de traquejo político alia-se ao desconhecimento que tem perante o eleitorado, com 2% de intenção de voto.

Além disso, o cargo que ele exerce pode ter um bônus e um ônus ao mesmo tempo. Pode dizer que arrumou a casa e garantiu a volta do crescimento. Mas também será acusado de ser o médico que aplicou remédios amargos, como a reforma trabalhista, o congelamento dos gastos públicos por 20 anos e, ao que parece, cada vez menos provável, a reforma da Previdência. “Não é fácil, óbvio. Mas Meirelles vai dizer que o Brasil não pode mais errar. Que ele ajudou a arrumar a rota e vai continuar fazendo com que o país caminhe na direção certa”, aposta o especialista em marketing digital Marcelo Vitorino.

Meirelles, contudo, pode ser obrigado a lutar com inimigos internos. O presidente do PSD, Gilberto Kassab, partido ao qual o ministro é filiado, é colega de Esplanada — comanda o Ministério de Ciência e Tecnologia —, mas sonha na eventual dobradinha com o PSDB, ao menos em São Paulo. Caso o senador José Serra decida concorrer ao Palácio dos Bandeirantes, Kassab poderá se apresentar como seu vice, o que o aproximaria de Alckmin no plano nacional.

Movimento

A vida de Alckmin tampouco é simples. O tucano, conhecido na vida política como alguém avesso a movimentos bruscos — na linguagem do futsal seria aquele que joga parado —, foi obrigado a se deslocar e assumir o comando do PSDB para evitar que o partido se esfacelasse na briga entre o governador de Goiás, Marconi Perillo, e o senador Tasso Jereissatti (CE). O primeiro grande desafio que terá de enfrentar é equilibrar as diversas tendências na escolha dos cargos da Executiva Nacional e do Diretório Nacional, que serão definidos na convenção do partido marcada para o sábado que vem.

Outra questão que dificultará a vida do candidato tucano é como ele vai se relacionar com o PMDB, legenda que está desgastada pela denúncia contra nomes importantes do partido, mas que sempre é fiador de qualquer candidato que sonha assumir o Planalto. “O PMDB tem uma imagem de fisiologismo muito arraigada, algo que, atualmente, provoca repulsa no eleitorado. Quanto mais próximo o PSDB estiver, maior o carimbo de fisiologismo. É um equilíbrio que Alckmin precisará encontrar”, adianta Carlos Melo, cientista político e professor do Insper.

Desafios do governador


» Dividir os cargos da executiva e do diretório do PSDB em condições equilibradas

» Aumentar o índice de intenção de voto, que hoje está entre 5% e 8%

» Tornar-se conhecido fora de São Paulo

» Torcer para a economia decolar

» Descolar-se do governo Temer

Desafios do ministro

» Dividir os cargos da equipe econômica para quando ele se desincompatibilizar do cargo

» Aumentar o índice de intenção de voto, estacionado hoje em 2% a 3%

» Tornar-se conhecido para além do mercado financeiro e de empresários

» Fazer a economia decolar

» Descolar-se do estigma de ser o arauto das medidas impopulares

Crédito: Paulo de Tarso Lyra/Correio Braziliense – disponível na internet 04/12/2017

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