O risco de se eleger neófitos. 

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As eleições se aproximam céleres. Os atuais donos do poder se assanham, julgando que o povo é uma massa de manobra construída de idiotas ou anencéfalos

A famosa frase de Tom Jobim — “O Brasil não é para principiantes” — nunca esteve tão atual quanto neste ano eleitoral que já começamos a viver. Ainda que governados desde 2002 por uma associação de criminosos, et pour cause, não podemos entregar o poder a neófitos. Seria um desastre. Há uma onda perversa nesse sentido mundo afora, e criminalizar a política e os políticos não é uma atitude saudável ou sábia para sanear a representação e a administração pública desses flibusteiros e saqueadores do Erário.

Veja-se o caso clamoroso dos EUA. Elegeu-se lá um outsider demagogo, apenas porque era notório, e deu no que deu. Um país desgovernado, em franca decadência econômica no ranking dos PIBs mundiais. Já há previsões de que, até 2050, será superado por China e Índia, nessa ordem. Enquanto que nosso país saltará de sétima para quinta posição, apesar dos desmandos e de todas as roubalheiras na política, em invejável processo internacional de correção.

Longe das fulanizações primárias, procuremos nomes na própria imprensa, na academia ou no exercício mesmo do poder. Há incontáveis gestores públicos, probos e competentes no Brasil, como o atual prefeito de Manaus e ex-líder no Senado no governo FH. Manaus acaba de receber prêmios de exemplo de boa gestão. Arthur Virgílio é um nome íntegro e competente, por exemplo, em que pese ser um político profissional. Outro é o ex presidente do STF e ex-relator do mensalão, Joaquim Barbosa. Negro, lutador, de origem humilde, ascendeu ao mais alto posto do Judiciário brasileiro vindo de concurso público e pós-graduação na Sorbonne. Há outros, muitos outros, ao escrutínio do eleitor. Basta procurar. São dois nomes preparados e experientes, criados na administração pública.

Portanto, achar que soluções mirabolantes como candidatos militares, por exemplo, cuja formação nada tem a ver com a gestão pública, mas com a defesa da nossa integridade territorial ou do inimigo externo, da soberania e da segurança nacional, é um lamentável equívoco.

Os militares brasileiros, apesar de íntegros em sua maioria, deram um golpe de Estado em 1964 para acabar com a corrupção. Pois bem, não prenderam um único corrupto em 20 dolorosos anos no poder, e seu último candidato à Presidência da República no Colégio Eleitoral de 1984 foi o senhor Paulo Salim Maluf, hoje atrás das grades e procurado pela Interpol em mais de 120 países. Ao contrário, a grande obra saneadora na profilaxia contra a corrupção que já colocou atrás das grades um sem-número de maus políticos, maus empresários e até um almirante, veio da ação cívica de promotores públicos, juízes togados e policiais federais dedicados, todos civis e concursados, portanto afeitos à administração pública e seus princípios. Respeitosos todos do estado democrático de direito e da Constituição da República. Utilizando-se exclusivamente da força do Direito, e não do “direito” da força. E assim procedendo, esses servidores públicos exemplares já recuperaram aos cofres públicos bilhões de reais furtados do bolso do eleitor-contribuinte. Um belo celeiro de bons legisladores e gestores públicos. Por que não procurar aí bons candidatos?

As eleições se aproximam céleres. Os atuais donos do poder se assanham, julgando que o povo é uma massa de manobra construída de idiotas ou anencéfalos. Pois terão sua resposta nas urnas. Esta é a nossa chance de redimir a nossa e as gerações futuras. Nossa única arma é o voto. Os bandidos a têm arrancado de nossas mãos a cada quatro anos em nosso desfavor. Chegou a hora do basta. Anular o voto ou não votar em quem já tem mandato é entregar a arma ao assaltante, em vez de atirar em legítima defesa. Votar com consciência e coerência. E conquistar votos dos pobres iletrados em política, estes sim a munição dos quadrilheiros. Às urnas, pois! Vamos fazer a faxina em nossa casa cívica. Mas com todo o cuidado para não quebrar o jarro precioso da democracia.

Artigo publicado no Jornal O Globo – disponível na internet 02/02/2018

Nota: O presente artigo não traduz necessariamente a opinião do ASMETRO-SN. Sua publicação tem o propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo.

 

2 Comentários

  1. Esse é mais um esquerdista “caviar” anti-Bolsonaro que, assim como o jornal ao qual escreve, demonstra morrer de medo de um homem como o Bolsonaro, probo, político profissional, branco, militar, que a cada dia cresce nas pesquisas, virar presidente do Brasil . Esse artigo reproduz a voz da classe política dominante, da mídia e de uma elite que tem repimpado-se do erário e da própria corrupção a qual condena. Lamentável esse tipo de postura anti-democrática e elitista.
    Espero que a Asmetro publique artigo de contraponto à esse totalmente enviesado, pois de outro modo, demonstrará, sim, que “O presente artigo traduz necessariamente a opinião do ASMETRO-SN.”

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