Duas semanas depois da polêmica em torno de declarações do chefe maior do Exército, feitas às vésperas do julgamento que abriu caminho para a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Roberto Barroso fez longa defesa dos militares em palestra na escola de Direito da Universidade de Harvard, nos EUA.
Questionado pela plateia sobre uma eventual ameaça militar à democracia brasileira, Barroso disse que membros das Forças Armadas têm “comportamento exemplar” e que “pagaram um preço muito alto após estarem no poder”.
“Não já razão para temê-los” e “duvido que eles queiram estar lá de novo”, disse o ministro da mais alta corte do país.
“O que você pode sentir é que os militares, como todo mundo no Brasil, estão preocupados e querem mudar as coisas para melhor. Como eu também”, avaliou.
Ainda segundo Barroso, que falou por 30 minutos, em inglês, a uma plateia de advogados, juízes e promotores, é importante que se “diga algo bom sobre os militares no Brasil”.
“Eu era um militante contra o regime militar e me opus fortemente a ele, mas, se há uma parte do Brasil que não deu nenhum problema nos últimos 30 anos, foram os militares.”
Duas semanas depois da polêmica em torno de declarações do chefe maior do Exército, feitas às vésperas do julgamento que abriu caminho para a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Roberto Barroso fez longa defesa dos militares em palestra na escola de Direito da Universidade de Harvard, nos EUA.
Questionado pela plateia sobre uma eventual ameaça militar à democracia brasileira, Barroso disse que membros das Forças Armadas têm “comportamento exemplar” e que “pagaram um preço muito alto após estarem no poder”.
“Não já razão para temê-los” e “duvido que eles queiram estar lá de novo”, disse o ministro da mais alta corte do país.
“O que você pode sentir é que os militares, como todo mundo no Brasil, estão preocupados e querem mudar as coisas para melhor. Como eu também”, avaliou.
Ainda segundo Barroso, que falou por 30 minutos, em inglês, a uma plateia de advogados, juízes e promotores, é importante que se “diga algo bom sobre os militares no Brasil”.
“Eu era um militante contra o regime militar e me opus fortemente a ele, mas, se há uma parte do Brasil que não deu nenhum problema nos últimos 30 anos, foram os militares.”
A pergunta era fruto de dois tuítes publicados pelo general Eduardo Villas Bôas, ocupante do cargo mais alto do Exército, um dia antes da votação do habeas corpus pedido pelo ex-presidente Lula – e negado pela Suprema Corte.
“Nessa situação que vive o Brasil, resta perguntar às instituições e ao povo: quem realmente está pensando no bem do país e das gerações futuras e quem está preocupado apenas com interesses pessoais?”, perguntou Villas Bôas, e complementou: “Asseguro à Nação que o Exército Brasileiro julga compartilhar o anseio de todos os cidadãos de bem de repúdio à impunidade e de respeito à Constituição, à paz social e à Democracia, bem como se mantém atento às suas missões institucionais”.
A fala dividiu opiniões e foi criticada por, supostamente, pressionar ou constranger os juízes do STF antes da votação.
Aliados da corrupção ‘estão onde você menos esperaria’
Durante sua fala, Barroso destacou três grandes avanços da democracia brasileira, que completa três décadas: a estabilidade institucional, o fim da hiperinflação e vitórias contra a pobreza extrema com inclusão social.
O lado ruim, diz o juiz, foi a descoberta de que “a corrupção no Brasil não é causada por falhas individuais, é uma corrupção sistêmica que envolve esquemas profissionais de coleta e distribuição, do qual fazem parte agentes públicos e privados, empresas estatais e privadas, partidos políticos, membros do congresso, do Executivo”.
“É impossível não sentir vergonha do que acontece no país”, continuou Barroso.
O ministro elogiou a mobilização da sociedade contra a corrupção, mas reconheceu importantes obstáculos no sistema político, empresarial, na imprensa e “onde menos se pode imaginar” – numa referência interpretada como feita ao próprio poder Judiciário.
No último dia 21, uma discussão pública entre Barroso e o par Gilmar Mendes, também ministro da Suprema Corte, se tornou o assunto mais comentado pelos brasileiros em redes sociais.
“Vossa Excelência defende interesses que não são os da Justiça”, disse Barroso a Mendes. “Vossa Excelência nos envergonha, vossa Excelência é uma desonra para todos nós. Vossa Excelência sozinho desmoraliza o tribunal”, afirmou.
Questionado pela BBC Brasil após a palestra se fez referência a colegas do Judiciário quando disse “onde menos se pode imaginar”, Barroso se esquivou.
“Eu disse o que eu disse”, afirmou, rindo, e se preparando para posar para fotos com dezenas de fãs que o elogiavam e cumprimentavam após a fala.
O evento em que Barroso deu palestra foi organizado pela Harvard Law Brazilian Studies Association e reuniu importantes autoridades brasilerias, como a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, e os juízes Sergio Moro e Marcelo Bretas, da Operação Lava Jato.
“Ganharemos por pontos, não nocaute”
Barroso sugeriu paciência à sociedade, já que uma eventual vitória do país contra a corrupção não acontecerá de uma hora para outra.
“Essa é uma luta que ganharemos por pontos, não por nocaute”, disse, em referência ao boxe.
O ministro comparou a situação brasileira à de um “viciado em drogas”, em metáfora sobre o “momento devastador” pelo qual passa o país.
“Imagine um indivíduo viciado em drogas. Ele é muito funcional, consegue fazer seu trabalho bem. Mas o vício está fazendo muito mal a ele”, disse.
“No momento em que ele começa a enfrentar o vício, a vida fica muito mais difícil, por causa da abstinência”, continuou. “Mas essa é a única maneira de ele melhorar.”
Para o ministro, o país “se viciou numa forma de fazer negócios e política muito corrupta”. “Acho que estamos no caminho de nos dar conta da gravidade do problema e começamos o ‘detox’ e nos livrarmos dessa droga, que é a corrupção.”
A crise atual, segundo ele, seria a crise de abstinência da corrupção.
‘Revolução profunda’
Repetindo o que disse uma semana antes a estudantes de Harvard e do MIT, em outra conferência, Barroso defendeu uma redução do tamanho Estado – um discurso associado à direita no Brasil.
“O setor público é muito grande e ineficiente”, avaliou.
Ao mesmo tempo, celebrou avanços comemorados por progressistas, como a celebração dos direitos de casais homossexuais (“impensável há 30 anos”), demarcações em terras indígenas (“proteger índios protege também o meio ambiente”) e avanços na legislação sobre transexuais.
Houve breve autocrítica ao STF: “Não quero dizer que a Suprema Corte sempre faz o melhor, há decisões contra as quais me oponho fortemente, como as aulas religiosas nas escolas e a cláusula de barreira”, afirmou.
Para o ministro, a corrupção e a transformação do país não acontecerá apenas por meio da justiça, mas de uma reforma política e de investimentos em educação.
“Estamos à beira de uma revolução profunda no Brasil: mudar o paradigma da ética pública e privada”, afirmou.
“Esta é a última tarefa da nossa geração: ganhamos da ditadura, da hiperinflação e tivemos grandes vitórias contra a pobreza extrema”.
Ele encerrou citando uma frase ouvida de um estudante que veio cumprimentá-lo após uma palestra recente.
“Eu não quero morar num país diferente. Quero morar num Brasil diferente.”