‘Embraer terá chance de sobreviver’ para analista, sem a Boeing, brasileira não conseguiria competir com Airbus

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Sem a Boeing, a Embraer poderia acabar perdendo muito mercado para a Airbus, que agora controla a Bombardier. Essa é a visão de Richard Aboulafia, vice-presidente de Análises do Teal Group, consultoria americana especializada no mercado de avião e defesa. Ele afirma que novos competentes estão entrando no mercado da Embraer, que agora poderá se beneficiar com redução de custos.

O negócio é bom para a Embraer?

Eu penso que para a Embraer o acordo de hoje é fundamental. Pois para uma empresa como ela para competir com o poder da Airbus, que comprou a Bombardier. Antes a brasileira competia com a canadense, agora está competindo com a gigante europeia. Então ela precisava ganhar escala e o acordo com a Boeing é fundamental.

Essa compra pela Boeing pode ser ruim ou boa para empregos e tecnologia no Brasil?

Eu não acredito que empregos e a tecnologia estão em risco, pelo contrário, eu acredito que a tecnologia da Embraer poderá ser encorajada, para inovar. Eu acredito que o Brasil tem engenheiros de grande qualidade que poderão ser incentivados.

A Embraer ganhará mais mercados?

Não sei ganhará mais mercados, mas é uma forma de ela seguir lutando. Quero dizer, os jatos da Bombardier e da Embraer estavam se tornando muito caros e agora com as associações (a compra da empresa canadense pela Airbus e da Embraer pela Boeing) conseguirão reduzir custos. A Embraer passa a ter mais condições de enfrentar a Airbus, que é muito agressiva em sua cadeia de fornecedores, e agora a Embraer terá chances de competir, de sobreviver.

Temos visto empresas de países como China, Rússia e Japão tentando desenvolver aviões regionais para competir com a Embraer. Qual mais ameaça a empresa?

A China (Comac) não deve ameaçar muito, mas vemos um interesse forte da Rússia (Sukhoi) e um potencial muito grande do Japão (Mitsubishi) de ter sucesso. Esta é uma razão pela qual eu acredito que é inteligente por parte da Embraer se associar a alguém maior. Para sobreviver precisa controlar custos o máximo possível.

A Boeing também terá mais chances de tentar recuperar o mercado com a Embraer?

Para o volume da Boeing, não importa muito este mercado de jatos regionais, mas para ela será importante ter uma gama completa de aviões. Ter toda a família de aviões pode ser importante para ter vantagem no mercado que realmente interessa, que são os aviões acima dos jatos regionais.Assim, deste ponto de vista,a Boeing poderá ganhar mercado. E pode haver uma integração melhor das cadeias de fornecedores.

O mercado dos jatos regionais já foi apresentado como o futuro. Há dez anos, a Airbus apostou no super-aviões, com o A-380, que não teve sucesso. Enfim, para qual segmento o mercado está olhando agora?

Eu acredito que o futuro está no meio termo (de 130 a 220 passageiros). É nesta categoria (onde estão, por exemplo o Airbus A-320 e o Boeing 737-800) que está crescendo o mercado, onde há maior concorrência, estes aviões de um corredor com uma capacidade maior que os jatos regionais. A questão mais estratégica agora é o custo destas aeronaves, por isso é importante ter escala e uma boa cadeia de fornecedores.

A Boeing poderá com o acordo ter uma nova plataforma de exportação, incluindo produtos com patentes que são controladas nos EUA, como a tecnologia militar, que seria desenvolvida no Brasil?

Temos que lembrar que a parte militar está fora do negócio. O que sim poderá ocorrer é ampliar o acesso de produtos militares da Embraer, como o avião KC-390 (a maior aeronave produzida pela empresa brasileira). Temos que lembrar que além 28 aviões da a Força Aérea Brasileira o avião está sendo negociado com uma dezenas de outros países. Ou seja, é um bom avião, mas que estava com dificuldade para entrar no mercado americano, e isso agora pode mudar. A Embraer será vista de outra maneira por outros mercados. E temos que lembrar que a Embraer tem muitas tecnologia, bons produtos, e agora terá mais acesso a mercados com a Boeing.

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Crédito: Henrique Gomes Batista/ O Globo – disponível na internet 06/07/2018 

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