A OneWeb, empresa com sede em Londres, está pronta para lançar os primeiros seis satélites de seu projeto bilionário para levar internet a todos os cantos do planeta.
O plano é de colocar cerca de 2 mil objetos do tipo na órbita em torno da Terra.
Outras empresas também prometem colocar chamadas megaconstelações – redes de novos satélites – em órbita, mas a OneWeb acredita ter a vantagem de tomado a frente nessa iniciativa, e de contar com um sistema operacional próprio.
O lançamento de seus satélites, nesta quarta-feira, em um foguete russo Soyuz, a partir da Guiana Francesa, foi programado para as 18h37, horário de Brasília.
Controladores na sede da OneWeb em Londres estarão esperando para captar sinais do equipamento quando eles se soltarem da parte superior do foguete russo.
Stéphane Israël, CEO da Arianespace SAS, empresa que colocará os satélites em órbita para a OneWeb, usou o Twitter domingo para comemorar “o sucesso” dos preparativos para o lançamento.
“Operações bem sucedidas ontem (sábado)! Os satélites da @OneWeb estão agora no nosso veículo de lançamento #Soyuz. Lançamento em breve! Vai OneWeb! Vai !”, escreveu ele.
A tarefa mais importante dos satélites é garantir as frequências necessárias que permitirão a transmissão de dados em alta velocidade de internet.
Supondo que esses desbravadores tenham o desempenho esperado, a OneWeb seguirá com a colocação do restante da constelação de satélites no final do ano.
Haverá um lançamento mensal de foguetes Soyuz, que levarão até 36 satélites por vez.
Para fornecer cobertura global de internet, serão necessárias 648 unidades em órbita.
“Nós vamos conectar muita gente que não está conectada no momento”, explicou Adrian Steckel, CEO da OneWeb. “Vamos começar focando em conectar escolas, navios, aviões e grandes áreas do planeta que não fazem sentido para fibra (internet por fibra óptica)”, disse ele à BBC News.
Quem está apoiando a OneWeb?
A empresa foi criada pelo empresário de telecomunicações americano Greg Wyler.
Ele já havia fundado outra constelação, chamada O3b, que significa “outros três bilhões” – uma referência à metade do planeta sem conectividade.
A O3b opera uma frota de 16 satélites que se deslocam pelo equador a uma altitude de 8.000 km.
A OneWeb é uma ideia ainda mais grandiosa de Wyler – uma rede muito mais densa que voa a apenas 1.200 km acima do solo.
A proximidade dos satélites, sua alta taxa de transferência – mais de um terabit por segundo através da constelação – e a cobertura global prometem transformar o provimento de internet para aqueles que estão atualmente desassistidos ou simplesmente não contam com o serviço.
Pelo menos essa é a visão compartilhada pelos parceiros da OneWeb, grupo que inclui empresas como a fabricante de chips Qualcomm, o Virgin Group, de Richard Branson, a gigante Coca-Cola, a especialista em comunicações via satélite Hughes e a financiadora de tecnologia SoftBank.
Quais são os custos dessa iniciativa?
Os custos são bem altos.
A tecnologia de satélites é muito mais barata do que costumava ser, e o grande número de satélites necessários para a rede reduz o custo unitário. Mesmo assim, os satélites, produzidos pela Airbus, parceira da OneWeb, tem um preço estimado em cerca de US$ 1 milhão (o equivalente a R$ 3,75 milhões) cada.
E quando você adiciona toda a infraestrutura necessária para operar o sistema, o custo total é de mais de US$ 3 bilhões (R$ 11,25 bilhões).
Algumas iniciativas anteriores nessa área, voltadas para a criação de constelações semelhantes, não deram certo. Empresas de comunicação por satélites, como a Iridium e a Globalstar, só existem hoje porque processos de falência as dispensaram de suas dívidas.
Vários outros grupos registraram interesse em competir com a OneWeb, incluindo a SpaceX, do empresário Elon Musk. Engenheiros da Space até já colocaram (dois) satélites em órbita para demonstrar tecnologias.
Analistas parecem seguros de apenas uma coisa: o mercado não dará conta de todas as megaconstelações propostas.
Qual é a perspectiva do Reino Unido aqui?
A OneWeb estabeleceu sua sede no oeste de Londres, capital do Reino Unido, em escritórios antes ocupados pela BBC. A empresa tem cerca de 70 funcionários atualmente e espera aumentar o número para cerca de 200.
A sede tem uma sala de controle de satélites, embora essa função também seja realizada nos EUA.
Sucessivos governos do Reino Unido tentaram fomentar um ambiente regulatório e de negócios que estimulasse empresas espaciais a fazerem da Grã-Bretanha sua base – e eles conseguiram, acredita o CEO da OneWeb, Adrian Steckel.
“Acreditamos que a Agência Espacial do Reino Unido (UKSA) fez um trabalho fantástico, olhando para a OneWeb como um novo marco na indústria de satélites e ampliando as possibilidades de uso de nossos serviços”, disse ele à BBC News.
“E eles têm trabalhado conosco, de mãos dadas, no que diz respeito a analisar o processo de regulamentação. Eles têm sido grandes defensores disso.”
A UKSA gasta somas significativas em pesquisa e desenvolvimento (P&D) de telecomunicações via satélite. A agência faz isso por meio de sua participação na Agência Espacial Europeia (ESA, na sigla erm inglês).
A ESA desenvolve novas tecnologias que, esperamos, manterão as empresas europeias globalmente competitivas. E a UKSA acaba de colocar 18 milhões de libras em um programa que deve beneficiar a próxima geração de satélites da OneWeb, em particular na forma como elas interagem e trabalham junto às redes móveis terrestres 5G que agora estão sendo fomentadas.
O espaço já não está cheio demais?
Este é um ponto muito debatido. Há mais de 4 mil satélites operando em órbita, voando em várias altitudes; e um número um pouco maior de equipamentos espaciais antigos que interromperam as operações.
Se várias megaconstelações forem lançadas, haverá uma aumento significativo nessa população em órbita – e o potencial de colisões tem preocupado especialistas.
Um estudo recente – patrocinado pela Agência Espacial Europeia e apoiado pela Airbus – descobriu que as novas redes precisarão tirar de órbita seus veículos espaciais antigos, obsoletos, dentro de cinco anos ou correrão o risco de aumentar seriamente a probabilidade dos objetos se chocarem uns com os outros.
A OneWeb diz estar com essa preocupação em mente. A UKSA, como o órgão de licenciamento, tem trabalhado em estreita colaboração com a empresa para garantir que equipamento ultrapassado seja retirado do céu o quanto antes.
“Todos os candidatos aprovados para as licenças do Outer Space Act devem demonstrar adequação às melhores práticas estabelecidas em termos de operações seguras e sustentáveis”, disse um porta-voz.
“Isso inclui o descarte seguro de satélites em fim de vida útil, por exemplo, retirando-os de órbita para minimizar o potencial de colisões e a criação de detritos espaciais.”