O Ministério da Justiça e o INSS vão atuar juntos para tentar coibir o problema, que tira o sono de muitos aposentados no país e os leva ao endividamento
O Ministério da Justiça e o INSS vão atuar juntos para tentar coibir um problema que tira o sono de muitos aposentados. O assédio de instituições financeiras oferecendo empréstimos consignados.
Foi no desespero. Aposentada, 79 anos, Maria de Lourdes Silva cansou de receber ligações de instituições financeiras oferecendo empréstimo consignado. Acabou aceitando: “Eu fiz, mas eu me arrependo sinceramente. Nossa, aqueles três anos que eu fiquei pagando aquilo, você não queira imaginar como eu ficava, meu Deus. Eu não podia comprar carne, verdura, laranja. Tem que diminuir. Em vez de comprar uma dúzia, comprar meia”.
E como isso acontece. Muitas vezes, acabou de se aposentar, começa o assédio. Ofertas e mais ofertas de empréstimo consignado. Agentes financeiros oferecem empréstimos fáceis, quase sempre por telefone. E são insistentes.
O INSS tem o perfil de quem mais sofre esse assédio: aposentados que ganham até dois salários mínimos (R$ 1.996); 83% de todos que recebem a aposentadoria do INSS.
“Essa condição dá a esses aposentados um perfil de hipervulnerabilidade. Eles estão sujeitos a uma pressão indevida, a um assédio indevido. Muitas vezes eles respondem de forma impensada”, afirma o presidente do INSS, Renato Vieira.
O empréstimo consignado é uma das principais causas de superendividamento de idosos no país e, também, de reclamações no INSS. Em 2017, foram 63 mil. Em 2018, 76 mil. E apenas em janeiro e fevereiro de 2019, 11 mil.
Recém-aposentados só poderiam receber ofertas de empréstimo consignado 180 dias após a concessão do benefício – é o que diz a regra do INSS que entrou em vigor este ano. Se receber, é ilegal.
O que o INSS ainda não sabe é como as informações sobre as aposentadorias chegam ao sistema financeiro, já que ninguém pode repassar informações pessoais de aposentados, muito menos o INSS. O instituto quer descobrir onde está o problema, como estas informações estão vazando.
E está pensando em copiar o “não perturbe” das empresas de telefonia. Adotar um sistema que permita aos aposentados bloquear as ligações de instituições financeiras oferecendo o consignado.
“O ‘não perturbe’ é o que todos os aposentados esperam. Vai ser a saída para o fim do assédio de muitas instituições financeiras para os nossos aposentados do INSS”, acredita Renato Vieira.
Crédito: Jornal Nacional do dia 25/07/2019 – disponível na internet 26/07/2019