OMS classifica surto do coronavírus como “ameaça muito grave” para o mundo

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Mais de mil mortos pela doença na China continental. Número diário de casos fatais no país supera os 100 pela primeira vez desde surgimento do vírus. Pequim demite dois funcionários de alto escalão no epicentro do surto. 

O surto de coronavírus, que já matou mais de mil na China, representa uma “ameaça muito grave para o resto do mundo”, afirmou nesta terça-feira (11/02) o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus. Ele observou que 99% dos casos ocorreram na China, com apenas duas mortes relatadas fora do país asiático.

Ainda assim, seria “preocupante” os contágios de indivíduos sem histórico de viagens para a China, surgidos recentemente na França e no Reino Unido. O chefe da OMS pediu a todos os países que deem mostras de solidariedade, compartilhando as informações que possuam, para possibilitar maiores avanços na pesquisa sobre a enfermidade.

Ghebreyesus fez os comentários na abertura de uma conferência de dois dias em Genebra, organizada para tentar acelerar o desenvolvimento de medicamentos e vacinas para o novo coronavírus.

Uma série de mortes e novas infecções continuam sendo relatadas na China. Na segunda-feira, pela primeira vez desde que o vírus surgiu, no fim de dezembro, o número diário de mortos no país superou os 100.

Na segunda-feira, 108 foram vítimas do vírus num período de 24 horas, segundo dados divulgados pelas autoridades de saúde chinesas, superando as 97 mortes do dia anterior. Delas, 103 foram na província de Hubei, epicentro do surto. O total de mortos na China continental, até esta terça-feira, chegou a 1.016.

No mesmo período de 24 horas, 2.478 novas infecções foram confirmadas em toda a China, elevando o total para 37.626. À medida que a pressão aumenta em Pequim, a mídia estatal informou que dois funcionários de alto escalão foram demitidos em Hubei.

Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da OMS
Diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, se preocupa com casos de contágio fora da China

Zhang Jin, secretário do Partido Comunista da Comissão de Saúde da província, e o diretor da comissão, Liu Yingzi, foram demitidos pelo comitê permanente do Partido Comunista de Hubei, o órgão máximo de decisão da província.

Ambas as posições serão assumidas pelo vice-chefe do Comitê Nacional de Saúde da China, Wang Hesheng, aliado do presidente chinês, Xi Jinping, que na primeira semana de fevereiro foi nomeado membro do comitê provincial permanente.

A medida foi anunciada em meio a uma onda de críticas públicas a autoridades da província, precipitadas pela morte de Li Wenliang. Ele foi um dos oito médicos detidos pela polícia de Wuhan por “espalhar boatos”, após terem alertado sobre o novo vírus. Li, de 34 anos, contraiu o vírus de um de seus pacientes e morreu poucos dias atrás.

Desde o início do surto, em dezembro, o vírus se alastrou para cerca de duas dezenas de países, com mais de 400 casos de contaminação confirmados. Mas até agora houve apenas duas mortes fora da China continental: mas Filipinas e em Hong Kong.

Na capital da província de Hubei, Wuhan, a taxa de mortalidade supera os 4%, segundo estatísticas oficiais. Em outros lugares do país, como a província de Guangdong, no sul, a taxa oficial de mortalidade é inferior a 1%.

Em Hong Kong, onde o total de casos confirmados chegou a 49 nesta terça-feira, um conjunto habitacional foi parcialmente esvaziado por temores de que o vírus possa ter se espalhado pela canalização ou pelo sistema de ventilação do edifício.

O alarme ocorreu depois de serem positivos os testes do vírus numa mulher que morava dez andares abaixo do 12º paciente confirmado na cidade, assim como em três contatos próximos dela. As autoridades de saúde, porém, culparam as modificações que a mulher fizera nas canalizações de seu apartamento. Os residentes em quarentena provavelmente serão autorizados a voltar a suas residências dentro de alguns dias, acrescentaram.

“Estamos confinados nas nossas cabines”

No Japão, um navio com mais de 3,7 mil pessoas está em quarentena há vários dias devido a coronavírus, que já infectou mais de 130 a bordo. Em entrevista à DW, passageira dá detalhes sobre a rotina no cruzeiro.

    
Navio Diamond Princess no Porto de Yokohama, próximo a Tóquio
Quarentena no Diamond Princess deve ir até 19 de fevereiro. Navio Diamond Princess no Porto de Yokohama, próximo a Tóquio

Autoridades japonesas reportaram nesta segunda-feira (11/02) mais de 60 novos casos de coronavírus a bordo do navio de cruzeiro Diamond Princess, que está em quarentena no porto de Yokohama, próximo a Tóquio, desde a semana passada.

Com os novos casos, o número de infecções a bordo passou de 130. O ministro da Saúde japonês, Katsunobu Kato, disse que o governo considera fazer exames para identificar o vírus nos 3.711 passageiros e tripulantes do Diamond Princess.

Neste caso, eles deveriam permanecer na embarcação até que os resultados dos testes ficassem prontos. As autoridades já estão lutando para entregar medicamentos solicitados por mais de 600 passageiros. O navio deve permanecer em quarentena até 19 de fevereiro.

Cheryl Molesky é uma das passageiras do Diamond Princess. Ela conversou com a DW sobre como tem sido a quarentena a bordo do navio.

DW: Qual é a situação agora a bordo do Diamond Princess?

Cheryl Molesky: Estamos confinados nas nossas cabines. Só podemos sair para a área externa por 90 minutos por dia. Mas preferimos ficar nos nossos quartos. As refeições são entregues nas cabines num horário específico todos os dias.

Como você descreve a atmosfera no navio?

As pessoas estão ansiosas. Nossos vizinhos do outro lado do corredor diziam no início que tinham fome porque a comida não era entregue no horário. O homem da cabine ao lado da nossa tem diabete e está preocupado com seus medicamentos. Outros tentam se manter animados.

Os passageiros foram aconselhados a deixar suas cabines de maneira ordenada e a manter 2 metros de distância de outras pessoas. Temos que usar máscaras e luvas. Quando é hora de deixar os quartos, o capitão precisa repetir os protocolos.

O que disseram aos passageiros após o início do surto?

Chegamos a Yokohama antes do planejado e nos disseram naquele momento que passaríamos pela alfândega mais rápido. Não recebemos muita informação, somente que um homem ficou doente e desembarcou em Hong Kong.

Fomos examinados por autoridades japonesas, e ficou claro que chegamos mais cedo a Yokohama para que pudéssemos ser examinados. Recebemos um questionário para responder, cada passageiro passou por uma entrevista, e nossa temperatura foi medida.

As autoridades forneceram suprimentos médicos aos passageiros, como máscaras e desinfetantes?

Eles nos deram luvas de borracha, máscaras de proteção e um termômetro, além de lenços de papel e detergente. Desde o início da quarentena, parece um confinamento, mas temos uma varanda na nossa cabine e um pouco mais de espaço para nos exercitarmos. Os passageiros que estão em quartos internos, porém, não têm luz do dia nem espaço para exercícios ou alongamento.

Não tem sido muito difícil para nós, mas estamos preocupados em conseguir medicamentos e com a possibilidade de ficarmos doentes. O capitão faz vários anúncios todos os dias, e sentimos que eles foram muito francos sobre os últimos acontecimentos.

O que você acha do surto de coronavírus?

Você precisaria ser louco para não tomar algumas precauções e cuidado. No entanto, acho que não se pode viver com medo. Preciso dizer que essa experiência tem sido mais confortável do que poderia ser, pois recebemos muito apoio e ajuda do governo japonês e da operadora de cruzeiros.

Deveríamos viajar de férias pelo Japão. Mas até agora não sabemos se isso será possível após a quarentena ou se teremos que voltar para casa imediatamente. Também não sabemos o que vai acontecer nos próximos nove dias em que temos que ficar no navio.

Crédito: Deutsche Welle do Brasil – disponível na internet 12/02/2020

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