Coronavírus: Por que o número de casos suspeitos no Brasil cresceu 1.500% em 24 horas? “Não há motivo para pânico”

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O número de casos de suspeita do novo coronavírus no país deu um salto de cerca de 1.500% em menos de 24 horas, após a confirmação do primeiro brasileiro contaminado.

Na última quarta-feira, o Ministério da Saúde havia informado que 20 suspeitas estavam sendo analisadas.

Agora, há 132, mas este dado é provisório — e o próprio ministério afirma que número final é provavelmente bem superior, porque ainda há 213 notificações enviadas pelas secretarias estaduais de saúde que não foram examinadas por técnicos da pasta.

“Na verdade, estamos perto de 300 casos suspeitos. A grande maioria dos casos pendentes vão entrar para a lista de suspeitas, mas não podemos garantir que serão 100%”, disse o secretário-executivo do Ministério da Saúde, João Gabbardo.

O secretário explicou que os casos ainda não analisados foram classificados como suspeitas pelas secretarias por atenderem os critérios usados desde o início do surto: o paciente deve apresentar febre e algum outro sintoma respiratório e ter viajado para algum país onde houve ao menos cinco casos de transmissão local do vírus ou ter entrado em contato com um caso suspeito ou confirmado.

Mas, com um crescimento súbito das notificações enviadas pelos Estados, a equipe da pasta ainda não conseguiu analisar devidamente todos os casos pendentes.

“Estávamos recebendo dois, três, quatro casos por dia, e, de uma hora para outra, chegaram aqui 300 para análise. É preciso fazer um exame detalhado, ligar para a secretaria, falar com a vigilância epidemiológica, é um trabalho bastante artesanal, e não conseguimos dar conta”, disse Gabbardo.

Mais países, confirmação de caso e Carnaval contribuíram para aumento

O secretário apontou alguns motivos que podem ter contribuído para esse crescimento repentino das notificações.

Em menos de uma semana, a lista de países que fazem parte dos critérios para identificação de suspeitas cresceu significativamente.

Até a última sexta-feira (21/02), apenas a China estava na relação. Foram então acrescentados outros sete países — Japão, Cingapura, Coreia do Sul, Coreia do Norte, Tailândia , Vietnã e Camboja.

Na segunda-feira (24/02), mais oito países entraram para a lista — Alemanha, Austrália, Emirados Árabes, Filipinas, França, Irã, Itália e Malásia.

“Há um fluxo migratório muito maior de países de Europa para o Brasil, principalmente de Alemanha, França e Itália, do que o fluxo que vem da China, e isso fez crescer muito o número de casos que consideramos suspeitos”, disse Gabbardo.

O secretário também apontou que o anúncio de que um brasileiro que havia viajado à Itália é o primeiro caso confirmado no país influenciou.

“Todas as pessoas que vieram da Itália e tinham sintomas, ao saber deste caso confirmado, sentiram necessidade de buscar uma opinião de profissionais de saúde, que também ficam mais atentos e receosos de deixar passar um caso sem fazer o diagnóstico”, disse Gabbardo.

O secretário afirmou ainda que uma demanda reprimida de atendimentos médicos por causa do Carnaval, quando muitas unidades de saúde ficam fechadas, pode ter contribuído para elevar rapidamente as notificações a partir da segunda-feira, quando estes locais voltaram a funcionar normalmente.

Gabbardo disse que não esperava por este aumento repentino. “Temos que analisar nos próximos dias para ver se foi algo pontual e vai voltar à normalidade ou se vai se manter.”

Onde estão os casos suspeitos

Os 132 casos suspeitos já em análise pelo ministério se encontram em 15 Estados — São Paulo (55), Rio Grande do Sul (24), Rio de Janeiro (9), Santa Catarina (8), Paraná (5), Minas Gerais (5), Ceará (5), Rio Grande do Norte (4), Goiás (3), Pernambuco (3), Mato Grosso do Sul (2), Espírito Santo (1), Paraíba (1), Bahia (1) e Alagoas (1) — e no Distrito Federal (5).

Destes casos, dois já foram testados para uma série de vírus respiratórios, e os exames deram negativo. Amostras foram enviadas para laboratórios de referência do Ministério da Saúde para serem testados para o coronavírus. Os outros 130 ainda estão passando por exames preliminares.

Entre as suspeitas, 121 têm histórico de viagem para algum país onde ocorre a transmissão do vírus, 8 tiveram contato com outros casos supeitos e 3 entraram em contato com o único caso confirmado no Brasil até o momento.

“Esse tipo de situação vai começar a aparecer agora que temos um caso confirmado, porque antes eram apenas pessoas que tinham viajado”, disse Gabbardo.

Outras 60 suspeitas foram descartadas desde o início do surto por não atenderem os critérios técnicos e epidemiológicos.

O secretário informou ainda que o aumento das notificações levou a pasta a estudar mudanças no processo de análise de possíveis suspeitas, mas não informou detalhes destes ajustes. “Vamos nos reorganizar para atender essa demanda maior.”


A chefe da Organização Mundial de Saúde (OMS) no Brasil, Socorro Gross, afirmou em entrevista à GloboNews nesta quinta-feira (27) que “não há motivo para pânico” em relação ao novo coronavírus.

Socorro Gross tem participado das reuniões no Ministério da Saúde e da elaboração de medidas de monitoramento da disseminação da Covid-19, a doença provocada pelo vírus.

Mais cedo, nesta quinta, o ministério informou que o Brasil tem 132 casos suspeitos de coronavírus. Um caso foi confirmado nesta quarta (26), em São Paulo.

“Não há motivo para pânico. As pessoas ficam ansiosas e é normal. É normal que nós, como seres humanos, quando acontece algo novo, fiquemos com dúvidas e, ficando com dúvidas, podemos ter pânico. Mas esse vírus, que é novo, nós conhecemos mais que outros vírus, conhecemos mais informação, temos mais pesquisa, temos mais informação da transmissão, do tratamento, de quantos casos podem ser severos, de quais são as populações que são mais afetadas”, afirmou Socorro Gross.

De acordo com a chefe da OMS no Brasil, a organização declarou alerta máximo, de emergência de saúde pública de interesse internacional, mas ainda não há uma pandemia declarada mesmo que a Covid-19 tenha sido registrada em vários continentes.

“Para uma pandemia, o comitê de emergência, que são comitês de ‘experts’, que analisam os fatos, vai recomendar ao diretor-geral, que é a pessoa que pode declarar uma pandemia, se é ou não necessário declarar ou não uma pandemia. Agora, neste momento, não há uma pandemia declarada”, afirmou.

Gross também ressaltou a importância da antecipação da campanha de vacinação contra a gripe, anunciada pelo Ministério da Saúde, porque a medida imunizará a população e diminuirá eventuais fragilidades imunológicas diante do coronavírus.

A chefe da OMS também afirmou que, no mês que vem, a organização revisará os guias clínicos, ou seja, as práticas de saúde em várias áreas para saber se é preciso ajustar protocolos com bebês, gravidas, idosos e pessoas internadas, por exemplo. A revisão é um protocolo em casos como o do coronavírus.

Crédito: Camila Bomfim, TV Globo/Brasília no BEM ESTAR do G1 – disponivel na interenet 28/02/2020

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