“Apesar de críticas justificadas, governo tem feito muita coisa certa, porém, a necessidade de mais reformas.”

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Para CEO da Mercedes no Brasil e na América Latina, Bolsonaro acertou ao flexibilizar leis trabalhistas e oferecer assistência financeira em meio à crise. Philipp Schiemer defende, porém, a necessidade de mais reformas.

  A crise do coronavírus deve causar atrasos e fechamentos de algumas empresas, mas o cenário não será ruim para todas, avalia Philipp Schiemer, diretor executivo da montadora Mercedes-Benz no Brasil e América Latina. O também presidente da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha (AHK São Paulo) vê ainda com bons olhos medidas adotadas pelo presidente Jair Bolsonaro para amenizar os impactos econômicos da pandemia.

Falando à DW, ele reconhece as falhas do governo Bolsonaro, tanto seu procedimento nos incêndios na Amazônia, que contribuiu para selar o destino do acordo Mercosul-União Europeia, quanto as constantes escaramuças políticas em público, desacreditando o país. “Não há dúvida: o Brasil e a América Latina se tornaram bem menos atraentes no mundo”, destaca.

Ainda assim, Schiemer encontra méritos na linha adotada pelos dirigentes brasileiros na pandemia do coronavírus, ao fornecer ajuda financeira à população “de forma rápida e eficiente” ou flexibilizar as leis trabalhistas, evitando demissões em massa, como nos Estados Unidos. E, apesar de tempos duros pela frente, ele não considera negativas as perspectivas para todas as empresas alemãs no Brasil.

Schiemer já esteve três vezes no Brasil pela Mercedes: na difícil fase da hiperinflação, encerrada através do Plano Real; depois no boom econômico de 2004 a 2009. E por último, desde 2013, quando o país caiu em recessão, depois estagnou, e agora vai despencar novamente. Em seus 15 anos de Brasil, Schiemer já vivenciou dois impeachments.

DW: O Brasil se tornou epicentro da pandemia de covid-19. O governo do presidente Jair Bolsonaro está falhando em seu papel?

Philipp Schiemer: A gestão de crise do governo deixa a desejar, as constantes desavenças políticas criam insegurança adicional. A credibilidade do Brasil sofre com isso. Porém, apesar de toda crítica justificada, o governo também tem feito muita coisa certa.

Por exemplo?

Ele organizou assistência financeira para os pobres de forma rápida e eficiente – isso foi extremamente importante para a paz social. Ele flexibilizou as leis trabalhistas, de forma que até agora não houve demissões em massa, como nos Estados Unidos. No momento, porém, o governo está novamente brigando na frente de todo mundo.

A democracia está em perigo no Brasil?

Prefiro não especular a respeito.

Mas o governo quer voltar para um modelo econômico sob controle estatal, como sob a ditadura millitar.

Por todo o mundo, durante a crise, o populismo aumentou, porque promete soluções fáceis. Mas até agora só escuto que esse governo não persegue realmente um novo modelo econômico.

Há ainda que esperar reformas no Estado e na economia, por parte desse governo?

As reformas estão em compasso de espera. A atual crise seria o momento adequado para sacrificar vacas sagradas. As chances para reformas continuam existindo, algo está em movimento, até porque o Congresso quer as reformas.

O empresariado alemão apostou em Bolsonaro por causa da agenda de reformas. Os alemães estão decepcionados agora?

Eu não falaria de decepção. Sabemos como é difícil o processo político no Brasil. Mas eu desejaria que o governo empregasse mais energia nas reformas, em vez de se esgotar constantemente em guerrinhas paralelas.

Mas a agenda de reforma paralisada já prejudica o Brasil agora.

Não se discute que o Brasil e a América Latina se tornaram bem menos atraentes no mundo. A Ásia, os EUA, também a Europa, são mais importantes. No entanto o processo de decaída já começou há anos, na presidência de Dilma Rousseff.

O que isso significa para o empresariado alemão no Brasil?

A crise do coronavírus já vai causar um atraso de anos para muitas firmas. Sobretudo para as da indústria manufatureira, para os fabricantes de máquinas, e todos os setores ligados ao consumo, ela é um golpe na nuca. Os grandes conglomerados alemães investiram maciçamente nos últimos anos, agora têm que aguentar a crise. Mas também entre eles, algumas fábricas não deverão mais abrir depois da crise.

Consta que há anos muitas empresas alemãs não têm mais lucros no Brasil.

Isso certamente se aplica a alguns setores, sobretudo à indústria manufatureira, por exemplo, o setor automobilístico. Olhando-se os balanços, há anos muito dinheiro é transferido das matrizes, a fim de manter o posto. Mas as perspectivas não são ruins para todos os setores.

Quais são esses setores?

Acima de tudo o setor agropecuário, químico, de energia, assim como o de construções, poderiam continuar apostando no papel do Brasil na economia mundial, como fornecedor de alimentos, matéria-prima e energia. Segundo uma consulta na presidência da AHK São Paulo, mais da metade das empresas avaliaram as perspectivas comerciais entre “boas” e “satisfatórias”. Isso é espantoso.

A indústria e a política alemã foram os motores decisivos por trás do acordo entre o Mercosul e a União Europeia. Esse pacto ainda tem chances de ser ratificado?

Acho extremamente difícil. Até porque o governo da Argentina voltou a pensar de modo nacionalista. E lá a necessidade de reformas é significativamente maior do que no Brasil. O Brasil deveria se orientar antes pelos EUA, Europa ou China.

Os incêndios na Amazônia desacreditaram o Brasil para o acordo comercial.

Sem dúvida. O governo brasileiro tem que encarar o tema de forma ofensiva.

Crédito: Deutsche Welle Brasil – disponível na internet 18/06/2020

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