De todas as montanhas de lixo geradas no mundo, a dos eletroeletrônicos é a que cresce mais rápido: são 53 milhões de toneladas por ano. Teoricamente, tudo poderia ser reciclado.
Se as regiões com a maior produção per capita de lixo eletrônico forem escurecidas num mapa mundi, ficará escuro na Europa, na América do Norte, na Austrália e na Nova Zelândia.
Um americano gera, em média, mais de 19 kg de lixo eletrônico por ano. Um alemão, cerca de 23 kg, e um norueguês, até mesmo mais de 28 kg.
Em todo o mundo são 53 milhões de toneladas de lixo eletrônico por ano, composto de todo tipo de aparelhos, como celulares, computadores, geladeiras e células fotovoltaicas, afirma o mais recente estudo sobre o tema, apresentado pela Universidade das Nações Unidas nesta quinta-feira (02/07).
A maior parte desses produtos vai parar no lixo – ainda que eles não sejam, nem de longe, sem valor. Dentro deles há, com frequência, materiais como ouro, prata, platina, cobre, ferro ou terras raras, no valor total estimado de 57 bilhões de dólares.
Mesmo assim, no ano passado menos de um quinto dessa montanha de lixo foi reciclada. O resto tem destino incerto. Em parte vai parar no lixo comum e acaba sendo largada num lixão ou queimada. Outra parte vai parar na mão de comerciantes que consertam eletrodomésticos e os revendem em países de renda per capita mais baixa do que as nações industrializadas.
Uma parte considerável desse lixo (estimativas afirmam que de 7% a 20%) é exportada de forma ilegal, sob o manto do reaproveitamento ou sob o pretexto de que se trata de sucata.
Assim, velhos equipamentos eletrônicos de países ricos vão parar em depósitos de lixo no Leste Europeu, na Ásia ou na África. Lá acabam sendo recolhidos e desmontados ou simplesmente queimados.
Esse desmonte ocorre sem o uso de luvas ou qualquer tipo de proteção. A queima também é perigosa, tanto para a saúde humana como para o meio ambiente, pois, além de materiais valiosos, eletrodomésticos também podem conter substâncias venenosas.
Todo o lixo eletrônico gerado no mundo contém cerca de 50 toneladas de mercúrio, 71 mil toneladas de produtos retardantes de chamas bromados e 98 milhões de toneladas de CO2 equivalentes, afirma o estudo.
De todas as montanhas de lixo geradas no mundo, a dos eletroeletrônicos é a que cresce de forma mais rápida. “Nos últimos cinco anos, a quantidade de lixo eletrônico cresceu três vezes mais rapidamente do que a população mundial e 13% mais rapidamente do que o PIB de todos os países”, afirma o presidente da Associação Internacional de Resíduos Sólidos, Antonis Mavropoulos.
“Há uma classe média crescente em muitos países que, há alguns anos, ainda eram típicos países em desenvolvimento. E neles há uma grande demanda reprimida”,comenta Rüdiger Kühr, um dos autores do estudo e diretor do programa de ciclos sustentáveis da Universidade das Nações Unidas na Europa.
Além disso, há cada vez mais aparelhos elétricos, diz Kühr, mencionando como exemplos o carro elétrico, a bicicleta elétrica e até jogos de salão. E a velocidade com que novos computadores e celulares tiram do mercado os modelos antigos também aumenta.
Assim, a quantidade global anual de lixo eletrônico poderá passar para 74 milhões de toneladas em 2030, calcula o estudo. Isso poderá resultar em tragédia para o meio ambiente e para a saúde de muitas pessoas.
Mas não precisa ser assim. Kühr afirma que a cota de reciclagem de eletrônicos poderia chegar a 100%. Mas o mundo está longe disso. Mesmo na Europa, onde se queria chegar a 65% em 2019, a cota atual é de 42%.
Kühr defende a criação de novos ciclos econômicos. Por exemplo, os consumidores não comprariam mais os produtos, mas o serviço por eles prestado. O produto continuaria sendo propriedade do fabricante.
Como este teria interesse em oferecer o melhor serviço aos seus clientes, teria também interesse em oferecer bons produtos e em investir em inovações. Ele também teria interesse em fabricar produtos mais fáceis de serem consertados e de serem reciclados, pois venderia o serviço que o produto oferece e não o próprio produto.
Esse modelo já existe em alguns países, por exemplo com celulares ou máquinas copiadoras.
Kühr defende ainda que o consumidor exija dos fabricantes mais informações sobre os efeitos dos produtos sobre o meio ambiente e sobre a taxa de reciclagem deles. Essas informações já existem, mas não são utilizadas como argumento de compra.
“Acho espantoso que, no atual debate sobre as mudanças climáticas, no qual o setor automobilístico e a aviação civil fazem publicidade com iniciativas ambientais, a indústria de eletroeletrônicos deixe completamente de lado esse tema”, diz Kühr.
Crédito: Deutsche Welle Brasil – disponível na internet 06/07/2020