Após quatro dias de tensas negociações, chefes de Estado e de governo concordam com fundo de ajuda de € 750 bilhões, divididos em subsídios e empréstimos, para minimizar impactos da covid-19 sobre países do bloco.
Os 27 chefes de Estado e de governo da União Europeia (UE) chegaram a um acordo na madrugada desta terça-feira (21/07) sobre um pacote de recuperação multibilionário pós-pandemia. Os líderes concordaram em disponibilizar 390 bilhões de euros do fundo de ajuda, no valor de 750 bilhões de euros, como subsídio não reembolsável, destravando assim um dos principais impasses para a aprovação do plano e do orçamento de longo prazo para a economia do bloco. Os restantes 360 bilhões de euros serão ofertados em forma de empréstimos.
O valor é um meio termo entre a ambiciosa proposta defendida por Alemanha e França, que previa subsídios de 500 bilhões de euros, e o plano defendido pela Holanda, Áustria, Dinamarca, Suécia e Finlândia, chamados de os “cinco frugais”, que desejavam que as parcelas de subsídios fossem menores e as de empréstimos, maiores. Prováveis receptores, como Itália, Espanha, Grécia e Hungria, rejeitavam esse modelo.
O tamanho do fundo de ajuda era o principal ponto de discórdia nas negociações da cúpula, que se estendeu por 90 horas e foi a mais longa do bloco desde o ano 2000. Inicialmente planejado para sábado e domingo, o encontro em Bruxelas só terminou às 5:30 desta terça-feira (horário de Bruxelas), minutos depois de os chefes de Estado e de governo terem retomado os trabalhos formais.
Logo após a decisão, o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, tuitou uma breve mensagem: “Acordo!” Para ele, trata-se de “um acordo forte”, que mostra que a Europa está “sólida”. “Conseguimos. A Europa está forte, a Europa está unida”, disse Michel em coletiva de imprensa após a aprovação.
“Demonstramos responsabilidade coletiva e solidariedade e [mostramos] que acreditamos no nosso futuro comum”, acrescentou, ressaltando que o acordo vai muito além do dinheiro. “É sobre famílias e trabalhadores, os seus empregos e a sua saúde e bem-estar”, disse.
Os líderes dos 27 países-membros também deliberam sobre o orçamento de longo prazo da UE até 2027, que totaliza cerca de 1,1 trilhão de euros. Foi o primeiro encontro dos mandatários europeus cara a cara desde que a pandemia de covid-19 foi declarada, em março.
O bloco enfrenta a pior recessão de todos os tempos, e os países precisam de dinheiro rapidamente para sustentar suas economias abaladas pela crise do coronavírus. Estima-se que a economia do bloco sofra uma contração de 8,3% neste ano, segundo as últimas previsões.
O impasse nas negociações levou a chanceler federal da Alemanha, Angela Merkel, a afirmar no domingo que os líderes do bloco poderiam não chegar a um acordo sobre o plano de recuperação. A declaração foi dada após as tensões aumentaram na noite de sábado, quando a líder alemã e o presidente da França, Emmanuel Macron, se levantaram e saíram de uma reunião. A aliança franco-alemã é vista como vital para qualquer grande acordo dentro do bloco de 27 países.
Merkel descreveu o acordo como um “sinal importante” e disse estar “muito aliviada” com a cooperação entre os líderes da EU, sentimento que foi respaldado pelo presidente francês, Emmanuel Macron.
“Não existe um mundo perfeito, mas fizemos progressos”, declarou Macron.
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, agradeceu Merkel por “orientar” as negociações em direção a uma solução e disse que a Europa pode sair da crise ainda mais forte. “Esta noite é um grande passo em direção à recuperação”, afirmou Von der Leyen.
O chanceler austríaco, Sebastian Kurz, um dos principais rostos dos “frugais”, declarou estar “bastante satisfeito” com o acordo. “Conseguimos alcançar um bom resultado para a UE e a Áustria”, escreveu em sua conta oficial no Twitter, terminando a mensagem com um agradecimento “a todos os colegas, especialmente os frugais”.
Do lado dos países que mais devem ser beneficiados, o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, chamou o pacote de “plano Marshall para a Europa”. A Espanha deve receber 140 bilhões de euros nos próximos seis anos.
Crédito: Deutsche Welle Brasil – disponível na internet 21/07/2020