Empresas acham que voltarão ao normal só em 2021

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Sondagem especial do Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas) mostra que 42% das empresas brasileiras avaliam que suas atividades só voltarão à situação anterior à pandemia a partir de 2021. Outras 10% ainda não conseguem visualizar um retorno a essa normalidade.

Segundo o levantamento realizado na primeira quinzena de agosto, 25% das empresas estão operando normalmente e 22% esperam uma normalização até o final de 2020.

Os dados reforçam a constatação de que essa é uma crise que afeta mais os serviços, principal setor da economia, do que a indústria e o comércio. Esses dois últimos são aqueles com mais empresas que já voltaram ao nível pré-crise (mais de 30%).

Nos serviços, são 17%. Esse setor é o que tem mais empresas que só veem uma melhora a partir de 2021 (47%) ou não veem perspectiva de retomar a normalidade (15%). Nos serviços prestados às famílias (como alimentação fora de casa, lazer e turismo) esses percentuais chegam a 66% e 17%.

A sondagem mostra também que 34% das empresas reduziram o quadro de funcionários em função da crise econômica provocada pela pandemia. O percentual chega a 43% nos serviços, setor que mais emprega no Brasil, com destaque negativo para serviços prestados às famílias (57%) e de manutenção e reparação (52%).

A pesquisadora do Ibre Renata de Mello Franco afirma que os resultados vão ao encontro de outro levantamento da instituição, que mostrou pouca disposição dos consumidores em voltar a frequentar bares, restaurantes, cinemas e teatros e a viajar de férias.

“O setor de serviços está muito dependente da confiança dos consumidores, não só em relação à economia, mas em relação à saúde, a como pandemia vai se comportar. Se tiver uma vacina ou algo mais concreto em relação ao final da pandemia, talvez a gente possa ver os serviços voltando mais forte no final do ano”, afirma Renata.

A também pesquisadora do Ibre Luana Miranda diz que, no segundo trimestre, os serviços prestados às famílias caíram mais de 60% em relação ao mesmo período do ano passado.

“Se as famílias não têm uma perspectiva de voltar a consumir esses itens tão cedo, até ser realmente seguro, essa recuperação tende a ser mais lenta até a vacina chegar. A gente está vendo notícias muito boas relacionadas ao varejo e até um pouco à indústria, mas o desempenho dos serviços, que são mais de 70% do valor adicionado da economia, é importante para definir como vai ser a recuperação do PIB [Produto Interno Bruto]”, afirma Luana.

“Os resultados que a gente tem visto estão muito em linha com uma recuperação puxada pela indústria e pelo varejo, com os serviços muito aquém. E não é só uma questão de renda.”

De acordo com a sondagem, o comércio é o destaque positivo, com o maior percentual de empresas já operando na normalidade (33%) e o menor de empresas que não conseguem visualizar um retorno ao nível anterior à pandemia (9%).

Hiper e supermercados e materiais de construção têm os maiores percentuais (41%) de empresas que já retomaram a normalidade, seguidos pelo comércio de móveis e eletrodomésticos (35%).

Nesse setor, os destaques negativos são os segmentos de comércio de veículos (28%) e tecidos, vestuário e calçados (6%).

“Esses itens não são considerados essenciais, e as pessoas com redução de renda acabam postergando esse consumo. Os resultados estão muito relacionados à confiança das famílias, à renda e ao emprego. São segmentos que vão depender bastante de como o mercado de trabalho vai se comportar até o final do ano para se recuperar ou não”, afirma Renata.

Na indústria, o destaque positivo é o segmento de bens de consumo não duráveis, com produtos considerados essenciais (como alimentos, medicamentos e itens de limpeza e perfumaria), no qual mais de 38% das empresas estão operando normalmente. O destaque negativo é a indústria de bens duráveis, que inclui o setor automotivo, com 19%.

“Esse segmento também está muito atrelado à recuperação da renda das famílias e do emprego. Talvez essas empresas avaliem que só deve haver normalização a partir do ano que vem, dado que as perspectivas para o mercado de trabalho até o final deste ano não são tão boas assim”, diz Renata.

A pesquisadora Luana Miranda afirma que a normalização das atividades no último trimestre do ano terá como desafio também a questão do fim dos auxílios do governo para os trabalhadores.

Ela afirma que o auxílio emergencial é um fator decisivo na projeção do Ibre, que é de queda do PIB de 5,4% no ano. Esse cenário se baseia na ausência do benefício no quarto trimestre do ano, o que levará a uma desaceração do crescimento em relação aos três meses anteriores.

“Pelas nossas contas, os auxílios do governo mais que compensaram a queda na renda do trabalho no segundo e no terceiro trimestres. Com a ausência dessas medidas, haverá queda na renda e uma desaceleração do processo de retomada no quarto trimestre. Essa base de crescimento mais baixa deve permanecer ao longo de 2021. No caso de uma renovação dos auxílios, esse resultado pode ser um pouco melhor”, afirma Luana.

“Para 2021, a questão fica mais complexa. Esse auxílio se tornar permanente é uma questão mais complicada, dada a limitação fiscal.”

Consumidores

Entre os consumidores cuja principal preocupação gerada pela pandemia é a deterioração das finanças familiares, 34% afirmam enfrentar situação de desemprego e 45% de redução de renda, de acordo com sondagem especial do Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas) realizada em agosto.

Segundo o levantamento, os percentuais de famílias em situação de desemprego ou com dívidas em atraso são praticamente o dobro na faixa de menor renda (respectivamente, 41% e 22% para renda de até R$ 2.100 mensais), em relação aos mais ricos. Na faixa de renda acima de R$ 9.600, o desemprego afeta 20%, e a inadimplência, 10%.

Para os mais ricos, o principal problema econômico foi a redução da renda, que afetou 60% dessas famílias, acima dos 45% na faixa mais pobre.

A inflação foi citada como principal problema econômico para 5,5% das famílias mais pobres, bem acima dos 2% a 3% nas demais faixas de renda, o que reflete o impacto do aumento de preços de alimentos, que pesam mais na renda dos mais pobres, segundo o Ibre.

Problemas financeiros foram citados por 31% das famílias na menor faixa de renda e 11% entre os mais ricos. Esses últimos demonstraram preocupação maior com questões relacionadas a saúde (66%) e problemas de estresse e questões psicológicas causados pelo isolamento social (18%).

“As famílias mais ricas tiveram mais preocupação com saúde e bem-estar, e as mais pobres tiveram mais problemas econômicos. Por estarem mais alocadas em trabalhos informais, são pessoas mais suscetíveis a ficarem desempregadas em momentos de crise. Também acabaram se endividando mais, e o principal motivo foi a perda de emprego e o impedimento ao trabalho”, afirma a pesquisadora do Ibre Renata de Mello Franco.

A pesquisadora cita uma curiosidade da pesquisa. Os mais pobres lideram entre os que se dizem muito afetados pela pandemia (55%) e também entre os que se dizem nada afetados (11%). Na faixa mais alta de renda, os percentuais são de 49% e 3%.

“Isso pode ser reflexo de famílias que sofreram com desemprego e perda de renda, por um lado, e também de uma camada que precisou continuar indo trabalhar ou que já teve de voltar ao trabalho”, afirma Renata.

Crédito DIAP com a fonte Folha de São Paulo – disponível na internet 25/08/2020

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