‘Guardiões de Crivella’: prefeitura paga funcionários para impedir críticas na porta de hospitais municipais

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A prefeitura do Rio montou um esquema na porta dos hospitais para impedir denúncias e reclamações. Funcionários são pagos para vigiar a porta de unidades municipais de Saúde, para constranger e ameaçar jornalistas e cidadãos que denunciam os problemas. As informações são do RJ2, da TV Globo. 
 

A reportagem revela também que os intimidadores são coordenados por grupos em WhatsApp, através dos quais há controle rígido de escala e horário, com direito a “ponto” por meio de selfie no posto de trabalho. Entre os participantes de um dos grupos, um telefone chama a atenção. O número aparece registrado como sendo do próprio prefeito, Marcelo Crivella.

— O prefeito, ele acompanha no grupo os relatórios e tem vezes que ele escreve lá: “Parabéns! Isso aí!” — contou à TV Globo um dos participantes.

De acordo com a reportagem, os funcionários são orientados para atrapalhar reportagens, por meio de intimidação direta do contribuinte que estiver fazendo a reclamação e da equipe de jornalismo. A TV Globo narra três ocasiões em que houve “invasões” e que a reportagem teve que ser interrompida.

Em uma das situações, depois da confusão, o agressor colocou um crachá e se dirigiu para o interior da unidade de saúde. Nesta segunda, o repórter Paulo Renato Soares fazia uma entrevista na porta do Hospital Salgado Filho, no Méier. Ao primeiro sinal de que a gestão da saúde poderia ser criticada, o entrevistado foi interrompido.

Guardiões

No WhatsApp, um dos grupos que reúne funcionários pagos com dinheiro do contribuinte para tentar impedir a população de dar entrevistas se chama “Guardiões do Crivella”. O RJ2 teve acesso às conversas desse e de outros dois grupos. Um identificado como Assessoria Especial GBP – gabinete do prefeito – e o outro, como Plantão. Em dois desses grupos, a reportagem encontrou dois homens que intimidaram equipes de reportagem:

  • José Robério Vicente Adeliano foi admitido na prefeitura em novembro de 2018, em “cargo especial”. O salário bruto é de R$ 3.229.
  • Ricardo Barbosa de Miranda foi contratado pela prefeitura em junho de 2018, como assistente 3 e salário de R$ 3.422.

No dia 27, data em que outra equipe foi agredida verbalmente no Rocha Faria, estavam na escala:

  • Marcelo Dias Ferreira, desde setembro de 2018 na prefeitura com cargo especial e salário bruto de R$ 2.788.
  • Luiz Carlos Joaquim da Silva, o Dentinho, contratado em dezembro de 2019 com salário bruto de R$ 4.195, em cargo especial – foi ele que intimidou a equipe.

De acordo com um dos contratados, a tática foi adotada no fim do ano passado, e intensificada durante a pandemia.

— Nós temos essa missão lá já há mais de 8 meses. Antes, já estava funcionando, mas quando entrou a Covid em março, ficou todos os dias. Existe plantão nas unidades para poder cercear a imprensa — conta.

Bronca: ‘Não derrubamos a matéria’

Na última quinta-feira, os vigias estavam atrasados. Não viram o repórter da TV Globo entrar ao vivo, ainda muito cedo, o que provocou irritação e cobrança nos grupos. Alguém identificado apenas como ML manda a foto da reportagem e escreve: “A Globo está no Rocha. Cadê a equipe do Rocha? Mateus, liga pra equipe do Rocha”.

Mateus responde: “Sim, senhor”.

ML, de novo, questiona: “Quem está no Rocha?? Gente, muito triste, não derrubamos a matéria (…) Não pode haver falta, nem atraso. Falhamos no Rocha Faria. Inaceitável”.

Depois da bronca, além dos dois escalados, chegou um reforço: outra dupla de agressores.

Eles atrapalharam a continuação da reportagem e comemoraram:

“Eu acho que não é ao vivo. Acho que estão fazendo matéria pra mais tarde, mas tentaram entrar várias vezes e nós interrompemos por essas vezes todas aí”, diz um deles, em um áudio enviado no grupo.

O que diz a prefeitura

Em nota, a Prefeitura do Rio diz que “reforçou o atendimento em unidades de saúde municipais no sentido de melhor informar à população e evitar riscos à saúde pública, como, por exemplo, quando uma parte da imprensa veiculou que um hospital (no caso, o Albert Schweitzer) estava fechado, mas a unidade estava aberta para atendimento a quem precisava. A Prefeitura destaca que uma falsa informação pode levar pessoas necessitadas a não buscarem o tratamento onde ele é oferecido, causando riscos à saúde.”

Crédito: O Globo 01/09/2020

 

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