Das quatro vacinas testadas no Brasil, duas já têm acordo para produção no país. A DW Brasil traz um resumo sobre candidatos a imunizantes com potencial de serem aplicados nos brasileiros.
A expectativa pela aplicação de vacinas contra a covid-19 é particularmente grande no Brasil, um dos países mais atingidos pela pandemia. Nesta quinta-feira (03/12), o Brasil superou a marca de 175 mil mortes por covid-19, o segundo maior número no mundo após os Estados Unidos.
Dos mais de cem projetos em pesquisa e desenvolvimento de vacina em andamento, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), quatro estão em testes no Brasil.
Nesta semana, o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, afirmou que são no máximo três as opções de empresas farmacêuticas desenvolvedoras de vacinas contra a covid-19 que atendem às necessidades do Brasil, em termos de cronograma e quantidade suficiente de doses. Ele mencionou apenas a chamada vacina de Oxford, sem especificar quais seriam as outras duas opções.
Governos estaduais já firmaram parcerias próprias com projetos de vacinas. O governo de São Paulo fechou acordo para obter a vacina chinesa Coronavac. E a Sputnik V, do laboratório russo Gamaleya e que não está entre as quatro vacinas testadas no Brasil, é negociada num acordo a parte com os governos do Paraná e da Bahia.
Outra das candidatas mais promissoras de vacinas contra a covid-19, a da farmacêutica americana Moderna, que apresentou 94,5% de eficácia e pediu autorização emergencial nos Estados Unidos e na Europa, ainda não tem acordo de venda fechado com o governo brasileiro.
Confira a seguir detalhes de vacinas com potencial de serem aplicadas nos brasileiros:
Vacina de Oxford
Produzida pela farmacêutica anglo-sueca AstraZeneca e a Universidade de Oxford, a vacina ChAdOx1 nCoV-19 está em teste no Brasil desde junho, em parceria com a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Segundo informações da Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa), o imunizante criado no Reino Unido conta com 10 mil voluntários brasileiros e será fabricado no Brasil pela Fiocruz em sua unidade produtora de imunobiológicos Bio-Manguinhos, no Rio de Janeiro.
A tecnologia usada é conhecida como vetor viral recombinante, que emprega um adenovírus não replicante e não infeccioso, ou seja, que não pode causar doenças.
A vacina atual foi criada numa plataforma que já existia na universidade e que trabalhava com mers, doença causada por outro tipo de coronavírus. Foram deletados os genes que são responsáveis pela replicação do vírus e trocados por outros que vão codificar proteínas do novo coronavírus (Sars-Cov-2).
Quando essas moléculas estão dentro do corpo humano, elas passam a produzir a proteína do coronavírus, que o sistema imunológico reconhece como ameaça. O corpo então aprende a destruir essa proteína, como se fosse um “treinamento”. Quando o Sars-Cov-2 infecta o organismo de verdade, o sistema imunológico consegue reconhecer e combater o vírus.
O ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, afirmou que o país deve receber em janeiro e fevereiro 15 milhões de doses da vacina da AstraZeneca/Oxford. Até o fim de primeiro semestre de 2021, a expectativa é que esse número chegue a cem milhões, segundo Pazuello. A Bio-Manguinhos deve começar a produzir o imunizante apenas no segundo semestre, com um volume esperado de 160 milhões de doses.
Com uma eficácia que varia de 62% a 90%, a proteção média oferecida por essa vacina é de 70%. Por outro lado, o imunizante ChAdOx1 nCoV-19 é mais barato e mais fácil de armazenar, o que facilita o seu transporte a regiões remotas.
Coronavac
A vacina da empresa chinesa Sinovac é testada no Brasil pelo Instituto Butantan, para o qual deve ser transferida a tecnologia para produção do imunizante no país. Com mais de 13 mil voluntários brasileiros, a Coronavac está em fase final de testes e aguarda o registro e autorização da Anvisa para uso.
A tecnologia empregada é bastante conhecida, baseada na manipulação em laboratório de células humanas infectadas com o novo coronavírus. Segundo o Instituto Butantan, a vacina é produzida com fragmentos inativados do coronavírus para inserção no corpo humano. Isso quer dizer que o vírus não é capaz de se reproduzir. Depois de receber a dose, o sistema imunológico começa então a produzir anticorpos para combater o Sars-Cov-2.
No Brasil, o Butantan tem tradição na produção de soros e vacinas. De lá saem doses contra influenza, hepatite B, raiva, difteria e tétano, entre outros.
Nesta quinta-feira, o governo de São Paulo recebeu um novo carregamento com insumos para a fabricação da vacina no estado, que devem ser suficientes para a produção de 1 milhão de doses. Em 19 de novembro, o governo paulista já havia recebido 120 mil doses prontas do imunizante.
Segundo o acordo fechado com o Butantan, o laboratório chinês enviará um total de 6 milhões de doses prontas para o uso. O instituto paulista vai formular e envasar outras 40 milhões de doses.
Segundo a Sinovac, o ideal é armazenar as vacinas com refrigeração, mas o transporte também pode ser feito em temperatura ambiente.
Alvo de disputa política entre o governador de São Paulo, João Dória, e o presidente Jair Bolsonaro, a Coronavac apresentou resultados considerados positivos: um estudo publicado em novembro na revista científica The Lancet Infectious Diseases mostrou que a dose levou à produção de anticorpos em quase todos os voluntários. Os estudos de fase 3, que medem sua eficácia, estão sendo finalizados e devem ser anunciados nos próximos dias.
Vacina da Pfizer/Biontech
Fruto da parceria entre a Pfizer, farmacêutica multinacional sediada nos EUA, e a alemã Biontech, a vacina BNT162b2 começou a ser testada no Brasil em junho, em pouco mais de 3 mil voluntários. Ainda não foi firmado acordo para a transferência de tecnologia para o Brasil.
Trata-se de uma vacina de RNA mensageiro (mRNA), considerada mais moderna, de terceira geração. O princípio do imunizante da Pfizer é fazer o próprio corpo produzir a proteína do vírus. Para isso, os cientistas identificaram a parte do código genético viral que carrega as instruções para a fabricação dessa proteína.
Depois que o material é injetado no corpo humano, ele dá instruções para que o organismo produza a proteína do vírus, o que vai desencadear a fabricação de anticorpos necessários para frear a covid-19.
Apesar de sua eficácia, que chegou a 95% segundo resultados da terceira fase de testes clínicos, a fórmula da Pfizer-Biontech precisa ser armazenada a uma temperatura de -70ºC, a mesma de refrigeradores de laboratório, o que dificulta seu transporte por todo o Brasil. A vacina deve ser transportada em caixas especiais com gelo seco. Após a entrega, as doses podem ser armazenadas por até cinco dias numa geladeira comum.
Nesta semana, o Reino Unido se tornou o primeiro país a aprovar a vacina, que deve começar a ser aplicada na semana que vem. Uma vacina com a tecnologia de RNA mensageiro nunca havia sido aprovada para uso.
Sem acordo prévio de transferência de tecnologia, o governo brasileiro está sob pressão para decidir se vai comprar a vacina. Em meados de novembro, a Pfizer anunciou quefez uma proposta ao governo brasileiro para fornecer milhões de doses da sua vacina contra o novo coronavírus no primeiro semestre de 2021.
Vacina da Janssen
Desenvolvida pela belga Janssen-Cilag, que faz parte do grupo Johnson & Johnson, a vacina AD26.COV2.S está sendo testada em 28 centros de pesquisa no Brasil, distribuídos em 11 estados, segundo a farmacêutica.
A plataforma usada foi empregada pela empresa na pesquisa e desenvolvimento de outros projetos, como a vacina contra o ebola, recém-aprovado pela Comissão Europeia. No caso da AD26.COV2.S, vetores de adenovírus, que causam o resfriado comum, foram modificados para desenvolver a vacina – mas eles não se multiplicam e não provocam doença nas pessoas.
O imunizante usa ainda uma parte da proteína do Sars-Cov-2, colocada dentro do adenovírus, que é o transportador. Quando a pessoa recebe a dose, o corpo começa a se defender e produzir anticorpos contra o invasor. Essa resposta cria uma “memória” contra o coronavírus e ensina o corpo humano a reconhecer e atacar o vírus quando se entra em contato com ele.
A Anvisa ainda analisa o chamado pedido de submissão contínua feito pelo laboratório no fim de novembro. Nessa parte do processo, a fabricante informa os dados de qualidade do produto e de eficácia/segurança.
O governo brasileiro ainda não tem um acordo assinado para transferência dessa tecnologia.
Sputnik V
A vacina russa não é testada no Brasil. Segundo a Anvisa, para esses casos, é preciso que devidos procedimentos para registro sejam cumpridos.
Mesmo assim, o governo do estado do Paraná e o Instituto de Tecnologia do Paraná (Tecpar), assinaram em agosto um memorando para uma parceria no desenvolvimento da Sputnik V, do Instituto Gamaleya. O governo da Bahia também firmou um acordo com o instituto em setembro para ter acesso à tecnologia usada na produção da vacina.
A Rússia afirma que sua vacina contra a covid-19 tem uma eficácia de 92%. No entanto, os dados ainda não foram revisados por outros pesquisadores ou publicados em revistas científicas.
Segundo a fabricante, a tecnologia combina dois vetores diferentes de adenovírus. Uma parte da proteína do coronavírus é inserida nos vetores. Quando o corpo entra em contato com a substância que compõe a vacina, ele começa a sua resposta imune.
Se a Sputnik V for liberada pela Anvisa, a Tecpar será responsável por todas as etapas, desde a pesquisa até a distribuição das doses. Na Rússia, o presidente Vladimir Putin já ordenou a vacinação em massa com o imunizante.
Crédito: Deutsche Welle Brasil – @internet 05/12/2020