Da relevância do acordo nuclear Brasil-Alemanha para o Inmetro

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@manchete da Folha de São Paiulo do dia 28/06/1975

Lições da área nuclear aplicáveis ao Inmetro, quanto à busca da excelência

O Acordo Nuclear Brasil-Alemanha, celebrado entre esses dois países em 1975, para a construção de oito centrais nucleares para a produção de energia elétrica, com transferência de tecnologia de todo o ciclo do combustível nuclear, significou um grande salto tecnológico para o Brasil, já que a utilização responsável da energia nuclear pressupõe a busca da excelência.

Fruto do Acordo Nuclear, o Inmetro saltou em poucas décadas de um “pequeno laboratório de calibração” para um “instituto nacional de metrologia líder em nível internacional”.

É de se destacar também o nível de excelência das empresas alemães e das brasileiras que implementaram o Acordo Nuclear Brasil-Alemanha, o que tem resultado em usinas nucleares seguras nos dois países.

Tendo trabalhado no Programa Nuclear, na Nuclen[1], por treze anos, dos quais dois anos e meio na empresa KWU[2] na Alemanha, sou testemunha do nível de excelência das empresas do setor, assim como de todas as atividades direta ou indiretamente decorrentes do Acordo Nuclear descritas neste artigo.

Para atingir o nível de excelência pretendido, inclusive na indústria nacional, fornecedora de equipamentos para as centrais nucleares, a Nuclebrás[3] (então a holding estatal do setor) introduziu no Brasil a Garantia da Qualidade (conceito que no setor nuclear assume uma dimensão muito maior daquela que ocorre em outras áreas) e a certificação CQE – Certified Quality Engineer pela ASQ – American Society for Quality, um sistema que prevê, para sua manutenção, recertificações trianuais, quando o exercício profissional nos últimos três anos do detentor dessa certificação é avaliado pela ASQ, para verificar se este foi profissionalmente engrandecedor (“job enhancing”) ou aumentou o conhecimento no escopo coberto por essa certificação, que compreende atividades altamente significativas para o Inmetro.

Tendo sido certificado como CQE pela ASQ em 1977 e tendo sido recertificado por 30 anos (quando optei pelo status de “retired”), posso afirmar que essa certificação foi e continua sendo altamente relevante nos dias de hoje para o Inmetro e para a sociedade, de maneira geral.

A Garantia da Qualidade foi o embrião no Brasil e no mundo de um enfoque que se ampliou até chegar aos critérios de excelência, cujo maior exemplo é o Malcolm Baldrige Quality Award, a maior homenagem conferida pelo Presidente dos EUA às organizações norte-americanas pela excelência em desempenho, tendo critérios estabelecidos pelo NIST – National Institute of Standards and Technology e sendo administrado pela ASQ.

Luiz Carlos Arigony

De fato, a preocupação com a qualidade e com a excelência no setor nuclear brasileiro criaram a ambiência que permitiu que, anos após a assinatura do Acordo Nuclear com a Alemanha, o Brasil viesse a ter uma expressiva participação em importantes marcos na história da Qualidade no Brasil, como a participação brasileira na normalização internacional na ISO, principalmente nos comitês técnicos TC 176 (Gestão da Qualidade) e TC 207 (Gestão Ambiental), assim como no CASCO (Avaliação da Conformidade), onde eu mesmo inicialmente participei e por fim coordenei a participação brasileira em um total de 12 anos, de 1994 a 2006, tendo participado de inúmeras reuniões internacionais na sede da ISO (International Organization for Standardization) em Genebra, Suíça.

Deve-se destacar que os documentos normativos elaborados pelo CASCO e posteriormente publicados pela ABNT, norteiam os trabalhos de três UP (Unidades Principais) do INMETRO: CGCRE – Coordenação Geral de Acreditação, DIMCI – Diretoria de Metrologia Científica e Industrial e DCONF – Diretoria de Avaliação da Conformidade.

Neste artigo são apresentados também outros frutos importantes no Brasil da busca da excelência, induzida direta ou indiretamente pelas empresas brasileiras e alemães envolvidas com o setor nuclear brasileiro. Alguns cumpriram seus papéis e não se aplicam mais.

Duas iniciativas, no entanto, continuam absolutamente atuais e deveriam ser implementadas pelo Inmetro: os critérios do Malcolm Baldrige, assim como a certificação CQE pela ASQ.

Por outro lado, no mundo inteiro as organizações responsáveis pela Infraestrutura da Qualidade[4] devem buscar a excelência, já que quem estabelece regulamentações e normas, assim como quem fiscaliza, audita e concede acreditações, entre outras atividades, procurando sempre estabelecer a confiança da sociedade em produtos e serviços, deve dar o exemplo. (2)

Assim, a busca da excelência é também uma das características das melhores organizações responsáveis em seus países pela Infraestrutura da Qualidade.

A busca da excelência pelas organizações responsáveis pela Infraestrutura em Qualidade de um país é bastante evidente no NIST – National Institute of Standards and Technology e no PTB – Physikalisch-Technische Bundesanstalt, os dois mais famosos institutos de metrologia do mundo. Basta ver que no NIST tem trabalhado vários agraciados pelo Prêmio Nobel (https://www.nist.gov/nist-and-nobel). De forma similar 13 detentores do Prêmio Nobel, tem atuado no Conselho Consultivo do PTB ao longo de sua história, entre eles Albert Einstein e Max Planck (15). Não por acaso, o NIST também desenvolveu e mantém os critérios de excelência do Malcolm Baldridge Quality Award, um dos três mais famosos critérios de excelência do mundo.[5]

Resumindo, o Acordo Nuclear Brasil-Alemanha colocou o Inmetro na rota da busca da excelência, já trilhada em diversos setores em vários países, como pelos mais adiantados institutos de metrologia do mundo, entre eles o PTB e o NIST.

Conclui-se que, decorrência do alto nível de excelência das empresas brasileiras e alemãs que implementaram o Acordo Nuclear, e de suas interações no cenário nacional, o setor nuclear foi, circunstancialmente (porque não era esse o seu objetivo), o indutor da busca da excelência no Brasil como um todo, e não apenas no setor nuclear brasileiro.

No entanto, o Inmetro, sendo já há décadas o principal responsável pela Infraestrutura da Qualidade no Brasil, e levando-se em conta o alto nível do seu corpo técnico, é a organização brasileira melhor posicionada para resgatar toda a experiência exitosa e relevante, direta ou indiretamente decorrente do setor nuclear brasileiro para, somada a sua própria experiência, levar adiante a busca da excelência no próprio Instituto e no Brasil.

Conclui-se também que o NIST, assim como a ASQ, deveriam ser fontes de contato do Inmetro para implementação no Instituto dos critérios do Malcolm Baldrige National Quality Award e para sua difusão no Brasil. Ressalta-se que o Malcolm Baldrige não deve ser implementado como mera forma de relato, que é apenas a ponta do iceberg, mas como oportunidade de profunda reflexão e comparação com benchmarks, como organizações “classe mundial” e os melhores do setor, visando a busca da excelência. 

Em termos de certificação de pessoal, o Inmetro deveria incentivar o seu quadro de analistas e pesquisadores-tecnologistas em metrologia e qualidade a se submeterem ao processo de certificação como CQE – Certified Quality Engineer, se esses atenderem os pré-requisitos da ASQ, oferecendo os programas de capacitação necessários. Isso permitiria a ampliação dos conhecimentos do seu corpo técnico e credibilidade maior ainda do Inmetro face a seus congêneres estrangeiros.

Além disso, a aproximação do Inmetro com a ASQ permitiria ao Instituto acesso a inúmeras informações relevantes para a melhoria do seu desempenho, através de congressos, cursos e outros meios, permitindo. que o Instituto se colocasse na vanguarda da Infraestrutura da Qualidade e da excelência organizacional no mundo.

Tais iniciativas se relacionam à busca da excelência, que vai muito além do cumprimento de requisitos de normas e de acordos de reconhecimento mútuos, sem nenhum demérito para estes.

Leia a íntegra do artigo >>> Da relevância do acordo nuclear Brasil-Alemanha para o Inmetro

Crédito: Luiz Carlos Arigony – 26/10/2021

1 COMENTÁRIO

  1. Adorei, parece exagero, mas não é.
    Parabéns Arigony!
    Seu texto conta com veracidade o crescimento e a conquista da respeitabilidade do Inmetro.
    Você contou a história em poucas palavras de muito trabalho de uma equipe jovem, recém formados, mas com objetivo e comprometimento com o desenvolvimento e proteção da sociedade brasileira.
    Parabéns!!
    Felicidades.
    Regina Vimercati

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