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Planos de saúde disparam, e empresas vão à Justiça contra operadoras para impedir reajustes. Operadoras voltam a vender contratos individuais

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@ z_wei/iStock

Diante da previsão de aumentos recordes nas mensalidades de planos de saúde no país este ano, a queda de braço entre empresas e operadoras nas negociações de reajustes de contratos coletivos já foi parar na Justiça. Uma companhia paulista do ramo alimentício, com 129 funcionários, por exemplo, obteve no Judiciário a redução do percentual proposto de 87,97% para 8,46%.

Já uma empresa paulistana de tecnologia, com 369 empregados, busca reduzir na Justiça o aumento de 61,65% imposto pela operadora.

Os percentuais de reajustes também assustam usuários de planos coletivos para pequenas empresas e de adesão, com menos de 30 beneficiários. Os índices alcançam quase 20%.

Para planos com esse limite de participantes, cada operadora aplica um reajuste único, definido a partir da análise de risco de seus contratos com as mesmas características.

O percentual é divulgado em maio para aplicação no aniversário do contrato, como prevê a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS).

Nesses contratos, mostra relatório do BTG Pactual, a Hapvida anunciou reajuste de 16,2%, um recorde para a operadora. Já o Grupo NotreDame Intermédica terá aumento de 18,43%; a SulAmérica, de 19,4%, o Bradesco, de 19,25%.

Com a alta da inflação de mais de 11% em 12 meses, diz o banco, e o reajuste recorde previsto para planos individuais este ano — de 16,2% pela previsão do BTG —, o aumento de preço de dois dígitos deverá atingir todos os segmentos de planos de saúde.

Mariana Dias Lucon, diretora da Mercer Marsh Benefícios (MMB), pontua que, em 2021, o reajuste das operadoras para planos corporativos para médias e grandes empresas, ficou em torno de 10% a 12%. Este ano, as companhias têm falado em alta de 14% a 15%, diz ela:

— Em 2021, houve uma explosão da inflação médica em razão da retomada pós-pandemia, não apenas pelas pessoas colocarem exames em dia, mas pelo adiamento da prevenção ter demandado também procedimentos mais caros. A demanda represada veio com muita força. Este ano, a tendência é de normalização dessa inflação, voltando a patamares de 2018/2019.

Um levantamento feito pela MMB sobre a inflação médica de três milhões de usuários de planos empresariais na carteira da consultoria, aponta expectativa de um índice de 13,5% para este ano, pouco abaixo do registrado em 2019, que foi de 14,9%.

No ano passado, a Variação do Custo Médico Hospitalar (VCMH), a chamada inflação da saúde, bateu em 22,59%, após retração de 2,1% no primeiro ano de pandemia.

Cláusula de fidelidade

Pequenas empresas e grupos de adesão têm ainda mais dificuldade para negociar. Para fugir de um aumento de 80% no plano de saúde do filho este mês, num plano por adesão, a paulistana Vanessa Santos, de 36 anos, aceitou trocar de plano dentro da mesma operadora, a Central Nacional Unimed (CNU). O contrato para o qual o rapaz de 15 anos foi migrado, porém, tem reajuste anual em setembro:

— Após reclamar à Qualicorp (administradora de benefícios), ameaçar ir à Justiça, me ofereceram um contrato com mensalidade menor da mesma operadora. Agora vou aguardar o reajuste de setembro, espero não ter só adiado o problema. Aumento de 80% é abusivo — queixa-se ela.

Esse aumento foi alvo de notificação do Procon-SP à Qualicorp e à CNU pedindo esclarecimentos. Ao GLOBO, a Qualicorp diz que o reajuste em questão foi pontual e representa cerca de 0,5% do total de seus clientes, e que a média de aumento dos contratos da CNU ficou entre 6% e 12%.

A operadora informou estar prestando esclarecimentos ao Procon e que a administradora também terá de se explicar ao órgão, já que parte do percentual diz respeito à remuneração da Qualicorp.

Segundo o advogado Rafael Robba, especialista em saúde do escritório Vilhena e Silva, porém, mesmo para as grandes empresas a negociação está desequilibrada:

— Para reduzir o aumento, algumas operadoras querem impor às empresas cláusula de fidelidade de 24 meses, com multa por rompimento de contrato. Com isso, o único caminho acaba sendo a Justiça.

Na empresa paulista que obteve sentença reduzindo de 87,97% para 8,46% o reajuste, um executivo que pediu para não ser identificado diz que a cláusula de fidelidade não permitiu a troca de operadora:

— A multa era alta, tentamos negociar o aumento, mas dessa vez não sucumbimos à fidelização e fomos à Justiça.

Mariana, da Mercer Marsh Benefícios, sublinha que o índice ao fim das negociações depende de vários fatores:

— O reajuste definido no fim passa pela questão comercial, pela importância de uma marca ou empresa na carteira da operadora. Às vezes, ela precisa do cliente porque tem de ter demanda para pagar sua rede na região ou avalia participação de mercado. Pode ainda dar um desconto e pedir fidelização. Tudo vai na balança.

Para Leonardo Giusti, sócio da KPMG, a judicialização pesa para as operadoras. E o ponto não é “bater” no aumento do custo, mas investir nas ações para gestão e controle do uso do plano de saúde em contratos empresariais:

— Falta às operadoras incentivo para gerir, pois no fim, se precisar, acertam com a contratante. As empresas clientes perceberam que têm de fazer a gestão de suas populações, monitorar crônicos, investir em prevenção.

Marcos Novais, superintendente da Abramge, associação do setor, pondera que, nos anos de pandemia, entre os setores regulados, o de saúde seria o que aplicou o menor aumento. Se este ano, o reajuste dos coletivos pode ficar na casa dos 18%, segundo estimativas de bancos, diz ele, em 2021, o reajuste médio dos planos empresariais foi de 7,4% e o dos coletivos por adesão de 6,7%.

Foram os menores em sete anos, refletindo menor uso no auge da pandemia:

— Estávamos em um movimento descendente dos percentuais de reajuste nos contratos coletivos desde 2016. Há uma aceleração agora, com a pressão da alta dos insumos, que não voltaram e não voltarão aos patamares pré-pandemia, e com o aumento da sinistralidade, que levou o setor a um prejuízo operacional de quase R$ 1 bilhão no ano passado. O setor tem que se pagar.

Para Novais, altas fora da curva devem ser analisadas com cuidado, pois podem refletir condições específicas.

Procurada, a ANS disse que, apesar de não haver limite regulatório para o reajuste dos contratos coletivos, no caso de aumentos atípicos as operadoras são oficiadas a prestar esclarecimento.

Crédito: Glauce Cavalcanti e Luciana Casemiro / O Globo – @disponível na internet 06/05/2022


Planos de saúde: Com tecnologia e estratégia regional, operadoras voltam a vender contratos individuais

Atualmente, 80% dos contratos são empresariais ou coletivos. Empresas do setor, como a gigante UnitedHealth, dona da Amil, preparam ofertas
Os planos de saúde individuais estão voltando às prateleiras das operadoras. Esse tipo de contrato, cuja oferta vinha minguando há mais de uma década, deixando consumidores sem opções sobretudo nos grandes centros, surge agora com nova roupagem, oferecido tanto por empresas recém-chegadas ao mercado que usam a tecnologia para baixar custos, como por operadoras tradicionais que oferecem sua rede regional para a assistência a planos individuais.

Em 2021, havia 3.988 planos individuais à venda, o maior número em cinco anos, 125 contratos a mais que no ano anterior, que tinha sido de tímida expansão. Hoje, mais de 80% dos planos de saúde são empresariais ou coletivos.

O UnitedHealth Group avalia retomar a venda de planos individuais por operadoras do grupo, como a Ana Costa, em Santos, e a Santa Helena, em São Paulo. Ambas têm operação baseada em hospitais próprios. É o mesmo modelo da Sobam, da UnitedHealth, sediada em Jundiaí, que oferece plano individual na região.

O UnitedHealth é dono da Amil e tentou vender a carteira de 340 mil planos individuais e familiares da operadora a um grupo de investidores, em operação vetada pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). A oferta de contratos individuais por operadoras regionais do grupo seria, segundo fontes, um ensaio para retomar a venda de planos pela Amil, que é sua marca líder.

Gestão da saúde

Outras grandes empresas, dizem fontes, estão estruturando a oferta de planos individuais. Entre elas, estaria a NotreDame Intermédica. Procurada, a empresa afirma que já vende planos individuais em alguns locais estratégicos, sem dizer quais são, mas admite que o estudo da venda desses produtos em outras cidades faz parte do plano constante de expansão, sem citar prazos nem regiões prioritárias.

Marcos Novais, superintendente da Abramge, associação que reúne operadoras de medicina de grupo, diz que o crescimento na oferta de planos individuais tem sido impulsionado por novas empresas, com uso intensivo de tecnologia. São operações que, segundo ele, têm como característica o “acompanhamento 360 graus” dos usuários: 

— São empresas que trabalham de forma integrada com a rede, com dados e protocolos. Ou então têm um modelo verticalizado, de rede própria (quando a operadora do plano de saúde é também dona dos hospitais e clínicas). A principal característica é a gestão de saúde, que traz bons resultados para o consumidor e para as contas da empresa, reduzindo eventos graves, como internação, que são os mais caros.

A gestão de saúde envolve medicina preventiva, atendimento primário e acompanhamento mais próximo de pacientes crônicos, reduzindo custos de atendimentos de emergência ou ocorrência de casos mais graves. Novais vê essa mudança no setor refletida no número de operadoras associadas à entidade, com 40 novos participantes desde o início da pandemia.

Outra característica dos planos individuais nas prateleiras é a regionalização. Esse é o modelo adotado pela operadora Alice, que começou a funcionar há cerca de dois anos e tem dez mil beneficiários, todos paulistanos, dois centros de atendimento primário, com consultas e pequenos procedimentos, uma rede com 12 hospitais, 200 laboratórios, mais de 150 especialistas conveniados e 700 funcionários.

A perspectiva é de crescimento, com foco nos 12,3 milhões de moradores da cidade de São Paulo, onde ela identifica baixa oferta de planos individuais.

— Nossa meta é crescer na cidade, ampliar a oferta de tipos de produtos e a cobertura dentro de São Paulo, para atender a quem mora em diferentes regiões. Hoje, 84% dos eventos de saúde da Alice são atendidos na operação de rede própria, e a maior parte é feita virtualmente. A rede enxuta de parceiros permite integração profunda, com a possibilidade de desenvolver uma saúde baseada em valor e a integração de dados — diz Guilherme Azevedo, co-fundador e chief Health Officer da Alice.

Chat e monitoramento

Tecnologia de informação e teleatendimento estão entre os pilares da nova geração de planos individuais. A Alice, por exemplo, nasceu da parceria de Azevedo, que vinha de uma década no Dr. Consulta, com André Florance e Matheus Moraes, egressos da 99. A empresa que captou US$ 175 milhões em três rodadas de investimento, desenvolveu em casa chat, protocolos de atendimento e de gerenciamento das tarefas da equipe de monitoramento do usuário.

É uma empresa de “tecnologia raiz”, diz Azevedo. Segundo ele, isso permitiu que, em 20 meses, o preço de entrada dos planos ao público-alvo médio (profissionais liberais na faixa etária dos 30 anos) caísse de R$ 900 para R$ 580.

Preço de entrada é mais alto

O paulista Ricardo Queiroz, de 30 anos, diretor geral da Campus Party, já tinha tido plano de saúde individual e coletivo por adesão e estava sem cobertura em 2020, auge da pandemia, quando decidiu voltar à saúde suplementar.

— Tinha claro que queria um plano individual, quando achei um plano com o perfil digital fez sentido pra mim. O custo foi mais alto do que pagava no coletivo, mas ter um time de saúde que me acompanha fez muita diferença, principalmente quando tive Covid e fiquei internado em dezembro de 2020. A facilidade de falar com os profissionais, por um clique no celular, por exemplo, me levou a parar com automedicação e consultar para eventos que antes eu deixaria para lá. Além disso, ao contratar um plano individual, acabei com o risco de percentuais de reajustes abusivos — conta Queiroz, que é cliente da operadora Alice.

Tradicionalmente, os preços de entrada dos planos individuais são mais altos dos que os dos contratos de adesão e empresariais. No entanto, os reajustes anuais são limitados pela ANS, o que pode significar em alguns casos que, ao longo do tempo, os valores dos contratos coletivos possam até superar a mensalidade dos individuais.

— Plano individual esbarra estruturalmente no problema do pool (não há um grupo de consumidores por trás compartilhando um risco coletivo). Mas é um mercado regulado, com reajuste limitado, significa que seus preços e lucros são regulados, o que leva as empresas a imporem valor de entrada mais alto — explica o economista Carlos Ocké-Reis, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

Para o professor Walter Cintra Ferreira Junior, da FGV EAESP, a tecnologia racionaliza o uso e pode conter custos:

— A telemedicina é determinante. Só não podemos aceitar, a pretexto da volta dos planos individuais, o aumento da segmentação (cobertura mais restrita, excluindo procedimentos de complexidade, como quimio e cirurgias), o que é arapuca, pois significa que, quando o consumidor mais precisa, terá de ir ao SUS.

Coordenadora do programa de Saúde do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), Ana Carolina Navarrete, diz que há uma demanda reprimida do consumidor brasileiro por planos individuais:

— Apesar de o número não ser grande, mostra reversão de tendência. Os dados são suficientes para que o regulador olhe o mercado e comprove que não há problema com o modelo do plano individual, mas com a forma que ele é gerido.

1 Comentário

  1. NO DESGOVERNO FHC, COM O CONGELAMENTO SALARIAL DE NOVE ANOS DOS SERVIDOREES,TIVEMOS QUE CANCELAR NOSSOS PLANOS DE SAÚDE. AGORA, COM O DESGOVERNO BOLSONARO, E UM MINISTRO TAXANDO OS SERVIDORES DE PARASITAS,COM QUATRO ANOS DE NOVO ARROCHO SALARIAL,REPETE=SEA TRAGÉDIA. COM A AMIL NOS VENDENDO PARA UMA EMPRESA PAULISTA DUVIDOSA, COMO SEUS ESCRAVOS.BRASIL 2022.

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