A implementação do Inmetro no Brasil da década de 1970

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Mais imagens do inmetro acesse http://www.inmetro.gov.br/museu/historico-do-campus-xerem.asp

A implementação do Inmetro no Brasil da década de 1970: soberania, política desenvolvimentista e apoio alemão

 
Quase a totalidade dos países conta com um instituto “guardião” de seus pesos e medi-das, o instituto nacional de metrologia (INM).
O do Brasil é o Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia, o Inmetro, fundado em 1973. Para entender o processo de implemen-tação de um INM, é importante compreender o contexto social e econômico da época da sua fundação, assim como os agentes que proveram meios para essa empreitada.
No que diz respeito ao avanço tecnológico no Brasil, Chaves e Shellard (2005) defendem que é essencial questionar a visão comum de que fatores culturais profundamente enraizados sejam os principais responsáveis pela relativa falta de predisposição da sociedade brasileira para inovações tecnológicas.
Na realidade, os padrões observados na nossa indústria seriam herança das políticas governamentais adotadas desde o início do período de industrialização do país, no período pós-Segunda Guerra Mundial.
A busca por um desenvolvimento acelerado do Brasil na década de 1950, por sua vez, levou, na maioria dos casos, à adoção de pacotes tecnológicos estrangeiros, que ofereciam pouco espaço para o estratégico desenvolvimento de conhecimento próprio pelas então jovens empresas brasileiras.
A facilidade excessiva para a importação de tecnologia teria, inclusive, desestimulado o desenvolvimento tecnológico brasileiro na época – pois, em situações em que o país não encontrou tecnologia disponível para importação, ele conseguiu desenvolvê–la internamente de maneira eficaz e ágil.
Um exemplo foi a indústria agrícola: o país teve que desenvolver tecnologias adaptadas às características de seu solo e clima, obtendo resultados extremamente positivos.No campo da metrologia (a ciência das medições), essencial para o desenvolvimento de indústrias com tecnologia de ponta, a Europa ainda era a grande referência para os demais conti-nentes.
Tradicionalmente, seus países estiveram à frente das grandes decisões relativas aos pesos e medidas, como o Sistema Métrico Decimal (final do século XVIII) e o Sistema Internacional de Unidades (SI, 1960).
Lá também fica a sede do Bureau Internacional de Pesos e Medidas (BIPM), criado em 1889, na França, estabelecido para preservar os padrões internacionais de unidades entre seus membros.
Entre os INMs mais antigos (e atuantes) do grupo, podemos destacar os da Alemanha (1887), do Reino Unido (1900) e dos Estados Unidos (1901).
Desses, merece nota a parceria entre Inmetro e o Physikalisch-Technische Bundesanstalt (PTB) da Alemanha, instituição que forneceu treinamento, equipamentos e bolsas de pesquisas para os futuros metrologistas brasileiros.
O PTB é um dos primeiros institutos de metrologia do mundo e, ainda hoje, referência para a metrologia de muitos países, como o Brasil.
A cooperação entre o PTB e a metrologia brasileira começou oficialmente em 1967 (Kellermann, 2019). Essa relação, no entanto, foi estabelecida séculos antes: um dos primeiros documentos encontra-dos sobre a relação metrológica entre Inmetro e Alemanha é um recibo do final do século XIX, seguido por correspondência do início do século XX. Entre eles, uma ficha, em alemão, com referências bibliográficas na área de metrologia no Brasil (Coelho, 2020).
Nos anos 1970, o Brasil era embalado pelo I Plano Básico de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (I PBDCT, 1973) e pela implementação de diversas indústrias, com destaque para a nuclear, impulsionada pelo Acordo Nuclear Brasil-Alemanha (1975).
Nesse contexto, fazia sentido investir no projeto de um instituto de metrologia que atendesse a essa crescente demanda, A implementação do Inmetro no Brasil da década de 1970: soberania, política desenvolvimentista e apoio alemão utilizando o que de melhor existisse nos seus pares internacionais e que servisse, assim, de referência dentro da América do Sul.
Aline Coelho – PhD em história das Ciências e Educação Científica pela Universidade de Coímbra – chefe substituta de Comunicação no INMETRO @Linkedin

Esse instituto, o Inmetro, apesar de legalmente criado em 1973, só viria a ser efetivamente instalado após alguns anos (e percalços).

Vamos também explorar a importância, em meados da década de 1970, do Projeto Criptônio – de seleção, recrutamento e treinamento de técnicos para suprir a necessidade de recursos humanos especializados em metrologia – para os laboratórios do Inmetro, que estava em processo de implementação no estado do Rio de Janeiro.
Havia escassez de especialistas no Brasil e um grupo de instituições internacionais colaborou com expertise e recursos (Filho; Nogueira; Lourenço-Japor, 1972).
Essa jornada será dissecada nas seções a seguir.
A metrologia no Brasil
 
 
Crédito: Aline Coelho / Artigo disponível no Linkedin –  23/12/2023
 

1 Comentário

  1. Prezada Aline, parabéns pelo seu artigo sobre a Implementação do Inmetro na década de 1970. Na celebração dos 50 anos, é mais do que justo e apropriado relembrar a história dessa implementação.

    Se hoje o nosso Inmetro desfruta de grande visibilidade e reconhecimento nacional e internacional, devemos inicialmente lembrar e reconhecer o trabalho incansável dos precursores, como Moacir Reis, Armenio Lobo da Cunha e tantos outros.

    Além disso, o trabalho de todos os servidores, chefes, gerentes, coordenadores, diretores e presidentes, tanto os antigos quanto os atuais, foi fundamental para o estágio e reconhecimento atuais.

    O Inmetro surgiu em um cenário em que o mundo avançava rapidamente para se alinhar com as constantes evoluções tecnológicas. Nesse contexto, a entidade emergiu como uma peça fundamental, contribuindo para a melhoria da qualidade industrial e, acima de tudo, para atender às exigências do consumidor.

    Entre 1986 e 1990, tive a honra de ocupar a posição de presidente do Inmetro. Acompanhei de perto todo o processo e os desafios enfrentados pela instituição para estabelecer uma infraestrutura de qualidade robusta, especialmente no campo da metrologia legal, ao regular e fiscalizar uma ampla variedade de produtos.

    O Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia não apenas regula, mas também impulsiona a excelência nos padrões, fomentando a confiabilidade necessária para promover o crescimento econômico e a competitividade nos mercados nacional e internacional.

    É e sempre será muito importante que escrevam sobre o Instituto, para que a história não se perca e os novos feitos sejam sempre registrados. Parabéns!

    Masao Ito

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