Moeda norte-americana sobe mais 0,67% e atinge R$ 3,59 para venda. Mesmo com a incerteza global, o BC indica que promoverá novo corte na taxa básica de juros na próxima semana. Ações da Petrobras disparam com alta do petróleo
Com a economia global em turbulência, prejudicando os países emergentes, o dólar atingiu ontem a maior cotação dos últimos dois anos. A moeda norte-americana testou o patamar de R$ 3,61, mas terminou o dia em alta de 0,67%, cotado a R$ 3,594 para venda. Por conta de incertezas no comércio exterior e conflitos geopolíticos, os investidores buscam ativos mais conservadores para minimizar os riscos, o que diminui a atratividade do Brasil e, consequentemente, prejudica a retomada do crescimento.
A expectativa do mercado é de que a inflação dos Estados Unidos (EUA) suba devido ao aumento dos gastos do governo, da reforma tributária aprovada neste ano no país norte-americano e pelo forte aumento dos preços do petróleo. Com isso, o Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) deve elevar os juros de forma mais intensa. Na prática, como a taxa básica brasileira está no mais baixo nível da história, e o cenário interno é embaçado por incertezas com as reformas e com as eleições, os investidores migram para os EUA.
Mesmo assim, o presidente do Banco Central (BC), Ilan Goldfajn, sinalizou que pode reduzir a taxa Selic em mais 0,25 ponto percentual na próxima semana, para 6,25% anuais (veja matéria ao lado). O economista e diretor-executivo da NGO Corretora de Câmbio, Sidnei Nehme, ressaltou que os dados econômicos dos EUA estão vindo mais fortes do que o esperado, colaborando para o fortalecimento do dólar frente às demais moedas. A procura pela divisa é crescente entre os investidores, tanto que títulos do governo norte-americano de 10 anos foram vendidos em leilão com taxa acima de 3% ao ano.
“As incertezas no mercado internacional reforçam o movimento em busca de segurança, que é representada pelo títulos do Tesouro dos EUA. Por aqui, ainda não há esse movimento de saída, mas está crescendo significativamente a demanda por contratos futuros de dólar para as operações de hedge (seguro) cambial”, explicou Nehme. Para ele, é bem provável que, em agosto, no início da campanha eleitoral, a divisa norte-americana chegue a R$ 3,75.
O real ficou entre as cinco moedas emergentes que mais se desvalorizaram neste ano frente ao dólar em uma lista de 24 países. A moeda brasileira registrou queda de 7,9% no ano, ocupando a quarta colocação. O peso argentino foi a que mais se depreciou, derretendo 17,9% desde o início de janeiro. Na contramão, o peso colombiano foi a que mais se valorizou, com alta de 4,4% em 2018, conforme levantamento feito pela XP.
Na avaliação do economista Gustavo Cruz, da XP Investimentos, o mercado está testando um patamar novo para o câmbio, o que é normal quando há expectativas de alta dos juros americanos. No Brasil, a subida do dólar pode trazer efeitos positivos para os setores ligados à exportação, impulsionando a balança comercial, mas também prejudicar investimentos em bens de capital, especialmente em máquinas. O economista-chefe da Opus Investimento, José Márcio Camargo, disse que, de modo geral, o Brasil tem os fundamentos econômicos num cenário “positivo”.
“Claro, o deficit fiscal continua elevado, mas, por outro lado, nós temos uma dívida pública em reais, não mais em dólar. Isso significa que não haverá elevação do endividamento com a desvalorização do real”, observou. “Além disso, a inflação está baixa, em 2,7% no acumulado de 12 meses. As expectativas estão ancoradas”, completou. O especialista também ressaltou que o Brasil tem US$ 380 bilhões em reservas internacionais para blindar a alta do dólar.
Intervenção
Gustavo Cruz explicou, porém, que o mercado avalia se o BC vai fazer uma intervenção maior para controlar uma alta mais expressiva da moeda americana. A autoridade monetária ampliou recentemente a oferta de contratos de swap cambial, que equivalem à venda futura de dólares. “Nossa visão é que o BC pode intervir um pouco mais, mas sem mudar a direção do câmbio para cima ou para baixo”, disse. Para ele, a tendência é de que o câmbio fique em um patamar elevado até junho, quando o mercado poderá revisar ou não as apostas sobre as altas de juros do Fed. No entanto, a tendência é de um dólar mais fraco no segundo semestre.