Dados sobre desmatamento não podem ser divulgados sem passar por autoridades, diz Bolsonaro
O presidente Jair Bolsonaro defendeu nesta segunda-feira que os dados de desmatamento coletados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) não podem ser divulgados sem terem antes passado pelos ministros da área e até por ele mesmo, porque podem prejudicar o país em negociações internacionais.
Ao ser mais uma vez questionado sobre sua fala na sexta-feira, quando afirmou que os dados mais recentes —que apontaram um crescimento recorde do desmatamento da Amazônia nas primeiras semanas de julho— eram mentirosos, Bolsonaro disse que está acostumado com “hierarquia e disciplina” e que não pode “alguém lá na ponta” decidir pela divulgação. O presidente alegou que pode haver equívocos na coleta dos dados e isso prejudica o país.
“Nesse caso, como divulgou, há um enorme estrago para o Brasil. A questão ambiental o mundo todo leva em conta. Outros países que estamos negociando a questão do Mercosul, ou até acordos bilaterais, nos dificulta a divulgação desses dados. Então temos que ter responsabilidade”, alegou.
Uma das cláusulas do acordo Mercosul-União Europeia incluiu a necessidade dos países cumprirem as normas do acordo de Paris contra o aquecimento global e tem regras sobre o combate ao desmatamento. Há, entre os europeus, uma clara desconfiança em relação às políticas ambientais do governo Bolsonaro.
“O chefe do Inpe vai ser ouvido sim pelos ministros. Vamos conversar com ele porque isso não pode continuar acontecendo. É como um sargento aqui, um cabo, passar para frente uma notícia sem checar com um capitão, coronel ou brigadeiro, não está certo isso”, defendeu o presidente.
Bolsonaro afirmou que as informações sobre desmatamento podem ser divulgadas, mas “tem que passar pelas autoridades”.
“Eu não posso ser surpreendido com uma informação tão importante como essa, eu não posso ser pego de calças curtas por aí. As informações têm que chegar ao nosso conhecimento de modo que possamos tomar decisões precisas em cima das informações e não ser surpreendido”, afirmou.
Mais tarde, o porta-voz da Presidência, Otávio Rêgo Barros, negou que o governo tenha intenção de evitar a divulgação dos números do desmatamento.
“O Planalto sempre trabalha pelo princípio da transparência. A intenção do presidente é identificar desde o relatório quais são demandas e as ações prospectivas para corrigir se for o caso eventuais problemas na questão do desmatamento”, afirmou.
Bolsonaro voltou a classificar os dados mais recentes do Inpe, que apontaram uma área desmatada de mais de mil quilômetros quadrados nas duas primeiras semanas de julho, de “exagerados”.
ESCLARECIMENTOS E ORIENTAÇÕES
Em nota, o ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, Marcos Pontes, afirmou que compartilha da “estranheza” manifestada por Bolsonaro com os dados e chamou o presidente do Inpe, Ricardo Galvão, a Brasília para “esclarecimentos e orientações”.
Pontes também disse que a contestação dos dados, feita por Bolsonaro em entrevista a jornalistas de veículos estrangeiros, é normal e saudável. Ele disse que o ministério pediu ao Inpe explicações sobre os números e a metodologia aplicada.
A nota acrescenta ainda que o ministério está solicitando ao Inpe um relatório técnico completo com os resultados da série histórica dos últimos 24 meses, “assim como informações detalhadas sobre os dados brutos, a metodologia aplicada e quaisquer alterações significativas desses fatores no período”.
Na nota, Pontes também afirma ter convidado Galvão para uma conversa por ter entendido que a resposta dada pelo presidente do Inpe a Bolsonaro não correspondeu “ao tratamento esperado na relação profissional, especialmente com o chefe do Executivo do país”. Galvão classificou a atitude de Bolsonaro, que também disse que o presidente do Inpe poderia estar a serviço de ONGs, de “pusilânime e covarde”.
“Em consequência, o diretor do Inpe foi convidado pelo MCTIC para esclarecimentos e orientações. A partir dessa reunião serão definidos novos passos”, afirmou Pontes na nota.
Crédito: Lisandra Paraguassu/Reuters Brasil – disponível na internet 23/07/2019
Bolsonaro não quer impedir divulgação de dados do Inpe, diz porta-voz
O porta-voz do Palácio do Planalto, Otávio Rêgo Barros, disse ontem (22) que o presidente Jair Bolsonaro não tem o objetivo de impedir a divulgação de dados sobre desmatamento florestal pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Segundo ele, a ideia é identificar previamente as ações para lidar com eventuais problemas apontados pelo órgão.
O presidente vem desde o fim de semana criticando a divulgação de dados de desmatamento. Ele chegou a questionar a validade dos números na última sexta-feira (19), em café da manhã com correspondentes internacionais. “Com toda a devastação que vocês nos acusam de estar fazendo e de ter feito no passado, a Amazônia já teria se extinguido”, disse Bolsonaro.
Segundo dados divulgados pelo Inpe no início deste mês, o desmatamento na Amazônia Legal brasileira atingiu 920,4 quilômetros quadrados em junho, um aumento de 88% em comparação com o mesmo período do ano passado.
Em nota, o ministro da Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes, disse nesta segunda-feira que tem “grande apreço” pelo Inpe, mas compartilha da “estranheza expressa pelo nosso presidente Bolsonaro quanto à variação percentual dos últimos resultados na série histórica”. Segundo Pontes, a pasta “está solicitando ao Inpe um relatório técnico completo contendo os resultados da série histórica dos últimos 24 meses, assim como informações detalhadas sobre os dados brutos, a metodologia aplicada e quaisquer alterações significativas desses fatores no período”.
O diretor do Inpe, Ricardo Galvão, também foi convidado pelo ministério para “esclarecimentos e orientações”. Após a fala de Bolsonaro a correspondentes internacionais, Galvão criticou o presidente, em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, ao dizer que ele fez “acusações indevidas a pessoas do mais alto nível da ciência brasileira”. Ele ainda reafirmou a validade científica dos dados do instituto, que monitora áreas florestais desde a década de 1970.
Agência Brasil de Notícias 23/07/2019