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Governo destrava nomeações nos estados, e partidos do centrão são os mais beneficiados

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Ministro Luiz Eduardo Ramos já recebeu 1.044 pedidos para indicar aliados
 
 O governo do presidente Jair Bolsonaro destravou as indicações políticas para cargos federais nos estados, abandonando em definitivo o projeto daCasa Civil de um “banco de talentos” , anunciado no início do ano. Desde que assumiu a Secretaria de Governo em julho, o ministro Luiz Eduardo Ramos recebeu 1.044 pedidos de deputados e senadores para indicar aliados nos cerca de 15 mil cargos federais.

 

O balanço até agora é de 313 nomeações, 614 nomes sob análise e 430 indicações negadas, segundo uma planilha do ministro da Secretaria de Governo — os pedidos podem incluir mais de um nome. Levantamento do GLOBO mostra que, desde julho, houve nomeações no Ibama, Incra, Secretaria do Patrimônio da União (SPU), Funasa, Sesai (Secretaria Especial de Saúde Indígena), Dnit e Iphan. O governo nega que essas nomeações sejam por mero apadrinhamento político. Para Ramos, o Executivo federal está adotando “critérios republicanos”.

— O mapeamento é feito com critério, planejamento e controle, tudo dentro da transparência. É um processo sério, que atende a pedidos de parlamentares, com base em critérios republicanos — afirmou.

Para os políticos, a situação ainda não está resolvida. Contornando a negociação com partidos, o governo procurou no início do ano os coordenadores de bancadas estaduais no Congresso com uma lista de cargos à disposição nos estados. A maioria entregou sugestões, mas os coordenadores se queixam de que elas foram abandonas em detrimento de atendimentos individuais que estão acontecendo agora.

— Falaram desse negócio de banco de talentos, mas na prática isso nunca existiu. Depois, criaram a possibilidade de as bancadas conversarem por meio das coordenações e tentarem construir um entendimento — diz Juscelino Filho (DEM), coordenador do Maranhão.

No seu estado, ele diz que pouco se avançou na troca de nomeações de governos anteriores. O GLOBO conseguiu identificar 82 nomes indicados por políticos nos estados, dos quais 34 são remanescentes de governos anteriores. Os partidos predominantes são do centrão: MDB, PSD, PP, DEM, PL, SD, PROS e Republicanos somam 65 dos cargos mapeados, e o PSL apenas sete.

O partido do presidente tem sido alvo de represálias nas nomeações após a crise entre sua direção e Jair Bolsonaro. O superintendente do Ibama no Ceará indicado por Heitor Freire (PSL-CE), Júlio Aquino, foi exonerado na última quinta-feira.

— Peguei um nome técnico, de conduta ilibada e boa formação acadêmica. Obviamente, sabiam que era uma pessoa próxima a mim — diz Freire. — Acho que é um desrespeito a um deputado que tem sido fiel nas votações do governo, uma falta de habilidade política tremenda.

Em família

A proximidade familiar continua sendo um critério. Na superintendência da Funasa na Paraíba, permanece a mãe do líder da maioria na Câmara , Aguinaldo Ribeiro (PP). Rita Passos, mulher do deputado Herculano Passos (MDB-SP), vice-líder do governo, foi nomeada para a Secretaria de Inclusão Social e Produtiva Urbana em Brasília. Por fim, o deputado Gustinho Ribeiro (SD-SE) indicou a tia para dirigir a Funasa em Sergipe. Ao GLOBO, Passos justificou que a mulher foi secretária do Ministério da Saúde, na gestão de José Serra (PSDB), e que deixará o cargo em janeiro para se dedicar à candidatura à prefeitura de Itu (SP). Os outros dois deputados não quiseram comentar.

Apesar de o governo não negociar com dirigentes partidários, eles não perderam influência em seus redutos. Aliados de ACM Neto, presidente do DEM, foram contemplados na Bahia com a direção da Codeba (Companhia das Docas do Estado da Bahia) e a superintendência da Secretaria de Patrimônio da União (SPU), ambos no segundo semestre.

Líderes do centrão ouvidos pelo GLOBO negam que a demora para destravar cargos seja um fator da insatisfação que tem ameaçado as principais pautas do governo. O motivo de descontentamento é outro. Os partidos têm ameaçado obstrução até o cumprimento da promessa de pagar R$ 20 milhões neste ano em verbas a prefeituras para quem votou pela reforma da Previdência.

Ramos sustenta que a maioria dos pedidos negados se deu por falta de capacitação técnica, seguida de problemas administrativos, e, por último, por desalinhamento político. A secretaria identificou 128 casos em que o próprio indicado declinou do cargo após receber a aprovação do governo para a nomeação. O Executivo ainda mapeia quem são os padrinhos de cerca de 14 mil cargos.

 

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