Médicos vão pedir ao Ministério da Saúde afastamento da diretora do Hospital de Bonsucesso

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Médicos pedem ao Ministério da Saúde o afastamento da diretora do Hospital de Bonsucesso

Foi naquela cidade onde Luana Camargo teve sua única experiência em gestão pública, na farmácia de um posto de saúde, antes de assumir o hospital. Beserra e ela aparecem em vários posts nas redes sociais.

Na sexta-feira da semana passada, ela marcou o deputado durante brinde com espumante. A noite ainda rendeu outras publicações dos dois, com vinho e presunto. Na ocasião, Luana escreveu duas frases: “Ele disse que é meu vinho”, numa referência ao rótulo na garrafa, que tem a palavra “linda”; E “quem ama, cuida.”

Sob a influência do deputado, o Hospital de Bonsucesso parece ter virado uma grande ação entre amigos, segundo as denúncias. No ínício do ano passado, quatro ex-funcionários do gabinete do parlamentar em Brasília foram contratados.

deputado federal wilson beserra – imagem disponível na internet

Fábio Conceição, marido da cunhada do deputado, ganhou uma nova função no arquivo do hospital. Lucimar Simas, que foi secretária na Prefeitura de Seropédica, ficou com a direção administrativa.

Caio Ferreira, que doou R$ 10 mil à campanha e atuou como cabo eleitoral para o deputado, hoje é assessor da direção do hospital.

Um médico, que não quis se identificar, trabalhou 40 anos no Hospital de Bonsucesso. Ele confirma que a atual diretora foi indicada pelo deputado federal, Wilson Beserra.

“Foi o deputado Wilson Beserra e, curiosamente, vários ex-assessores parlamentares do deputado Wilson Beserra, que vieram com a Luana, que assumiram a direção geral com a Luana, são todos ex-assessores do deputado”, afirmou o médico.

Outra indicação, segundo as denúncias, foi a de Carla Reis, sobrinha da mulher do deputado Beserra. Ela trabalha na comunicação do Hospital de Bonsucesso.

Vinho e elogios: deputado Wilson Beserra e Luana Camargo, diretora-geral do Hospital Federal de Bonsucesso, tem relação estreita Foto: Reprodução

Uma conversa de Carla com o assessor de imprensa Franz Eugênio Valla, à qual o RJ2 teve acesso, mostra o nível da guerra política que se instalou no hospital. No áudio, Franz e Carla falam sobre Jorge Darze, atual presidente da Federação Nacional de Médicos, que é descrito na conversa como a pessoa que controla o vice-presidente do corpo clínico, Julio Noronha, que faz oposição à direção.

Franz diz que a diretora descobriu que a mulher de Jorge Darze trabalha numa empresa que presta serviços ao hospital e que foi demitida para pressionar o adversário político.

Franz: – Jorge Darze.

Carla: – Quem é?

Franz: – Jorge Darze é presidente da Fenam. Ele é o cara que segura a onda do Julio, segura na coleira.

Franz: – A diretora descobriu que a mulher dele trabalha aí dentro na Novario, e ganha até um extra lá… Ganha até um extra, ganha mais um pouquinho.

Franz: – Mandamos ela embora. Quando viu a carta ficou desesperado, cara. E veio, né: ‘Vamos ver se apago doutor. Você controla o Noronha, tal, não mando ela embora, não….’

Em outro trecho, Franz afirma que a atual direção quer afastar Julio Noronha.

Franz: – Vai ficar mal pra caramba pra ele, ele ta numa encruzilhada que …. A gente quer a cabeca do Noronha, quer o Noronha morto, enterrado a sete palmos.

Depois, a conversa vira para o esquema que Franz define como normal no governo federal.

Franz: – Eles agora estão no fundo do poço. Tudo que o Noronha falou, vai voltar contra eles agora. Eles não entendem nada. Eles não podem, em nenhuma hipotese ofender o sistema político (…) Essa explicação não tem nada a calhar. Até as pedras da rua, os paralelepípedos, sabem que o governo federal funciona dessa forma, os aparelhos do estado, eles pertencem aos partidos. Indicam quem eles quiserem pra ocupar os cargos de direcao. “A direção foi indicada por um politico”. Quem não sabe? A diretoria toda da Petrobras foi um político ou outro que indicou. A imprensa vai achar relevante quando for o caso de uma Petrobras, o cara ser indicado pra ser diretor de Mineração, de Petróleo, e o cara não tem nenhuma experiência em mineração. Aí, vão questionar mesmo. Vocês colocam um cara qualquer pra fazer uma coisa técnica? Agora, dirigir um hospital precisa nem ser médico, precisa nem ser profissional de saúde.

Os funcionários denunciam outros casos de suposto apadrinhamento.

Raquel Nunes da Silva Veiga, enfermeira que, segundo funcionários, foi afastada do setor de nefrologia por ser “pouco colaborativa” e “omissa quando se trata de informações para o bom andamento do serviço”, foi nomeada chefe de enfermagem da Emergência.

Em um despacho, a coordenadora de enfermagem Camila Pureza Guimarães da Silva discorda da nomeação e indica outro nome para o cargo. Como resposta, a diretora Luana Camargo afirma que Raquel é servidora de confiança, tem capacidade para o cargo e ratifica a escolha.

O Ministério Público Federal pediu informações sobre Maria Aparecida Estefani Mendes Dezero, descrita pelos funcionários como outra das mulheres de confiança da diretora Luana Camargo.

É que Maria Aparecida trabalha no hospital e na prefeitura de Nova Friburgo, e, de acordo com documentos, trabalha 40 horas semanais em Bonsucesso e 40 horas semanais na cidade serrana.

Seriam 11 horas diárias em cada lugar, sem contar o tempo de deslocamento entre o Rio e Nova Friburgo.

Na sexta-feira passada, depois que uma festa para comemorar o aniversário de 70 anos do Hospital de Bonsucesso foi invadida por funcionários descontentes, o ministro Mandetta fez uma visita à unidade e até fez elogios.

“Achei que o hospital, do ponto de vista da parte de reformas, tá limpo. O hospital tem um acabamento muito bom. Agora, tá muito longe ainda de a gente conseguir prestar o atendimento com agilidade que a população precisa. A gente quer fazer uma grande melhoria no sistema de saúde dos hospitais federais do Rio. “

Horas antes, funcionários disseram que a diretora tinha mandado abrir espaço na emergência lotada, dar alta a alguns pacientes e transferir outros para enfermarias.

“Isso aconteceu nessa sexta-feira agora, isso aconteceu quinta-feira à noite, com o colega que estava de plantão, que disse que desceram clínicos, outros médicos que nem eram da Emergência, pra dar alta pra outros, pra pacientes, pra esvaziar a Emergência antes da festa que ia ocorrer. E a imprensa ia estar aqui, e o ministro provavelmente ia estar aqui, eles quiseram esvaziar a emergência, que está sempre lotada e trabalhando com mais do que a sua capacidade de atendimento”, denunciou um funcionário que não quis se identificar.

Os funcionários denunciam ainda que a unidade coronariana do hospital está fechada há tempos.

A carta do corpo clínico do hospital de Bonsucesso será entregue na terça-feira (15) ao ministro Luiz Henrique Mandetta, durante uma a audiência em Brasília.

Na semana passada, o ministro prometeu um choque de gestão nos seis hospitais federais que funcionam no Rio. E a criação de uma força-tarefa para investigar desperdícios na área da saúde. O Hospital de Bonsucesso, segundo o ministro, deveria ser o primeiro da lista.

Em nota, a direção do hospital afirmou que as questões de gestão clínica e produção vão ser avaliadas pelo governo federal.

O Ministério da Saúde informou ter criado uma força-tarefa para verificar as condições dos hospitais.

Crédito: Ari Peixoto/RJ2/Portal do G1 – disponível na internet 15/01/2019

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