Colega de Bolsonaro em quartel e comandante no Haiti: o que se sabe sobre o general Ramos, que substituirá Santos Cruz no governo

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Até agora comandante militar do Sudeste, o general de Exército Luiz Eduardo Ramos Baptista Pereira ocupará a partir dos próximos dias uma cadeira no Palácio do Planalto: será o novo titular da Secretaria de Governo, substituindo o general Carlos Alberto dos Santos Cruz, demitido pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL).

Filho também de um militar do Exército, Ramos nasceu no Rio de Janeiro e tem 63 anos – fez aniversário neste dia 12, véspera do anúncio de sua nomeação para o ministério.

A pasta é um dos cargos-chave do governo, controlando áreas estratégicas como a comunicação do Planalto e o Programa de Parcerias de Investimentos (PPI). Santos Cruz estava na pasta desde o início do governo Bolsonaro.

Já o novo ministro começou sua trajetória no Exército em 1973, na Escola Preparatória de Cadetes do Exército, sediada em Campinas (SP). Neste mesmo ano, Bolsonaro também estudava ali – mas, em 1974, o atual presidente foi seguiu para a Academia Militar das Agulhas Negras (Aman), em Resende (RJ).

Na Aman, eles também foram contemporâneos – Ramos se formou aspirante a oficial dois anos depois de Bolsonaro, em 1979.

Em um evento em São Paulo no mês de março, Bolsonaro agradeceu a presença do general referindo-se a ele como “Ramos” e “meu colega de turma na Escola Preparatória de Cadetes do Exército”.

De acordo com o deputado estadual em SP Coronel Telhada (PP), Ramos e Bolsonaro cultivaram desde a década de 70 uma amizade e “se conhecem bem”. Telhada se aproximou do general desde que este assumiu, em 2018, o Comando Militar do Sudeste, que abrange todo o Estado de São Paulo.

Neste posto, Ramos esteve à frente da Operação Ruptura, em que militaresatuaram para desobstruir estradas durante a greve dos caminhoneiros, em maio daquele ano.

“É uma pessoa muito culta e bem relacionada, fácil de conversar e entender as pessoas. Mesmo em um posto muito alto no Exército, ele fez questão de nunca se afastar das tropas”, descreveu o deputado à BBC News Brasil por telefone. “Foi também assessor parlamentar do Exército, o que é muito bom para a articulação política”.

Nessa época, circulava pelos gabinetes dos parlamentares e tinha boa relação sobretudo com os integrantes da Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional, tanto da esquerda quanto da direita.

O novo ministro é ativo no Twitter, onde tem uma conta desde 2012 e posta imagens e textos sobre sua agenda.

Em 31 de março desde ano, data dos 55 anos do golpe militar no Brasil, Ramos escreveu: “55 anos passados!! Todos nós temos que ter a grandeza de reconhecer o passado, tirarmos lições e acima de tudo olharmos para o Futuro de nosso Brasil com desenvolvimento , paz social e bem estar de seu povo !!”.

Em visita à Roraima, na região fronteiriça, falou na assistência dada aos “irmãos venezuelanos”; na comemoração da páscoa, explicitou sua fé: “Momento de louvar e agradecer a Deus por tudo que recebemos em nossas vidas, e principalmente lembrar o sacrifício de Jesus na cruz do calvário para salvação da humanidade !!!”.

Missão no Haiti

Na carreira militar, Ramos foi para o exterior como adido militar em Israel e como comandante da Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti, entre 2011 e 2012.

Ele era general de divisão quando foi para o país da América Central, posto anterior ao de general quatro estrelas. Quando voltou ao Brasil, recebeu sua quarta estrela, tornando-se general de exército e passando a integrar o Alto Comando da força.

Em território nacional, o carioca já assumiu postos em Pelotas (RS), como comandante da 8ª Brigada de Infantaria Motorizada; em Brasília (DF), como comandante da 11ª Região Militar; e Rio de Janeiro, no Departamento de Educação e Cultura do Exército e na chefia do Estado-Maior da Brigada de Infantaria Paraquedista.

Um militar que conviveu com ele no período de formação da Academia Militar das Agulhas Negras (Aman) lembra seu período como comandante da Seção de Instrução Especial da escola de formação de oficiais do Exército.

“A seção expõe o cadete a situações extremas de cansaço, de estresse emocional e físico, para testar o militar, identificar suas fraquezas e exercitar o controle das emoções, para que no futuro ele saiba comandar da melhor forma”, descreve o militar. “Em sua época no comando, o general Ramos implantou várias novidades, e a principal delas foi aumentar a carga do treinamento antes de toda missão que os cadetes tinham que realizar, treinando-os exaustivamente até chegar a perfeição. O seu lema era: ‘treinamento difícil, combate fácil'”.

Descreve-o como um militar de perfil “operacional”, “muito exigente e muito competente”, e com a carreira pautada pela excelência – tanto que conquistou as quatro estrelas de general.

General Ramos também comandou a 1ª Divisão de Exército no Rio de Janeiro, onde fica a Vila Militar em Deodoro, na zona oeste, em um período de grande visibilidade para o posto.

Além de a divisão ter o maior corpo militar do Brasil, o general ocupou o cargo durante as preparações para os Jogos Olímpicos do Rio, acompanhando a construção das instalações no Complexo Esportivo de Deodoro e comandando a segurança da área.

“Ele tinha muitas responsabilidades porque a Vila Militar era muito usada para os preparativos para a Copa do Mundo e Olimpíadas, porque tinha espaço para realizar simulações e treinamentos de segurança”, diz um conhecido que prefere não se identificar.

“Ele é uma pessoa afável, bom de trato, o tipo de pessoa que conversa com todo mundo”, afirma. “E tem um estilo alegre carioca.”

O traço ficou evidente durante a ocupação de um morro no Rio. O general subia comandando a tropa em meio a um clima tenso, as ruas vazias, todos os moradores se fechando em casa. Pelo rádio, recebeu a mensagem de que a banda militar havia chegado no asfalto. A princípio, se zangou. Para quê banda naquela situação?

Mas teve um estalo, fez os músicos subirem o morro, e mandou que tocassem o hino do Flamengo. E depois do Vasco. E depois dos outros times. “Os moradores foram saindo para a rua e foi uma festa”, diz o conhecido. “Ele é criativo.”

Manifestação em contexto eleitoral

A volta a Brasília no governo Bolsonaro não será uma estreia do general na aproximação de pautas quentes da política. Em julho do ano passado, ele se manifestou durante solenidade do aniversário do Comando Militar do Sudeste no contexto eleitoral e véspera de julgamento, no Supremo Tribunal Federal (STF), de um habeas corpus impetrado pela defesa do ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva.

O julgamento representava a possibilidade de revisão, pelo Judiciário, da autorização para a prisão após condenação em segunda instância.

“Não podemos transigir com as leis vigentes, buscando atender a interesses pessoais ou até mesmo político-partidários. Todos nós, militares ou civis, estamos sob o jugo do império da lei”, disse o general na época, segundo reportagem do jornal O Estado de São Paulo.

Na ocasião, Ramos fez deferências ao general Eduardo Villas Bôas, hoje assessor do Gabinete de Segurança Institucional.

No Twitter, o novo ministro também costuma registrar encontros com comunicadores e figuras públicas. Foi o caso de um encontro com a jornalista Mônica Waldvogel e o apresentador Ratinho – descrito com exaltação, como “um dos grandes comunicadores de nosso tempo !!”.

Em sua conta, Ramos também comemorou encontro em maio com o ex-ministro da Defesa na gestão Dilma Rousseff (PT) Aldo Rebelo: “Oportunidade de relembrar bons momentos e conversar sobre Brasil, com alguém com profundo nacionalismo e amor ao nosso País”.

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