Maia articula com líderes da Câmara emenda para anistiar caixa dois; não há acordo para votação.

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PT reage à manobra, que pega carona no projeto das dez medidas anticorrupção para livrar da punição investigados na Lava Jato. Silvio Costa critica o relator, Onyx Lorenzoni: “Esse parecer já foi e voltou por falta de firmeza do relator. Não sabe o que está fazendo”  

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), tenta, junto aos líderes partidários da base, votar emenda que prevê anistia à prática de caixa dois eleitoral. A medida pode livrar, principalmente, parlamentares alvos da Operação Lava Jato. A ideia é a apresentação de uma emenda que, apresentada em meio às discussões quando o texto estiver em votação no plenário, possa ser rapidamente aprovada pela maioria dos deputados.

O assunto foi um dos impasses para a elaboração do relatório final, em discussão em comissão especial da Câmara, ao projeto de lei (PL 4850/16) que  visa endurecer o combate à corrupção – encabeçado pelo Ministério Público Federal em conjunto com representantes da sociedade civil, o pacote de dez medidas contra a corrupção está em tramitação na Casa desde março e, depois do avanço da Lava Jato, tem mobilizado parlamentares no Congresso.

A intenção do presidente é colocar a proposta para ser votada na ordem do dia de plenário já nesta quarta (23), como emenda ao pacote de medidas anticorrupção. O dispositivo acordado entre Maia e líderes inclui na legislação a anistia – ou seja, a imunidade contra punições – àqueles candidatos que receberam doações, contabilizadas ou não, de valores, serviços e bens para atividades eleitorais e partidárias exercidas até a decretação de vigência da nova regra. O texto alternativo abre brecha para proteger muitos dos alvos da Lava Jato – reservadamente, eles alegam que, com a nova tipificação do crime, não podem ser submetidos às sanções dele decorrentes, uma vez que a lei não pode retroagir para prejudicar.

Rodrigo Maia e líderes partidários pretendem aprovar o texto extra em plenário simbolicamente, sem registro nominal de votos. O procedimento, previsto no Regimento Interno da Câmara, evita que a imagem dos deputados seja ainda mais desgastada, uma vez que mantém em segredo os votos de cada deputado.

Mais cedom durante a reunião da comissão especial, Carlos Marun (PMDB-MS), ficou exaltado ao explicar que, caso a Câmara crie o crime de caixa dois, políticos investigados pelo ato ilícito antes da promulgação da legislação serão anistiados. “Não há como nós avançarmos o trabalho dessa comissão sem nos atermos à verdade. Se você cria um crime hoje de caixa dois, esse crime não pode retroagir, é só daqui para frente. Quem for contra isso, tenha a hombridade de votar contra a criminalização do caixa dois. Se nós aprovarmos aqui a criminalização do caixa dois, não vai poder retroagir”, ressaltou o deputado.

Segundo o site da Folha de S.Paulo, o acerto foi alcançado em almoço realizado nesta quarta-feira (23) reunindo as lideranças, na residência oficial da Presidência da Câmara, em um bairro valorizado de Brasília. Para ser sacramentado com ampla maioria, o acordo carece apenas de aval das bancadas partidárias, conjuntamente. O problema, para Maia e aliados, é que há resistência por parte de partidos como o PT.

Por meio de nota, com sete itens e 26 signatários entre 58 deputados, a legenda diz condenar a manobra. “Queremos repudiar qualquer tentativa de anistia ao caixa dois, que se pretenda, como penduricalho, agregar a estas medidas contra a corrupção. Entendemos que seja este um dos objetivos do golpe: ‘estancar a sangria’, nas palavras de um dos golpistas; proteger deputados que votaram pelo impeachment da presidenta Dilma e que podem ser envolvidos com este crime eleitoral nas investigações em curso”, diz trecho da nota, em referência às palavras do líder do governo no Congresso, senador Romero Jucá (PMDB-RR), gravadas pelo ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado e reunidas nas investigações da Operação Lava Jato.

Câmara dos Deputados

Maia costurou acordo com líderes em almoço na residência oficial da Câmara

Divulgado em maio, três meses antes do impeachment de Dilma, o diálogo mostra Jucá sugerindo a Machado que uma “mudança” no governo federal resultaria em um pacto para “estancar a sangria”provocada pela Lava Jato, que investiga ambos.

Prorrogações

Depois de mais de 13h de reunião na comissão especial da Câmara, Onyx Lorenzoni (DEM-RS) apresentou novo substitutivo – previsto para ser votado ainda hoje (quarta, 23) – do qual retirou três medidas que, de acordo com o deputado, serão enviadas para outro colegiado especial (o que analisa o Projeto de Lei 8045/10, para alterar o Código de Processo Penal). Até hoje, três sessões de votação do relatório foram adiadas para que o parecer sofresse alterações.

Agora, deixam de fazer parte do parecer mudanças relativas aos recursos protelatórios, ao uso de provas ilícitas e à prisão preventiva para o caso de investigados suspeitos de dissipar bens adquiridos por meio de corrupção. No substitutivo anterior, Lorenzoni tinha previsto que o juiz teria no máximo 20 dias para decidir sobre recursos, depois de pedir vista do processo. E que poderia negar o pedido se verificasse se o recurso era meramente protelatório. Em relação ao uso de provas ilícitas, que era permitido no projeto original enviado ao Congresso pelo Ministério Público, Lorenzoni havia chegado a um meio termo, que considerava inadmissíveis provas obtidas por meios ilícitos.

Mais cedo, Silvio Costa (PTdoB-PE) fez duras críticas às idas e vindas do texto apresentado pelo relator: “Esse parecer já foi e voltou, foi e voltou, foi e voltou por falta de firmeza do relator. Ele não sabe o que está fazendo, está jogando com a opinião pública”. O relatório, com 111 itens, foi entregue aos membros da comissão às 20h30 desta quarta-feira (23).

Crédito: Congresso em Foco – disponível na web 24/11/2016

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