Michel Temer vai marchar para os nove meses finais de seu mandato com uma equipe de segunda divisão

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Até 2010, o principal afazer do carioca Marcos Jorge Lima era ser uma espécie de faz tudo do presidente da Assembleia Legislativa de Roraima, o deputado estadual Mecias de Jesus (PRB), de quem se tornara assessor parlamentar oito anos antes. “Um amigo me apresentou o Marcos Jorge, eu gostei muito da conversa dele e o contratei”, disse o deputado. “Ele me acompanhava aonde eu ia, era meu conselheiro número um.” Enquanto cuidava de projetos de lei e das atividades políticas do parlamentar, Marcos Jorge, graduado em administração legislativa pela Universidade do Sul de Santa Catarina, aproveitou para dar uma lustrada no currículo. Fez cursos de “etiqueta protocolar profissional e social” e de comunicação oratória. Em 2010, ele teve a ideia de criar um grupo chamado G8, que reuniu pequenos partidos, como o PRB, e lançou candidatos ao Senado, à Câmara dos Deputados e à Assembleia Legislativa de Roraima. Iniciou aí uma fulgurante ascensão política que o levou em 2013 à Superintendência do Ministério da Pesca em Roraima; no ano seguinte, à Secretaria de Cultura de Roraima; e em 2016 à Secretaria Executiva do Ministério do Esporte, quando a pasta foi entregue pela então presidente Dilma Rousseff a George Hilton, pastor da Igreja Universal e deputado federal pelo PRB de Minas Gerais.Um ministério inexpressivo no fim do governo Temer
Depois do dia 7 de abril, a Esplanada dos Ministérios em Brasília estará repleta de nomes desconhecidos (Foto: Ueslei Marcelino/Reuters)
Depois do dia 7 de abril, a Esplanada dos Ministérios em Brasília estará repleta de nomes desconhecidos (Foto: Ueslei Marcelino/Reuters)

Até 2010, o principal afazer do carioca Marcos Jorge Lima era ser uma espécie de faztudo do presidente da Assembleia Legislativa de Roraima, o deputado estadual Mecias de Jesus (PRB), de quem se tornara assessor parlamentar oito anos antes. “Um amigo me apresentou o Marcos Jorge, eu gostei muito da conversa dele e o contratei”, disse o deputado. “Ele me acompanhava aonde eu ia, era meu conselheiro número um.” Enquanto cuidava de projetos de lei e das atividades políticas do parlamentar, Marcos Jorge, graduado em administração legislativa pela Universidade do Sul de Santa Catarina, aproveitou para dar uma lustrada no currículo. Fez cursos de “etiqueta protocolar profissional e social” e de comunicação oratória. Em 2010, ele teve a ideia de criar um grupo chamado G8, que reuniu pequenos partidos, como o PRB, e lançou candidatos ao Senado, à Câmara dos Deputados e à Assembleia Legislativa de Roraima. Iniciou aí uma fulgurante ascensão política que o levou em 2013 à Superintendência do Ministério da Pesca em Roraima; no ano seguinte, à Secretaria de Cultura de Roraima; e em 2016 à Secretaria Executiva do Ministério do Esporte, quando a pasta foi entregue pela então presidente Dilma Rousseff a George Hilton, pastor da Igreja Universal e deputado federal pelo PRB de Minas Gerais.

Em Brasília, Marcos Jorge poliu ainda mais seu portfólio. Em 2016, fez um mestrado em administração no Instituto de Direito Público, do ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF). No mesmo ano, na virada do governo de Dilma Rousseff para o de
Michel Temer, transferiu-se do Esporte para a Indústria, Comércio Exterior e Serviços, quando a pasta foi entregue ao presidente do PRB, Marcos Pereira. Em 2017, foi promovido a secretário executivo do ministério e incluiu em seu currículo o curso Leadership and Innovation in Contexts of Change (Liderança e Inovação em Contextos de Mudanças), promovido pela Harvard Kennedy School, a escola de governo da Universidade Harvard, nos Estados Unidos, em parceria com a Escola Nacional de Administração Pública, em Brasília. O pomposo nome refere-se a um curso de quatro dias com carga horária de 24 horas.

Aos 38 anos, Marcos Jorge está no ápice de sua carreira política. Desde a saída de Marcos Pereira, em fevereiro, virou ministro interino. De Roraima, Marcos Jorge deu um salto para o mundo. Passou a participar das complexas negociações para um acordo de livre-comércio entre a União Europeia e o Mercosul. Na semana passada, estava em Londres para ter encontros com o ministro do Comércio Exterior do Reino Unido, Liam Fox, e participar da reunião do Comitê Conjunto Econômico e Comercial Reino Unido-Brasil. Para ficar no ministério, Marcos Jorge desistiu da pretensão de disputar uma vaga de deputado estadual em Roraima.

A ascensão de Marcos Jorge ilustra o que deve ser a última reforma ministerial do governo Michel Temer, rumo a seu final de mandato. Pelo menos sete ministros devem deixar o cargo. A mexida foi deflagrada com a confirmação da saída de Henrique Meirelles do Ministério da Fazenda no dia 7 de abril, para tentar viabilizar uma candidatura à Presidência da República. O preferido da equipe econômica para suceder a Meirelles no cargo é o secretário executivo Eduardo Guardia, o segundo da Fazenda. Se confirmado, Guardia deverá fazer companhia a outros integrantes do segundo e terceiro escalões da máquina federal em vias de promoção — por simples falta de melhores opções. Se algum dia sonhou com um ministério de Pelés, Temer deverá se conformar em marchar com uma equipe de “subs do sub” em sua anunciada campanha em busca da reeleição. O Palácio do Planalto tem um discurso pronto para justificar esse ministério de segunda divisão. “Notáveis são aqueles que têm competência de fazer avançar as políticas e ações do governo. Tivemos, temos e teremos um ministério de notáveis”, disse o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Carlos Marun.

A cerca de 2 quilômetros do Ministério da Indústria e Comércio Exterior, o Ministério do Trabalho abriga outro exemplo de secretário executivo que virou ministro interino e foi ficando, ficando e deve permanecer no cargo até o final do mandato de Temer. A principal credencial do ministro do Trabalho em exercício, Helton Yomura, não são seus conhecimentos na área de relações de trabalho, mas sua capacidade de se equilibrar entre os dois grupos políticos do ptb que controlam a pasta: o do presidente da legenda, Roberto Jefferson, e o do líder na Câmara, o deputado Jovair Arantes (GO). Ex-superintendente regional do Ministério do Trabalho no Rio de Janeiro, Yomura está no comando da pasta desde janeiro, quando Ronaldo Nogueira deixou o cargo. Como o governo perdeu a batalha pela nomeação da deputada Cristiane Brasil, filha de Jefferson, Yomura deve agora ser efetivado no ministério, com o apoio do presidente do ptb.

A curta gestão de Yomura tem sido marcada pelos escândalos na pasta que envolvem apadrinhados de Jovair Arantes. O caso que teve maior repercussão, divulgado por O Globo, foi o do jovem Mikael Tavares Medeiros, de 19 anos, originário de uma família de políticos ligados a Jovair, nomeado em dezembro para coordenar e autorizar os pagamentos da pasta a fornecedores, que giram em torno de R$ 473 milhões por ano. Mikael acabou sendo exonerado por Yomura, mas quem anunciou a demissão foi Jefferson em sua conta do Twitter. O ministro interino é réu pelo crime de roubo de energia elétrica — o famoso gato. De acordo com ação aberta pela Justiça do Rio, Helton Yomura era sócio da empresa Fimatec, de venda e aluguel de empilhadeiras e peças para máquinas, com Baldomero Simões Abreu. Os dois foram condenados a ressarcir R$ 818,86 à concessionária de energia Light. A defesa da Fimatec alegou que o problema foi provocado por um acidente com um caminhão de terceiros numa rua de acesso à empresa, que ocasionou a queda de um poste e de um medidor de energia. Solicitada, a Light teria reposto o poste, mas não o medidor. O valor cobrado pela Light, inicialmente de R$ 25 mil, acabou sendo arbitrado em R$ 818,86. A assessoria do ministro disse que “o juízo decidiu pela extinção da punibilidade e arquivamento do processo”.

Helton Yomura virou ministro do Trabalho depois que a Justiça barrou a indicação de Cristiane Brasil para o posto (Foto: Divulgação/Ministério do Trabalho)
Helton Yomura virou ministro do Trabalho depois que a Justiça barrou a indicação de Cristiane Brasil para o posto (Foto: Divulgação/Ministério do Trabalho)

Assim como Jefferson diz que Yomura é “ótimo técnico”, o ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes Ferreira, é só elogios a seu parceiro de negociações comerciais, Marcos Jorge Lima. “Marcos Jorge tem excelente formação intelectual, conhece o ministério a fundo, lidera uma equipe que toca de ouvido. Tem sido um parceiro precioso nas negociações dos acordos em que estamos empenhados”, disse o chanceler a época. Ex-secretário executivo da Câmara de Comércio Exterior e nome volta e meio lembrado para o Minitério da Indústria e Comércio Exterior, o empresário Roberto Giannetti da Fonseca disse que não conhece o atual ministro, mas relevou sua pouca experiência na área. “A equipe técnica do ministério é muito boa”, disse ele. “É lógico que a figura do ministro é importante, mas não adianta ter um ministro altamente qualificado se não for amparado por uma equipe que sabe o que precisa fazer. Esse pessoal vai poder ajudá-lo a tomar decisões certas.” O deputado Mecias de Jesus, o primeiro padrinho político de Marcos Jorge, prevê futuro ainda mais brilhante para seu ex-assessor. “Ele está capacitado para exercer qualquer cargo no país, até de presidente da República. Já tivemos Lula na Presidência. Por que não podemos ter Marcos Jorge?”

Marcos Jorge refutou ser um “inotável”: “Consideramos notável aquele que apresenta resultados, que atinge objetivos e que torna melhor a vida da coletividade. O cliente do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços é o setor produtivo brasileiro, cuja satisfação com nossa gestão, à qual dou continuidade, é celebrada”.

Crédito: Maria Lima e Daniel Gullino/ Revista Época – Disponível na internet 30/03/2018

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