Corrupção provoca desabastecimento no Into

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A corrupção tem prejudicado a saúde de quem precisa de cirurgias ortopédicas no Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia (Into). Com dois ex-diretores presos e seus principais fornecedores de próteses e órteses investigados pela Operação Fatura Exposta, um braço da Lava-Jato, a unidade — que responde por 60% das operações ortopédicas da capital — vem sofrendo com o desabastecimento. As empresas estrangeiras que forneciam os insumos e são suspeitas de participarem do esquema de corrupção flagrado pela Polícia Federal retiraram seus representantes do Brasil. As brasileiras, também investigadas, não têm conseguido suprir a demanda de material do hospital. Por causa disso, a fila de pacientes à espera de cirurgia não para de crescer: já são 12 mil.

Na 459ª posição na fila, o eletricista Gilmar da Cruz Santos, de 38 anos, que sofre de artrose no quadril, precisa de uma prótese bilateral. A doença foi diagnosticada há dois anos e se agravou em função da demora para a cirurgia no Into. Hoje, Gilmar, que trabalhava na construção civil, mal consegue andar. Precisa do apoio de muletas

— A dor só piora, não sei quando nem se vou conseguir fazer minha cirurgia. Já fiz risco cirúrgico duas vezes, mas não consigo resolver — reclama Gilmar.

Imagens feitas pela defensoria Pública da União em vistoria realizada no dia 22 de novembro no Into: almoxarifado desabastecidoFoto: Divulgação
Imagens feitas pela defensoria Pública da União em vistoria realizada no dia 22 de novembro no Into: almoxarifado desabastecido Foto: Divulgação

Uma vistoria realizada na quinta-feira no Into por uma comissão formada por representantes da Defensoria Pública da União e do Conselho Regional de Medicina (Cremerj) revelou a penúria por que passa a unidade. No almoxarifado, as prateleiras onde deveriam estar guardadas próteses de ombro e de joelho estão vazias. Nas destinadas ao material de coluna e quadril, foram encontrados apenas conjuntos incompletos, que não atendem às necessidades da maioria dos pacientes.

— A situação é muito grave. O Into tem um orçamento de R$ 170 milhões e é referência em ortopedia em todo o país. A direção tem que apresentar um plano de ação para abastecer a unidade, responsável por 60% das cirurgias ortopédicas do município e 40% do estado — diz o defensor público da União Daniel Macedo, que pediu à Justiça que seja dado ao governo federal um prazo de quatro meses para que ele resolva o desabastecimento.

A produção do Into vem sendo acompanhada desde 2014 pela Defensoria Pública e pelo Ministério Público da União. Os dois órgãos ingressaram com uma ação civil pública para tentar agilizar a fila e conseguiram que a Justiça estabelecesse, em 2015, uma série de metas de cirurgias a serem cumpridas pelo hospital. O último relatório de resultados apresentado pelo instituto (de julho a setembro de 2018) mostra queda no número de procedimentos, principalmente nos que dependem do uso de próteses.

De acordo com a meta estabelecida judicialmente, até setembro o Into deveria ter realizado 1.214 cirurgias de joelho, mas fez apenas 593 (49% do que deveria). O relatório aponta que, nesse mesmo período, foram feitas 331 operações de ombro, apenas 69% da meta estabelecida (477). Quanto aos procedimentos de quadril, como o que Gilmar precisa, o Into afirma ter feito 506 cirurgias, abaixo da meta de 1.125 até setembro.

O Into informou que as compras e contratos vigentes foram suspensos em dezembro de 2017 para revisão por conta da Operação Fatura Exposta. Em nota, afirmou que, em parceria com o Ministério da Saúde, abriu novos processos licitatórios Alegou ainda que realizou 6.783 cirurgias até outubro.

Crédito: Flávia Junqueira/O Globo – disponível na internet 24/11/2018

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